As sequências de De Volta Para o Futuro


Sequências não tem lá sua boa fama. Quantas vezes não ouvimos dizer que a continuação de um filme que amamos se mostrou uma [desculpem] bosta? É muito raro ouvirmos elogios a um número II, e é triste como nos decepcionamos… particularmente, excluo de críticas, sequências de filmes baseados em livros; Câmara Secreta foi melhor que Pedra Filosofal… O Retorno do Rei foi… ah, sei lá, não tem como dizer que um Senhor dos Anéis foi melhor que outro… mas no geral… bem, sequências são ruins. O que virou Efeito Borboleta? Um monte de viagenzinhas sem sentido e simples, perdendo toda a complexidade do primeiro volume. Grease 2? Não chega nem aos pés do primeiro…
E isso é uma das maiores características de Hollywood… a busca por lucro, que nos presenteia com uma sequência qualquer que denigre a imagem do primeiro.
Mas… [sempre tem um mas]
Nem sempre é assim; temos algumas [raras] exceções, e devo dizer que De Volta Para o Futuro é uma delas. E não sou só eu quem digo (sou muito fã, vocês podem não acreditar em mim, sei lá), mas dêem uma pesquisada: vocês provavelmente encontrarão a informação de que nenhum outro filme teve DUAS sequências tão boas quando BTTF, que teve mais dois filmes na franquia, mas ambos tão bons quanto o primeiro.
Sim, eu gosto mais do primeiro. Mas só porque ele é o primeiro e me encanta. Mas o dois e o três são também maravilhosos, e não é um daqueles filmes que eu assisto e penso “Nossa… preferia que não tivesse uma sequência”, mas sim aquele filme que assisto e penso “Eles são bons”.
Porque Robert Zemekis e Bob Gale foram muito bons no que faziam; conseguiram criar mais história para algo finalizado, mas sem contradizer o primeiro filme, e ainda assim ser muito inteligente, extremamente complexa, gerando filmes com ainda mais conteúdo do que o primeiro (por várias vezes vemos sequências muito mais fracas, já disse isso?).
E assim como eles foram ótimos escrevendo, os atores merecem os parabéns em reprisar seus papéis; muitos foram muito mais exigidos em BTTF II, como Michael J. Fox que interpretou três papéis (e o Marty em duas idades distintas); Christopher Lloyd ainda é o Doc que conhecemos e amamos; cito os dois, como protagonistas, mas todos estavam ótimos – é, menos Crispin Glover, que não voltou como George McFly, por querer demais. É isso o que acontece. Crispin se acha inteligente? Bob e Robert são mais. Não quer voltar? Beleza, escrevemos o filme sem você.
E começando pela Parte II, tivemos um filme fantástico, repleto de conteúdo, e referências ao próprio De Volta Para o Futuro. Não foi simples pensar em tudo aquilo. Temos um filme se iniciando onde o primeiro parou (sendo que tudo não passava de uma brincadeirinha, na época em que o primeiro fora escrito), e toda a sequência do futuro; mas o filme não é simples, não se resume a isso. Temos o Almanaque de Esportes, Biff roubando a máquina, Biff jovem tornando-se rico, o 1985 alternativo, a volta para 5 de novembro de 1955, os 4 DeLoreans; dois Martys, dois Biffs, dois Docs; e eu amo cada cena em referência ao primeiro. Amo ver personagens se encontrando em tempos diferentes; temos o Baile Encantamento Submarino, um trecho de Johnny B. Goode, o soco de George em Biff, a mão de Marty, o roubo do Almanaque, a tempestade de raios, o acidente com Doc, o correio em posse de uma carta a 70 anos, o Doc de 1955 e seu “Great Scott”.
Então eu só pergunto: como não amar um filme desse?
Indo por partes, devo dizer que o futuro me fascina, sempre gostei desse tipo de coisa; tá, em 2015 ainda não teremos carros voadores e etc, mas não pode ser negado que BTTF acertou algumas [várias] coisas (como o almanaque, o campeonato de 1997… deixa pra lá). Novamente temos Marty se dirigindo a uma lanchonete ao chegar, temos Marty e Marty Jr. juntos na mesma cena; temos Elijah Wood tentando jogar videogame! Novamente a provocação de Biff, a perseguição, agora na hoverboard, mas sem finalização em esterco (que fica para o fim do filme dessa vez, como no III); temos a fantástica fala do Biff mais velho: “Há algo de muito familiar em tudo isso”.
Depois de termos um futuro cheio de informações, temos um novo 1985, e a famosa cena do “Mãe, é você?”. Isso é BTTF! O novo 1985 tem um ar sombrio e tudo o mais, mas eu o adoro. Sem contar que as explicações de Doc sobre o que deve ter acontecido me fascinam (algumas pessoas podem achar que está começando a ficar complicado – definitivamente é mais complexo que o I –, mas é por isso que eu amo tanto; os discursos de Doc são os melhores!); gosto de ver a reação de Marty quando descobre que o pai morreu (e, de novo, Michael de parabéns).
E no terceiro ato do filme, temos 1955 novamente, e ótimas tiradas como “Parece que estive aqui ontem”, com a resposta “Mas você esteve aqui ontem”. Podemos ver duas versões de Biff, Doc e Marty; podemos ver toda a história do primeiro volume se desenrolar bem em frente aos nossos olhos, mas não podíamos imaginar que tinha tanta coisa acontecendo escondido; que Marty corria perigo enquanto tocava Johnny B. Goode.
Eu, pessoalmente, gosto demais da cena final. Acho fabuloso ver Doc desaparecer no passado, e logo o correio chegar, com a carta em seu poder a 70 anos; é muito inteligente, e o papo da aposta se o Marty realmente estaria ali naquela noite é fantástica! É bom rever Doc ajudando o primeiro Marty a voltar para 1985; melhor ainda é ver o Marty do segundo filme chegar correndo; o diálogo é ótimo:
-Mas eu acabei de mandar você de volta para o futuro.
-Eu sei, Doc, eu sei. Mas eu voltei. Eu voltei do futuro.
-Great Scott!
E o desmaio. O filme acaba fantástico, com os famosos dizeres de “Continua…”. E é aí que temos o início da parte III, com a reprise dessa cena de que tanto gosto, para depois termos os créditos iniciais.
E aqui, já falo da Parte III, que por mais que seja o mais diferente filme da trilogia (razão de algumas pessoas considerarem o mais fraco dos três) eu amo muito. Assim como o a Parte II, está cheio de referências, de tiradas fantásticas, e é ótimo ver um estilo totalmente novo e bem-trabalhado em BTTF (umas das minhas cenas preferidas estão nesse). Tivemos cenas simplesmente fantásticas!
E me digam (novamente), como não amar isso? É muito bom ouvirmos mais uma vez “Mãe, é você?”; quem não gostou de uma perseguição diferente (o esterco também ficou para o final, de novo)? Ver o passado da cidade, a inauguração do relógio, os antepassados dos personagens mais queridos da trilogia? Pegar seu bisavô no colo, quando ele era um bebê? Não é para qualquer um… e para os fãs do gênero faroeste, não há coisa melhor, temos tudo que pode-se esperar nesse filme.
Ainda em 1955, temos cenas muito boas. Temos Doc acordando e gravando sobre como mandou Marty de volta para o futuro, sem recordações reais (ele acha que foi uma ilusão) de Marty ter voltado do futuro. Gosto de ver Doc confrontar Marty novamente, e se trancar, com Marty do lado de fora falando coisas sem parar (uma referência ao primeiro filme). É legal o “furo” na teoria de Marty, e a leitura da carta; realmente, quem imaginaria que Doc escreveria algo assim tão tocante? Realmente, sua carta ficou emocionante, a menos a meu ver.
O DeLorean enterrado há 70 anos (que infelizmente não poderá mais voar), e a cena do cemitério; é interessante ver o túmulo de Doc (“Pelo amor de Deus, Marty, não pisa aí!”), e como Marty decide voltar para salvar seu amigo; eu gosto muito da relação que Marty e Doc têm; é claro como os dois se gostam, os dois se amam para falar a verdade, então eu acho muito bom ver coisas como essas, se arriscar para salvar o amigo.
Como não falar na quarta dimensão? Para mim, são cenas ótimas… “aqueles índios não estarão aí quando você viajar instantaneamente para 1885… você não está pensando em quarta dimensão!”… eu entendi o que você quis dizer Doc, mas infelizmente, dessa vez você estava enganado… mas que seja. Depois temos a cena no trilho, ainda não terminado e a fala de Doc “Você não está pensando em quarta dimensão!”, e Marty: “É, eu tenho dificuldade com isso”. Palmas, palmas, palmas.
Na chegada ao passado (que roupas, hein?), temos mais uma passada no bar local… apenas um comentário: é a Hill Valley mais diferente que já vimos! E a Torre do Relógio em construção… bem, o bar, o bar. Certo, temos a clássica cena do “Hey, McFly”, por Bufford Tannen; temos o moonwalk e o maravilhoso “niquei”; e uma perseguição sem skates… fazer o quê? Inevitável. Mas… além do skate, temos mais uma diferença… pela primeira vez, Marty não se dá bem na perseguição, mas acaba pendurado numa corda, quase sendo enforcado. O que é ótimo, pois nos proporciona uma entrada magistral de Doc em 1885 (sem contar a piada de quem vestiu Marty daquele jeito, que foi ótima); o abraço dos amigos é bonito de se ver…
Temos Clara fazendo o papel de Lorraine, ao ir atrás de Doc, necessitando que a máquina do tempo seja coberta (uma cena bem parecida com o primeiro); temos o Doc apaixonado, que é uma coisa muito interessante, na minha opinião. A Ravina Clayton, que é uma idéia muito inteligente (mesmo que eu acredite que salvar Clara poderia ter trazido mais conseqüências do que apenas a mudança no nome da ravina – mas a piada dos professores? Ótima, e eu concordo).
Em substituição ao Baile, dessa vez temos o Festival, com a inauguração do Relógio da Torre, e como bem disse Doc, eles tinham o direito de estar presentes naquela ocasião. Amo aquela foto, bastante. Durante o festival, é legal ver Marty com a arma (“Onde você aprendeu a atirar assim?” “7-Eleven”), Doc dançando, Seamus e Maggie falando de Martin McFly (morto por não deixar ser chamado de covarde) e a piada do Frisbee… só não tivemos uma guitarra…
Gosto muito de ver Doc no bar (e desmaiando com só uma dose), seus discursos sobre o futuro são ótimos, mas é triste vê-lo sofrer por Clara… bem, temos o confronto entre Bufford e Marty, e gostei de ver Marty usando “colete”, como Clint Eastwood, na cena que vemos Biff assistir no BTTF II no 1985 alternativo. Marty foi ótimo em sua fala “Por que tudo tem que ser em cima da hora com a gente?”.
No lugar da sequência do raio na torre, às 22:04, temos toda a coisa do trem, e a viagem de Marty, de volta para o futuro. Não gosto muito de ver o DeLorean ser destruído, ainda me parte o coração, toda vez que vejo o filme; é bom ver que Marty não sofreu o acidente, e o retorno de Doc; uma coisa eu sou contra: olhem a idade de Júlio e Verne; por que Doc não foi ver Marty antes? Para Marty foi no mesmo dia, mas para Doc foram anos… mas tudo bem. É linda a fala final de Doc, todo aquele discurso. Sim, eu sei de cor, mas ainda assim eu me arrepio quando assisto ao filme, porque é muito lindo… a foto de presente, tudo, tudo, tudo.
O trem é bonito (e ele voa!), mas eu preferia o DeLorean (além de ser bem mais discreto, não?); não gosto de ver as palavras “The End”, acho que ainda não superei isso tudo, ainda fico triste (mas que fique bem claro que sou totalmente contra qualquer sequência ou qualquer refilmagem, ok?). Só fico triste por saber que acabou… mas para mim não acabou, não vai acabar. Porque foi lançado o último em 1990, e agora, quase 21 anos depois, eu ainda assisto, eu ainda amo, eu ainda me emociono, e rio…
Bem, eu deixei isso para o final, porque queria dar muito destaque a isso:
Nos três filmes temos as falas “de volta para o futuro”, que é o título do filme. No primeiro, temos Doc falando “Temos que mandar você de volta para o futuro”, e no fim “Você tem que voltar comigo”, “Para onde?”, “De volta para o futuro”; no dois, temos essa cena novamente, além de mais algumas citações e a fala de “I’m Back from the future”. Agora, no três, temos uma inversão nos papéis, que para mim, merece aplausos e mais aplausos, simplesmente acho maravilhoso; é no bar, quando Doc está sofrendo por Clara.
Marty: Então volte comigo.
Doc: Para onde?
Marty: De volta para o futuro.
É bom ver Michael J. Fox dizer isso. Mas não pára por aí, ainda temos mais. Sempre tivemos Doc falando “Great Scott!” o tempo todo, durante os três filmes; já Marty tinha sua fala de “This is heavy”, também em todos os filmes, o que gerou ótimas piadas no primeiro filme. Bem, agora no três, temos Doc falando que pode ser o nome de Marty a estar naquela lápide ainda, e então…
Marty: Great Scott!
Doc: I know… this is heavy.
Eu pensei seriamente em aplaudir, mas acho que o pessoal já me acha meio doido, não seria legal. Mas toda vez que eu assisto (toda semana…) eu me divirto demais com essa cena e com essas inversões de papéis.
"O futuro não está escrito. Seu futuro é você quem faz"
 E é isso o que eu tinha para falar sobre essas sequências maravilhosas, espero que vocês se encorajem a conferir essa trilogia. Eu digo que vocês não vão se arrepender… nada é tão bom quanto BTTF, no que ele se propõe… só assistam.

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