(Not) On Broadway – Love Never Dies – Look with your heart, not with your eyes…


Visualmente belo e com a parte técnica impecável. Eu gosto de Love Never Dies, e muita gente vai vim com sete mil pedras na mão por dizer isso. Não amo Love como amo The Phantom of the Opera – afinal esse é um dos maiores e melhores musicais da Broadway e se comparar a ele não é tarefa fácil – mas certamente gosto o suficiente para dizer que é interessante e que vale a pena ser visto. E que vou ver novamente!
É outra produção grandiosa de Lloyd Webber… ele começou a trabalhar nessa peça em 1990, e só conseguiu estreá-la em 2010, e não foi lá tão bem aceita, justamente por negar algumas coisas importantes de Phantom; ainda nem conseguiu chegar à Broadway, e há dúvidas de que um dia consiga… grandioso em todos os sentidos, tem uma orquestração belíssima, figurinos e cenários grandiosos e detalhados (a riqueza de detalhes enche os olhos) e músicas interessantes…
Como um todo, as músicas não são surpreendentes. Nesse quesito, Love Never Dies é muito mais suave do que Phantom. Nada tão impactante – portanto, infelizmente, nada que fique tão na cabeça e mexa tanto com a gente como os clássicos da peça original. Mas algumas músicas realmente me agradam, como a ótima Look With Your Heart e a mais do que surpreendente The Beauty Underneath… um estilo totalmente diferente de tudo o que conhecemos desse universo, assim que ela começou eu fiquei chocado.
Love Never Dies traz Christine com o marido Raoul e o filho Gustave para cantar no Phantasma. O que ela não sabe é que tudo não passa de uma armação do Fantasma (que todos acreditavam estar morto) para ouvi-la cantar mais uma vez. E novamente, uma batalha entre Raoul e o Phantom se instala em busca do amor de Christine… tudo a ser resolvido durante uma música (Love Never Dies)… isso te lembra algo?
A surpresa (mais pela contradição, não pela originalidade – afinal era previsível) está na paternidade de Gustave. O personagem de Gustave concede ao musical um tom diferente. Ele é uma criança talentosa, envolto em um mundo nada manso e leve… muita crueldade, muitas histórias fortes, e uma criança perdida sendo quase a protagonista disso tudo… seu talento é incrível, e é lindo ouvi-lo cantar ou tocar… foi uma das coisas mais encantadoras o colocarem ali…
Vê-lo com o Fantasma é lindo também…
Enfim, com tanto talento para a música, não seria surpresa que o Fantasma fosse seu verdadeiro pai (é ótimo ver sua reação ao se dar conta disso – “This boy… he plays just like me. He’s just 10 years old… ten years old!”) – mas não me pergunte quando foi que esse filho foi concebido. Talvez osmose, vai saber? A primeira música de Christine com Phantom (“Beneath a Moonless Sky”) tenta explicar isso tudo, falando sobre uma noite do casal, mas pareceu meio forçado… uma saída para que a história seja crível; de qualquer maneira, a música é linda, e o desejo e o amor dos dois é tangível.
O que aqui eu paro para questionar. Todas as vezes em que assisti The Phantom, nunca acreditei no amor de Christine e o Fantasma. Para mim, ele sempre foi obcecado por ela, e ela meio inocente se encantava, mas nunca houve esse amor como é pronunciado aqui. E Love Never Dies parte da premissa de que os dois se amam mais do que tudo, e que esse amor sempre existiu… falam sobre um amor que não deu certo, sobre os desejos reprimidos, sobre o passado…
Whatever.
Isso não é tudo. Os personagens não me parecem os mesmos. Não sei de onde surgiu esse Raoul bêbado que perde dinheiro apostando e usa o talento da mulher para pagar suas dívidas. Também não sei de onde surgiu essa Meg maníaca, obcecada pelo Fantasma, quase disposta a matar Gustave para conseguir o que quer… também não sei onde foi parar o Fantasma excêntrico e que dava medo (só o vi em um momento, na peça toda), e no lugar chegou esse, muito mais calmo, menos agressivo, embora ainda querendo Christine a todo custo…
Achei que teríamos momentos de Meg e Christine como no primeiro musical, afinal a chegada e o reencontro das duas foi muito bonito… amei ouvir Dear Old Friend com Madame Giry, Meg, Christine e Raoul… amei a cena, achei tudo lindo e a teria classificado como a melhor cena do musical se logo em seguida não tivesse aparecido The Beauty Underneath. Até aqui podemos dizer que os personagens não tinham se alterado. Não muito. Ainda. Mas eu devia saber que viria coisas pela frente ao me deparar com a possibilidade de Christine cantar quando deveria ser a grande oportunidade de Meg…
Love Never Dies é mais sombrio. Me deparei com bem menos cor, com músicas mais lentas que transmitiam um sentimento de melancolia… os personagens, em geral, não estavam felizes em momento nenhum, e o final também foi bem sofrido… ao menos Raoul, Gustave, o Fantasma e Christine tiveram uma bonita cena final e sabemos que Webber não pode querer fazer mais nada depois disso… agora me lembro que já sabia como a peça acabaria, mas mesmo assim fiquei chocado quando vi pela primeira vez…
Só eu que notei The Phantom of the Opera tocando instrumental em vários momentos, mas com as notas bem mais suaves? Isso só me deixou com mais saudades da peça original e tive que ir correndo escutar essa música… ao menos essa, ao menos essa.
Eu gostei demais de Love Never Dies, talvez justamente por não esperar demais. Não posso pensar muito nos detalhes, e como diz a música, ver com meu coração, e não com meus olhos. Love só é questionável por pegar personagens consagrados e os colocar em posições que talvez nunca devessem ocupar, com personalidades e histórias que não cabem a eles. Mas avaliado como peça única e separada de Phantom, como Lloyd Webber parece querer que façamos, ela tem todos seus méritos, com ótima produção (música, cenário, figurino e mesmo história); assim, aconselho que vocês assistam ao musical (você pode comprar em DVD, ou provavelmente baixar facilmente na internet), mas não deixem de ver o musical de The Phantom of the Opera também, aproveito para reiterar o convite. Até mais!

P.S.: Um dos momentos mais grandiosos está logo no começo do segundo ato, quando, após cantar Why Does She Love Me? (que por sinal foi uma música muito boa!), Raoul se vê frente a frente com o Fantasma e ambos fazem uma espécie de aposta… ali estava o bom e velho Phantom de sempre, ameaçador, obcecado, poderoso… Devil Take the Hindmost é uma das músicas mais fortes de Love Never Dies, certamente.

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