A Menina que Roubava Livros
Quando a
Morte conta uma história, você deve parar para ouvir.
Poucas vezes na vida se tem a oportunidade de ver
algo tão tocante que conversa conosco tão profundamente. A Menina que Roubava Livros é uma dessas experiências singulares e
sublimes, que te convidam a se envolver com uma história, viver ao lado dos
personagens, sofrer e sentir com eles. É uma daquelas histórias que te fazem
engasgar. Chorar. Soluçar… que te levam a conhecer pessoas fascinantes,
amá-los… que te leva a interessantes reflexões filosóficas. Que te marca para a
vida.
Infelizmente eu ainda não li o livro, mesmo que eu
o tenha e que ele esteja aqui do meu lado nesse momento, com a leitura
finalmente iniciada… mas como filme, A Menina
que Roubava Livros é uma obra-prima do cinema moderno, com uma estética
belíssima e uma maneira inteligente de contar história. Cenários e cores muito
impactantes que nos fazem sentir exatamente o que eles querem que sintamos – a
infertilidade daquela brancura toda no início do filme, a falta de cor que é a
primeira visita da Morte, os terrores da guerra, o aconchego da casa…
E a trilha sonora.
O acordeão…
The Book
Thief é um retrato preciso dos terrores do nazismo e da Segunda Guerra
Mundial na Alemanha comandada por Hitler, a partir do ponto de vista de uma
menina que encontrou a Morte três vezes – essa, por sinal, é quem nos conta a
história. Interessante notar que a falta de gênero no original permite uma
visão masculina da Morte, responsável por uma narração profunda e emocionante
que dá um toque especial ao filme; que nos leva às lágrimas, que nos comove.
Como aquelas cenas finais, aquelas bombas… a voz daquele narrador foi o que
mais nos emocionou, e eu estava soluçando antes mesmo que as coisas
efetivamente acontecessem.
Uma visão da Alemanha e de como as crianças
cresceram naquele período. Liesel Meminger chega à sua nova casa na Rua Paraíso
em 1938 – nazismo em toda parte, discursos de Hitler, livros sendo queimados…
aqueles hinos na escola, aquele uniforme, aquele ódio sendo plantado e
cultivado. Até a eclosão da Guerra, e nós já não sabemos mais pelo o que
esperar. Dói vê-la se aproximando de pessoas. Dói porque amamos cada um
daqueles personagens e nos preocupamos com ele. Tememos o que pode vir a
acontecer, porque todos sabem o que a Guerra significou – e é um conjunto de
cenas bonitas, emocionantes e tristes.
Um carrossel de emoções.
Um carrossel de emoções porque estamos contentes
com pequenas coisas, pequenas cenas plantadas que nos fazem tão bem – mas
depois somos devastados pelos jogos da vida e pelos horrores da Guerra. Mais do
que a Guerra, A Menina que Roubava Livros
é a história de Liesel com as pessoas daquele lugar – a maneira como ela mudou
a vida deles e como eles mudaram a sua; uma série de amores tão verdadeiros que
nos fazem refletir. Hans e Rosa Hubermann, Max Vandenburg, Rudy Steiner e a
mulher do prefeito. Cada um com sua importância.
O filme é cheio de símbolos. Então ao passo em que
a temos aprendendo a ler e se apaixonando por tudo, conhecemos sua paixão
rebelde pela leitura e o dicionário na parede. Algo tão belo! Sua relação com
Max se firmando justamente por conta da leitura, ela salvando a vida dele
graças às suas incansáveis seções de leitura de livros roubados da mulher do
prefeito… o livro em branco, com folhas pintadas sobre a história de Hitler, no
qual ela poderia escrever sua história, como ela bem entendesse, deixando para
trás aquele passado terrível. E os anos que se seguiram, no qual ela fez
exatamente isso.
Não tem como não se emocionar vendo o filme. Hans
Hubermann era um homem tão bom, então era maravilhoso e revigorante ver a
maneira como ele tratava Liesel, e como ela o idolatrava. Rosa foi uma grata
surpresa, uma pessoa com um coração tão grande quanto o dele; assim adoramos
cenas como a do boneco de neve. Max, seu amigo e companheiro o tempo todo.
Rudy, o corajoso corredor que a amava tanto e que queria tanto um beijo. A
mulher do prefeito que lhe concedeu acesso à biblioteca, que a protegeu quando
ninguém mais poderia fazê-lo.
Um daqueles filmes de final melancólico, que te
deixa fungando e procurando coragem para se mover e deixar a sala de cinema –
mas também é um daqueles filmes que entram para a história, e que jamais serão
esquecidos… daqueles que te levam à reflexões, que te fazem querer retornar
sempre e sempre. Porque amamos aquele lugar, aquela história, aqueles
personagens tão verdadeiros… queremos estar com eles mais vezes, queremos
sorrir, chorar. Mesmo que você ainda não tenha o livro, como eu ainda não o li,
não perca a oportunidade de vê-lo no cinema. É um evento para uma vida.
Comentários
Postar um comentário