Minority Report
Agora que eu tenho um maravilhoso livro de contos
escritos por Philip K. Dick, grande gênio da ficção científica, percebi que
ainda não tinha visto Minority Report,
de 2002, e resolvi fazer isso depressa. E vendo o filme, mesmo antes de ler o
conto, é muito fácil notar que foi criado por aquela mente genial e que
funcionava depressa de Dick… o estilo de futuro, o estilo de história que
questiona quem somos nós, que conta com grandes perseguições e conspirações…
além da crueldade velada que quase é angustiante…
É um filme fantástico! Imagine um futuro no qual
homicídios não aconteçam. Em 2054, com a invenção da Pré-Crime, os assassinatos
são previstos antes que possam acontecer, e dessa maneira o crime nunca chega a
acontecer. E como é citado no filme, pelo personagem de Witwer, isso acaba por
ser um curioso paradoxo: a pessoa vai presa por um crime cometido no futuro,
mas pela ação de ter sido presa, acaba por nunca ter realizado a ação que o
levou a essa condição…
Interessantíssimo!
Mas o “paradoxo” não é o foco do filme. Seis anos
depois que a Pré-Crime começou a funcionar e nenhum assassinato foi registrado,
Anderton, um dos maiores “policiais” da empresa, se depara com um novo caso
fornecido pelos Pre-cogs, e para surpresa total, ele é o criminoso. Incrível
como, durante o filme, não paramos para pensar em como aquilo poderia ser
premeditado se ele não estava pensando em matar ninguém no início da projeção?
Talvez por estarmos tão fixados pela idéia de armação…
E a idéia de armação é simplesmente fantástica.
Porque exatamente no melhor estilo Philip K. Dick, ela acontece da maneira
menos previsível possível. Agatha, a mais poderosa das três Pre-cogs, tenta
mostrar algo para Anderton, algo que ninguém parece entender, e então ele
precisa ser eliminado por quase descobrir o segredo de Lamar, criador do
projeto todo. E a inteligência do roteiro é o que realmente cativa, porque te
faz pensar, e querer aplaudir quando o estilo de armação é revelada…
Melhor ainda é pensar nos ecos das visões, e em
como isso tudo é usado pelo vilão para que possa cometer o único assassinato de
que se tem notícia nos últimos seis anos. A maneira como o filme te surpreende
é deliciosa, e você fica esperando as coisas acontecerem, imaginando como elas
serão, e ainda temos uma bonita mensagem de “Você pode escolher”, abordada em
duas das maiores cenas de todo o filme… amei a personagem de Agatha, só para
constar.
Mas em ficções científicas, a maneira como as
coisas são imaginadas é uma das grandes sacadas dos filmes. E o futuro de Minority Report é belíssimo! Além de
toda a coisa de prever um assassinato, amei o design dos carros e seus
elementos para fazê-los flutuar, amei todo o estilo futurístico que não parece
atual, mas ao mesmo tempo parece real… um futuro palpável, bem imaginado, não
muito distante dos mais clássicos futuros, mas sem parecer imaginativo.
Fantástico!
E a maneira como os Pre-cogs funcionam também é
interessante. Gostei dos sonhos, do Templo, das bolinhas marrons ou vermelhas
sendo fornecidas com os nomes… e aquelas telas todas que Anderton utiliza, tão
atuais hoje em dia, mas futurísticas na época da construção da história. E
Anderton ainda teve um diálogo perfeito com a “criadora” dos gêmeos e Agatha,
cena a qual também explicou o conceito de “Minority Report”, algo que existiu
no caso de Lively, mas não existia no caso de Anderton, contrariando tudo o que
acreditamos durante o filme todo…
E é aqui que entra a crueldade de maneira velada e
ainda assim evidente. Ainda humanos, os Pre-cogs são tratados como objetos,
como coisas, e eles realmente sabem ser assustadores. Agatha sabe ser cheia de
esperança e quase gentil, mas também sabe ser spooky como quando grita seu último “RUN!”… e o desespero que toma
conta dela quando o futuro de Anderton finalmente se conclui é contagiante,
aquele desejo de gritar é compartilhado por nós, e o filme deixa esse ar meio
sombrio em meio a uma ficção científica tão bem criada e tão bem amarrada.
Um ótimo filme, uma ótima coisa a se pensar.
Diferente de tudo o que eu já tinha visto sobre futuro, fica aquela coisa: se
você sabe o seu futuro, você ainda tem o direito da escolha e pode alterá-lo.
Muito interessante pensando dessa perspectiva! E até onde a tecnologia humana
pode prever vontades e ações que ainda não aconteceram? Ficção científica de
qualidade extrema, uma obrigação na vida de qualquer nerd. Se você, como eu
[shame on me], tinha deixa passar, não perca tempo! Até mais…
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