Carter e Sadie Kane – A dupla de As Crônicas dos Kane

Dessa vez, Rick Riordan nos apresenta uma história sem um trio principal. Os protagonistas são dois irmãos, que cresceram separados e se juntaram no começo do livro e foram obrigados a conviver e se unir para enfrentar juntos tudo o que precisavam enfrentar. É uma das equipes de mais sucesso que eu já vi na ficção. Os dois personagens são altamente divertidos, simpáticos e carismáticos. Simplesmente não tem como não se apaixonar por eles, os dois tem seus valores.

Os dois se alternam para contar o livro. Assim, sendo narrado em primeiro pessoa, a narração sofre muita influência das impressões de cada um dos dois. Nem tudo o que lemos podemos considerar como verdade absoluta, não podemos ter certeza de que foi exatamente daquela maneira… por exemplo, Carter narrando uma luta sua em que vence, é claro que ele vai aumentar um pouquinho para tornar tudo ainda mais grandioso do que na verdade foi. E isso é extremamente divertido de se ler.

Outra coisa muito boa são as provocações dos dois. Tendo os dois crescidos separados, eles não se conhecem assim tão bem no início da história. Sadie, de 12 anos (livro I) e 13 anos (livro II), foi criada pelos avós em Londres, e não tem uma boa impressão do pai e do irmão; Carter, de 14 anos, foi criado pelo pai, viajando pelo mundo com ele, o Dr. Julius Kane, um grande egiptologista. Na verdade, um queria ter tido a vida do outro… Carter preferia ficar em um só lugar, poder ir à uma escola normal e fazer amigos de verdade; Sadie só queria ter uma convivência com o pai, e tem um pouco de inveja do irmão por ter passado tanto tempo com ele e ela tão pouco.

A princípio, eles fingem se odiar. Sendo uma narração em áudio da dupla, um na presença do outro, é meio óbvio que eles nunca assumem por completo a necessidade um do outro e como eles aprendem a se amar, mas isso fica bem claro para os leitores… a narração vai deixando claro a admiração que um sente pelo outro, e como eles tentam encobertar isso brigando e fazendo piadinhas divertidas de se ler… com o tempo, um vira dependente do outro, e um quer proteger o outro acima de tudo; ao fim já do primeiro livro, eles são tudo o que o outro tem, e é tudo muito bonito.

Carter é aquele personagem (por ter passado todos esses anos com o pai, ter trabalhado com ele, ter lido vários livros sobre isso, e ter seu pai como seu professor) que sabe de muita coisa. Tudo o que vai acontecendo no meio da história e precisa de uma explicação, ele a tem; já Sadie é aquela personagem que aprende sozinha, portanto é bem divertida; com ela, nem sempre a explicação didática é a mais eficaz… ela entende da maneira dela, e é suficiente. E é assim que ela nos explica… no fim, acho que Sadie é uma personagem um pouco mais divertida, mais astuta… ela tem uma grande malandragem, um cinismo, uma narração perfeita; mas não menosprezo Carter, sua narração também é ótima.

Uma das melhores coisas na narração de Rick Riordan, especialmente nesse livro, é como eles não aprendem tudo de uma hora para outra. Eles precisam treinar e treinar muito para conseguirem aprender tudo o que precisam aprender… e os treinamentos não são fáceis. É claro que Hórus e Ísis facilitam um pouco para eles… [OLHA O SPOILER] Mas a cena em que Carter conversa com Hórus pela primeira vez em sua mente (“Alguém me traga um abridor de latas. Tem um deus preso na minha cabeça”) foi genial; uma maneira divertida de entender um pouco da Mitologia Egípcia… e no volume II, sem serem hospedeiros de deuses, podemos ver que nem tudo é tão fácil quanto parecia antes, eles sofrem…

A trilogia é ótima (tudo bem, o último livro ainda não foi lançado, mas com certeza vai ser genial, para finalizar muito bem a história), e o que importa é que até agora Rick Riordan está se saindo muito bem… mesmo se você não leu Percy Jackson, ou se leu e não gostou, eu recomendo que você leia As Crônicas dos Kane. É uma outra história totalmente diferente, é um outro texto, e é ainda mais interessante! Até mais e boa leitura!