“Acredito, acredito, acredito…” – Polêmica em São Paulo…
Acredito, acredito, acredito…
Eu acredito…
Aqui no Brasil, O Despertar da Primavera acabou sofrendo um pouco, quando foi transferido para São Paulo. O que aconteceu? O juiz titular da Vara Central da Infância e Juventude, Adalberto José Queiroz Telles de Camargo Aranha Filho (desculpe, mas dá até vontade de rir com esse tamanho de nome… desculpem), questionou a cena em que Malu Rodrigues mostrava os seios na peça, durante Acredito (I Believe), em que Melchior e Wendla descobrem a sexualidade juntos. Tudo se baseou no fato de a atriz ainda ter 16 anos…
Malu Rodrigues precisou ser emancipada para fazer essa cena, e seu pai a acompanhava em todo espetáculo, assistindo ao show toda noite. Ela passou por toda a temporada no Rio de Janeiro sem nenhum inconveniente (a cena ainda em toda sua beleza, ainda na sua maneira original), mas a cena foi questionada quando chegou a São Paulo por um juiz do estado. Tendo saído de cartaz por algum tempo (isso não te lembra nada? Aqueles anos todos em que passou banida...), a peça voltou com uma pequena modificação…
E eu me lembro bem de como foi a revolta nesse período todo. Afinal, uma peça defendendo temas como a liberdade de expressão, a sociedade repressora, foi censurada. Muitos manifestos de fãs se seguiram à decisão do juiz. E ninguém conseguia imaginar a cena do fim do primeiro ato sem os seios de Wendla aparecerem… e para quem viu a peça, entende perfeitamente que os seis da personagem não são mostrados de maneira vulgar, ou para expô-la. Tudo é feito de uma maneira tão artística, que o que importa não é se ela está mostrando ou não, mas o sentimento dos personagens, a emoção que eles estão passando, o grande momento na vida dos dois, que aquela cena representa… é arte, não é vulgaridade, não é pornografia. É uma das cenas mais belas.
Não é que uma cena dessa não feita exatamente igual fosse acabar com toda a peça, porque tem muito mais coisa, mas NÃO É A MESMA COISA! Parece que é uma cena tão essencial, parece que a cena modificada não é mais de Spring Awakening… infelizmente, parece que dá uma diminuída no clima necessário para o espetáculo… e tivemos que passar por isso no Brasil. O que eu gostei, foi de ver as reações tanto do público, quanto dos próprios atores, que também não eram muito a favor das decisões do juiz; por exemplo, Malu disse que “não tem nada de pornografia, é uma cena rápida que fecha o primeiro ato, é uma cena poética, descobrimento do amor, não do sexo” e “continuo sendo a menina que sempre fui”. Seu pai, Sérgio Rodrigues, auditor fiscal, disse que “ninguém que assistiu a peça saiu de lá chamando minha filha de gostosa ou piranha”, até porque não é sobre isso que se trata a cena… quem assiste, quem entende a importância da cena, entende que é muito mais do que um seio… e podemos ver que, sendo uma decisão da justiça, todos tiveram que acatar, mas ninguém pareceu muito satisfeito…
Assim, quando a peça voltou a ser interpretada em São Paulo em Julho de 2010, a cena tinha sido modificada, e não mostrava mais o seio de Malu Rodrigues… a peça perdeu seu encanto por isso? Não. Deixou de ser boa por isso? Não. Mas ainda assim é como se alguma coisa faltasse… nos acostumamos àquilo, nos acostumamos à peça em sua concepção original. Mas fazer o quê?
E no YouTube já foi postada a versão brasileira de Acredito (I Believe), para quem quiser conferir. No geral, a cena não foi muito mudada do seu original; as mudanças foram bem pequenas (como o fato dos demais personagens estarem um pouco longe e fora da luz), e no geral a cena foi bem fiel… o diálogo (que é uma conversa bem bonita, na minha opinião) permanece o mesmo, e a maneira como Wendla e Melchior se descobrem também ficou do mesmo jeito da original… e no geral, Pierre e Malu foram ótimos atores, uma ótima interpretação (e nossa Wendla é um pouquinho mais ousada, uma vez que a Wendla original não tenta tirar a camisa de Melchior, mas tudo bem…). Gostei da cena, e então fica a dica, para quem quiser assistir a peça, mais uma vez. Até mais!
No amor sagrado…
Que não é pecado…
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