Interligados – Aden Stone e a Batalha Contra as Sombras


Eu juro que não sei o que estava esperando. Eu deveria ter presumido que quando a única característica interessante de Aden é totalmente anulada pela segunda protagonista, o livro estaria com problemas. Afinal tudo o que me interessou na sinopse foi essa história toda de Aden Stone ter quatro almas presas dentro de sua cabeça, e que viviam com ele desde sempre. Além de cada uma delas ter um poder diferente. Eve podia viajar no tempo. Elijah previa o futuro. Caleb tinha o dom de tomar para si o corpo de outra pessoa. E Julian ressuscitava os mortos. Mais ou menos. Se isso era o que mais me interessava, o que pensar de Mary Ann, que vem para anular tudo?
Errado, meu caro Jefferson. Na maior parte do livro (há ressalvas, vide), as almas se mostraram bastante inúteis. Seus poderes não eram assim tão interessantes (a não ser o de Eve, como eu gosto daquela alma!) e seus comentários pareciam quase o tempo todo meras desculpas para que a autora pudesse enrolar o livro por mais algumas páginas. Quase sempre totalmente desnecessários. Era meio que um alívio ver Aden Stone com Mary Ann, quando as almas silenciavam, e os dois podiam ter conversas muito interessantes. E ainda mais sabendo que a relação dos dois não era de namorados.
O que não impede um romance adolescente que beira a irritação. Porque Mary Ann se torna dependente de seu Lobo, Riley; e Aden se torna dependente de sua vampira, Victoria. Se não bastasse um, são dois casais melosos, e um casal de amigos que tenta se proteger e se ajudar a qualquer custo. E ciúme pra dar e vender. Como eu temi no começo (e mesmo assim dei uma chance ao livro), se concretizou. E o livro é quase um Crepúsculo com alterações. No começo me lembrou um pouco Cidade dos Ossos também, mas sem toda a parte interessante do livro, uma vez que aquele é um máximo!
No entanto ainda é um livro bem humano. Tirando os vampiros e lobisomens. E as fadas. E os gnomos. E os duendes. E as bruxas. E os fantasmas. E os zumbis. Porque Gena Showalter sabe como construir uma história atual, com problemas e pensamentos que condizem com vários adolescentes, e reproduzir diálogos que parecem reais. E alguns assuntos que realmente foram interessantes, especialmente as partes que ligavam o pai de Mary Ann aos problemas de Aden! Aqueles traços todos de esquizofrenia em uma criança de 11 anos me pareciam extremamente interessante! Porque o tema me fascina.
No entanto, o livro demora pra nos embalar e quando o faz, é só porque já estamos conformados com a idéia de que a “história” é essa. Não espere ação demais, não importa, nem grandes e grandes acontecimentos, como prometia a sinopse. É um romance adolescente cheio de nhênhênhê. Eu adoraria esse romance se além disso a autora tivesse se preocupado em contar uma história longa e complexa. Com mais conteúdo. Não menosprezo os romances, até acho que estão muito bem escritos. Não vou com a cara de Victoria, Aden me irrita perto dela, mas Mary Ann e Riley apresentam uma relação interessante. E sexy. E a irmandade e companheirismo entre Mary Ann e Aden Stone também acaba sendo bem bonito.
Um dos problemas também, é que a escritora mastiga demais a história para nós. Demais. Os pensamentos dos personagens são amplamente explorados, mesmo quando não há a necessidade. De um pequeno acontecimento ela faz uma página de questionamentos de “E se…?”, “mas” e “será?” e assim por diante. Coisas que nós leitores deveríamos parar pra fazer. Não existe essa necessidade. Como seus “mistérios” de quem é o Lobo e qual a relação de Mary Ann e Aden. Ela simplesmente não sabe deixar as coisas no ar para tornar a leitura mais prazerosa. Ela devia colocar uma informação aqui e outra ali e nos deixar pensar e questionar, para chegarmos às nossas próprias conclusões, mas não… ela faz com que cada um dos personagens que narram a história também cheguem a essas conclusões, e apresentem uma infinidade de opiniões e questionamentos em seus pensamentos. Você basicamente não precisa pensar.
Isso, infelizmente, compromete seus enigmas. Com muitas páginas a menos, e mais informações para instigar o leitor, teria sido uma leitura fantástica. Porque a autora possui uma boa história, ela sabe onde está indo, e consegue amarrar os pontos com certa inteligência. E o principal enigma do livro envolve a ligação de Mary Ann e Aden Stone (não é a que pensamos inicialmente) e é algo que vai se revelando aos poucos, com jogadas aqui e ali, até explodirem em uma série de acontecimentos bombásticos, que interferem não só na vida dos dois, mas de muitas pessoas também. O problema está no quanto ela detalhou tudo isso, não nos dando espaço para construir nossas próprias teorias, e então enrolando páginas e páginas para “revelar” algo que já tínhamos presumido muito tempo atrás.
O livro tem as suas qualidades, e quando resolve ser bom, o é. Alguns capítulos me deixaram fascinado, e eu não conseguia desgrudar do livro. Especialmente na metade do livro quando Eve finalmente nos dá uma demonstração de seus poderes (embora eu tenha achado as mudanças no presente ridículas) e temos um Aden de 11 anos fazendo perguntas impossíveis ao pai de Mary Ann. E então todas as peças começam a se juntar, é onde o caso fica mais interessante. Mary Ann proporciona uma ótima narração nessa parte, comovente e surpreendente… embora bem mastigado, o livro ainda consegue ser surpreendente em alguns pontos. Antes do que a autora imagina, mas consegue.
O final me pareceu estranho, quando chegamos ao clímax, ele mal parece acontecer, e o livro termina cheio de pontos soltos. Não me parece um final de livro que deixa mistérios e coisas para continuar no próximo, mas sim um livro que não tem final. Parece que as histórias foram começadas, e a escritora desistiu de terminá-las, sem uma grande finalização digna para o primeiro volume. Além da partida de uma alma. De qualquer maneira, a continuação já está disponível no Brasil, Aden Stone Contra o Reino das Bruxas, mas eu sinceramente não me vejo voltando para essa sequência. Não direi “nunca”, porque não se sabe, mas enquanto eu tiver outros livros na fila, este vai ficar lá para o futuro… bem futuro! Até mais…

Curta nossa Página no Facebook: Parada Temporal

Comentários