Ender’s Game – O Jogo do Exterminador
Eu fiquei completamente feliz assistindo ao filme.
De maneira controversa. Na verdade, não sei se é
porque eu já tinha lido o livro, mas me parece que quem ainda não leu o
original não vai entender o filme tão bem – ou pelo menos não vai conseguir se
conectar com a história sofrida de Ender Wiggin, porque justamente pelo tempo
reduzido no qual uma história deve ser contada em uma adaptação
cinematográfica, muito da profundidade do escrito se perdeu. Eu senti falta de
muita coisa, e eu gostaria de mais exploração em alguns temas, como a bonita
relação de Ender com Bean (que esteve no filme, completamente
descaracterizado). Mas tendo lendo o livro, foi um ótimo complemento.
O filme, lançado no ano passado, traz Asa
Butterfield como o protagonista Ender – vimos esse ator crescer nas telas de
cinema, e mesmo que ele não esteja na idade correta para o personagem, ele é
uma ótima escolha. Talentosíssimo, ele consegue interpretar Ender exatamente
como tínhamos imaginado ao ler o livro. Ele é extremamente astuto e perspicaz,
mas também questionador e corajoso. Mas o que mais define o personagem de
Ender, certamente, é a quantidade de sofrimento que lhe foi imposta desde
quando ele era muito jovem – e desde então, sempre que ele parecia prestes a se
adaptar a qualquer coisa, tudo mudava drasticamente novamente.
Ender Wiggin, no livro, era um garotinho de 6 anos
que vimos perder a infância e crescer assustadoramente perante nossos olhos.
Aos 6 anos ele não agia como uma criança, aos 8 ele comandava um exército
dentro da Escola de Batalha, e sempre amadurecendo depressa demais, privado de
qualquer coisa normal da infância, e submetido aos mais absurdos tipos de
testes, revoltantes em praticamente todos os momentos. Nascido para se tornar
um comandante na guerra contra os Buggers, vemos o personagem crescer diante de
nossos olhos, e a pequena criança que conhecemos no início de Ender’s Game não existe mais antes do
fim.
Até porque Andrew atinge uns 23 anos quando o
livro termina.
Já o filme não pôde fazer tudo isso – claro que
uma criança de 6 anos é jovem demais para sustentar um filme nesse porte, e não
quiseram se arriscar. Optaram pela segurança de um ótimo jovem ator como o
Butterfield. Desse modo, ele não envelhece durante o filme, não vemos os anos
passando, então tudo acaba parecendo mais superficial, ou depressa demais. E
uma das piores perdas foi termos Bean chegando junto com ele, e não existindo o
fato de ele ser mais jovem que Ender, mas na realidade uma versão alternativa
dele. Extremamente topetudo, chato mesmo em vários momentos, mas talentoso. O
choque de Ender, tão jovem, parecer tão mais velho do que Bean…
No filme, Bean acabou quase se tornando um
substituto de Alai, mesmo que ele também estivesse no filme. Nascido para se
tornar um comandante, Ender é levado para a Escola de Batalha para estudar e se
preparar, ao lado de muitas outras crianças, para uma futura guerra contra os
Buggers – eles já invadiram a Terra antes, e agora é o momento de se preparar
para esse ataque. Mas o filme é todo construído em cima de manipulações, e
chega a ser assustador perceber o quanto aquelas crianças estão sendo usadas –
desde as primeiras cenas, ver os Launchies
de amarelo, agindo como robôs, sincronizados, é assustador. Talvez porque eu
conhecesse o final da história.
É absolutamente revoltante. A leitura de Ender’s Game (e eu senti um pouco disso
no filme também) nos deixa com um ódio crescente de vários personagens. Não de
Bernard no começo, mas especialmente de Bonzo. Por isso ansiei tanto pela cena
do banheiro (mesmo que tenha sido alterada), porque eu queria ver o Ender
acabando com ele, por mais “Peter” que isso me faça parecer. Gostei da maneira
como isso mexeu com Ender no filme, e como Asa interpretou a revolta e o medo
de ter matado alguém – mesmo que no filme não tenha ficado claro que ele
realmente morreu depois daquilo. Mas quem é que culparia o Ender? O Bonzo
mereceu tudo aquilo!
Quanto aos Jogos da Mente… foi rápido,
extremamente rápido, e não tivemos tempo de aproveitar as incontáveis vezes que
o Ender se aventurava pelas diferentes partes da simulação, mas eles
conseguiram fazer uma adaptação impecável! Impressionante como ficou
interessante, com um começo exatamente idêntico ao do livro, e com explicações
importantes que nos farão entender o fim do filme, com a tentativa dos Buggers
de se comunicarem com a humanidade, usando Ender. E como isso realmente mexe
com a sanidade das pessoas, com aquele “Well
done. You’re a killer now”. Lembrei-me da maneira como Ender consegue usar
sua mesa para mandar mensagens sobre Bernard a todos, mas o Bernard do filme
nem era tão chato no início. Cortaram as provocações contra Ender.
Parecia impróprio.
Mas certamente o que eu mais ansiava eram as
Batalhas. “Because in zero gravity
there’s no right side up” – isso ficou incrivelmente bem transposto para o
filme, e os efeitos garantiram que o visual ficasse bonito E crível. Uma pena
que não tivéssemos tempo de trabalhar mais nisso, como as coisas no filme
ficaram bem corridas, mas escolheram momentos-chave que nos fizeram entender o
conceito: a primeira entrada na sala, a primeira guerra no Exército Salamandra,
na qual ele humilha o Bonzo, e a primeira vitória dele contra dois exércitos ao
mesmo tempo. Não ficou evidente a maneira injusta como a Escola tratava as
crianças, com batalhas todos os dias, e em condições absurdamente desleais.
Mesmo que isso tenha ficado evidente de outras
maneiras. O lado humano da história estava representada, e tinha pessoas
preocupadas com a sanidade dessas crianças, em contraponto ao Comandante que
apenas queria construir um líder para a Guerra, mas que não o via como um ser
humano. Quanto mais como uma criança. Por isso mesmo, novamente, as melhores
cenas foram as de Ender desafiando a autoridade, dizendo a Dap que ele ainda
bateria continência para ele (“Yes, you
will, sargent”), ou quando ele resolve deixar a Escola. “Send me home, coronel. Or I will resign”.
Exatamente como no livro, o melhor momento é quando ele se dá conta que os
professores são seus reais inimigos no momento – “I’m not sure. I won’t play this game anymore. I quit”
“I just want him to save lives”
“What about
his life?”
Ironicamente, mesmo que revoltante por todas as ações
desses adultos referente a essas crianças, e à maneira como eles roubam a
infância de todos eles, os manipulando completamente, temos maravilhosos
momentos ternos que precisamos guardar. Como a amizade de Ender e Alai, e a
bonita despedida deles. As ajudas de Petra, que fazem toda a diferença. A
admiração de Bean, o companheirismo de Dink e a transformação de Bernard. É tão
bom vê-los na Escola de Comandante, perto do clímax do filme, que eu me
emociono completamente e quase choro! Aquelas últimas cenas são mais
revoltantes ainda do que todo o resto, mas é bom saber e ver que eles estão
todos juntos para enfrentar isso, pelo menos.
O filme traz interessantes discussões políticas e
especialmente sobre a moralidade – até que ponto o que se faz com essas pessoas
é correto, e como essa guerra pode ser correta também. São os questionamentos
aos quais Ender dá voz antes do fim do filme, e tendo percebido o que fez (sem
querer, sem saber, manipulado como uma peça no jogo maior dos comandantes – “STAY AWAY FROM ME!”), ele sai daquela
nave e consegue arrumar uma nova missão para ele: salvar os Buggers. E é desse
modo que ele se torna o Speaker for the
Dead, o que eu adoraria ter visto mais, mas que infelizmente o filme
cortou. Até porque ficou encaminhado para uma sequência, mas sei que ela não
deve acontecer.
Muita rejeição e polêmica gira em torno do filme,
mas não pelo filme, e sim por Orson Scott Card – tivemos muitos problemas nos
últimos tempos por conta de comentários preconceituosos do autor do livro
acerca do casamento gay. Tendo enchido seu livro de cenas em que meninos correm
nus, imagens de pênis nas telas do computador e lutas entre meninos pelados e
suados, o autor se diz “completamente contra o casamento entre homens”. Tudo
isso causou grande comoção, um boicote ao filme foi organizado em muitos
lugares, e por fim as coisas desandaram para a franquia. Infelizmente. Porque
eu detesto tudo o que o autor pregou sobre o tema, mas eu ADORO o livro e seu
conteúdo, e acho que temos que ver a obra desvinculada do autor, e saber
apreciá-la. Porque é incrivelmente bem escrita, e com muito conteúdo!
Mas enfim… eu amei o filme, amei de verdade, mas
possivelmente por ter me dado aquela sensação de estar lendo o livro mais uma
vez. Mesmo com mudanças, mesmo que não tenhamos tido um Ender novinho e, pior
ainda, não tenhamos explorado a história de Bean, o filme soube captar as
melhores partes do livro e contar sua história em 110 minutos. O livro é bem
amplo e complexo, e muitos e muitos anos se passam, com vários acontecimentos.
Uma adaptação precisava ser feita, e estou contente por termos tido algo tão
bom quanto esse filme, com Asa como protagonista! Quem sabe as coisas não dêem
certo e possamos ver os próximos livros adaptador um dia?
“I have a promise to keep”
É um dos meus filmes favoritos , eu amo como Ender mostra sua inteligência , então no começo eu não gostava . Estou ansioso para o segundo semestre .
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