The Bitch of Living




Oh we’ll work that silver magic
Then we’ll aim it all the wall…

Spring Awakening é, acima de tudo, uma peça crítica. É por esse motivo que gosto tanto do personagem de Melchior Gabor. É ele e seu diário que denunciam muita coisa da sociedade (no caso, sociedade alemã de 1891, mas todas aquelas coisas se aplicam à sociedade atual, ainda) e nos faz pensar – lembro-me que quando o ouvi cantar sobre tudo jogado em escolas e em casas por homens cegos, que querem te fazer acreditar no que está escrito e mais nada, e que você não tem que discordar disso, porque se você não pensa como eles dizem que você deve pensar, você está errado pela primeira vez, fiquei fascinado; amo ver Melchior defender que há muito mais a se encontrar, basta olhar por nossos próprios olhos e não através dos olhos deles, e ainda tem um caminho através disso.
A peça merece o título de crítica. E merece o título de polêmica, ao tratar além da sexualidade, a sociedade. Mas ela é polêmica de uma maneira que nenhuma outra consegue ser: consegue ser polêmica ao tratar de vários assuntos complicados, em uma sociedade [ainda hoje!] muito conservadora, expondo todos os seus pontos de vista, sem tornar nada mundano ou simples – cada problema e cada situação na peça tem seu fundamento, tem sua razão de ser. E assim, tudo o que vemos é arte. Temos algumas cenas mais fortes, e quase chocantes à primeira impressão, mas sendo essenciais à história, são trazidas ao palco de maneira artística e bonita…
É o caso de My Junk e I Believe – duas músicas que contém duas das cenas mais polêmicas e mais fortes da peça. No entanto, nenhuma das duas está no título da postagem e eu explico o porquê… acontece que pretendo falar sobre a cena de Hänschen, e acho que a letra de The Bitch of Living (interpretada por Moritz Stiefel, apenas alguns minutos antes) é a que melhor retrata aquela situação… God I dreamed there was an angel who could hear me through the wall […] Give me that hand please, and the itch you can’t control […] Oh we’ll work that silver magic, then we’ll aim it all the wall. […] It’s the bitch of living, with nothing but your hand.
Vou tratar do assunto no restante do texto, então quem quiser conferir todo o meu texto, clique em “ler a matéria na íntegra” – coloquei lá, para o caso de alguém não se sentir confortável com o tipo de texto… até mais!

One of us must go…
It’s you, or me.



Em primeiro lugar, a cena de My Junk. Primeiramente, temos uma cena comum, as quatro meninas (sem Ilse) cantando, até que se sentam na frente do palco. E é aí que temos Hänschen no banheiro, em sua masturbação em pleno palco, e Georg na sua aula de piano. Assim que a música reinicia, temos os dois garotos cantando (e a fantasia de Georg com a professora começando) – e de maneira inesperada, temos as meninas levantando e indo para o meio do palco também, terminarem a música. Toda a cena, ao contrário do que se pode imaginar, fica extremamente divertida e nada pesada… é uma das melhores cenas da peça (só é estranho termos Desdemona se Hänschen é gay, mas tudo bem…
E provavelmente, a melhor parte de toda a cena, é quando Fraulein Grossenbustenhaulter (a professora de piano, dando aula a Georg) diz: “Very well, Georg, and this time bring out the left hand” – e então Hänschen, obedientemente, troca a mão que está utilizando… simplesmente impossível de não rir (e podemos ver que toda a platéia caiu na risada nesse momento também)…
E no encerramento do primeiro ato, temos I Believe. Encerramentos de primeiro ato de musicais da Broadway são sempre impactantes – mas Spring Awakening sabe ser ainda mais, sem dúvida. No fim do primeiro ato, Wendla e Melchior tem sua primeira (e única) relação sexual – é uma cena um pouco mais forte que My Junk, e nos mostra uma Wendla inocente e insegura, sem saber bem o que está acontecendo, enquanto Melchior a leva por um mundo do qual tem um pouco mais de conhecimento. E com todos em volta, cantando I Believe, a cena assume um caráter artístico muito belo – é o que dizem: “É pura arte! É a primeira relação do casal, temos um pouco de nudez, e ainda assim não existe vulgaridade”… magia do teatro. Toda a cena é fabulosa, sem dúvida…

Nas próximas postagens, trarei mais sobre os atores intérpretes dos personagens principais nas principais produções, um pouco sobre a versão brasileira (O Despertar da Primavera), as músicas e mais discussões sobre a peça… fiquem atentos. E se você ainda não assistiu, provavelmente essa é a hora…

This can’t be it…
Oh God, what a bitch!

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