O Jovem Sherlock Holmes, Livro Dois – Parasita Vermelho


Mais uma complexa narrativa de Andrew Lane que nos conta com assombrosa precisão um pouco do passado de Sherlock Holmes. Todos os fãs do detetive já devem ter se perguntando como ele chegou a ser quem é quando o conhecemos nas histórias de Sir Arthur Conan Doyle, mas nunca se teve tanta precisão em contar esse passado quanto nessa série de Andrew Lane. Você lê cada página e sente que o autor é fã realmente de Sherlock Holmes e sabe o que está fazendo.
O autor sabe exatamente o que está fazendo, de onde está vindo e onde quer chegar. E ele sabe como chegar lá. O estilo de narrativa lembra muito o que já conhecemos de Sherlock Holmes, e temos a sensação de que aquele jovem realmente é um Sherlock Holmes em construção. Esse livro mostra toda a sabedoria e o pensamento lógico do rapaz, e novamente ainda não vem apenas dele, mas baseado em figuras importantes de inspiração. Principalmente Mycroft e Amyus Crowe, mas bem mais do que no livro anterior, agora Sherlock começa a andar com as próprias pernas.
Aos poucos estamos vendo a transformação de Sherlock até que ele possa ser quem conhecemos. Amyus Crowe continua sendo para mim um personagem excepcional, com suas aulas e seu pensamento lógico tão encantador. Como uma aula de formigas pode ficar tão interessante em suas palavras? As bases para o pensamento lógico e olhar para evidências já foram bem definidas no primeiro livro da série, agora Sherlock Holmes vai aos poucos colocando isso em prática por conta própria e amadurecendo.
Foi um livro de amadurecimento. Vemos o personagem crescer aos poucos. Vemos tudo o que está acontecendo em sua vida, suas relações interpessoais, o grande marco que é fazer uma viagem de barco a Nova York, conhecer a América enquanto está sendo perseguido por pessoas dispostas a invadir o Canadá e criar um outro país, numa espécie de retomada da Guerra Entre os Estados. Sherlock vê coisas que são demais para sua mente jovem, faz coisas demais para ele. E cresce antes do tempo. E já começamos a notar traços do que ele é em sua vida adulta.
Andrew Lane ainda consegue criar personagens que parecem reais, e recriar um estilo de vida que evidentemente não viveu. A história de passa em 1868, e a maneira como as conversas aconteciam naquela época, ou mesmo as relações entre as famílias britânicas, ou esse sentimento de saudade da América quando se está tão longe de casa. O livro retrata muito bem cada um desses sentimentos, e muitas vezes temos que nos lembrar quantos anos no passado a história acontece, para não nos surpreendermos com quão cru parece ser o tratamento às vezes.
A história gira em torno de uma tentativa de retomar a Guerra Entre os Estados, e uma visita de Mycroft e uma conversa com Crowe acabam colocando o astuto Sherlock no meio da história. Às vezes ele ainda me parece inconseqüente como um adolescente que é, e várias das coisas que faz acabam sendo evitáveis, mas no entanto ele já desenvolveu aquele pensamento lógico que tanto amamos no personagem, e é gostoso vê-lo sair de cada um dos problemas. Como a história da pressão na água. Então com problemas que podem afetar um país inteiro, Virginia, Sherlock e Crowe acabam tendo que partir até a América para salvar Matty de seus seqüestradores, e claro, salvar o país de uma nova guerra.
Andrew Lane ainda se preocupou em unir suas histórias às originais de Sir Arthur Conan Doyle, e isso é realmente uma das partes mais interessantes de se ler sua narrativa. Porque tudo parece muito possível, e eu já estou aceitando isso tudo como um passado verdadeiro de Sherlock. O “Parasita Vermelho” chega a ser brevemente citado por Watson mais tarde – e deve ter sido o motivo de ser o título do livro, afinal o Parasita não é o principal tema do livro, mesmo que o prólogo nos faça pensar que sim. É mais uma grande metáfora.
Também conhecemos Rufus Stone na viagem de 8 dias até a América (que por sinal é uma passagem muito bem escrita do livro!) e ele começa a ensinar Sherlock a tocar violino, numa tentativa de Andrew Lane de explicar porque o futuro Sherlock tem esse dom; e é essa mesma viagem que explica o “fascínio” que Sherlock desenvolve por tatuagens, mais tarde capaz de reconhecer quem fez e onde foi feita cada tatuagem apenas pelas cores e traços. E ainda explica as razões que levaram Sherlock a ter uma simpatia tão grande pela América…
O livro tem mais ou menos o mesmo tamanho do anterior, mas talvez por eu ter lido muito mais depressa do que o outro, me parece que tudo passou de um fôlego só. A história é ágil e repleta de inteligência mesclada a necessárias cenas de ação, além de um quê de humanidade que meio que nos impede de largar o livro. Uma leitura complexa e deliciosa, Andrew Lane está conseguindo criar um passado digno a Sherlock Holmes, e é uma leitura que vale a pena! Deixo a dica a todos os fãs do detetive! E de um bom livro!

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