Vale o Piloto? – The Leftovers 1x01
Intrigante. No mínimo intrigante.
A premissa da série extremamente interessante
levou um grande número de espectadores a conferirem o que a HBO estava se
propondo a contar, e realmente nos levantou uma série de questões. A série é
isso: um material para reflexão. De tom muito introspectivo e repleto de
melancolia, o grande objetivo da série não é explicar, mas sim questionar –
acima de tudo, não nos importamos com quem desapareceu, mas sim com como
desapareceram ou por qual motivo eles se foram. E ainda mais do que isso, quem
se importa com isso? O que mais interessa é ver como as pessoas lidam de
maneiras diferentes com o acontecimento.
Três anos atrás, 2% da população desapareceu.
Simples assim, desapareceram sem nenhum vestígio e nunca mais foram vistas. O
que parece um número razoavelmente baixo de pessoas é, na verdade, milhões e
milhões de pessoas que nos deixaram – e não sabemos nem nunca saberemos onde
eles estão, mas acompanhamos a repercussão de tal acontecimento naqueles que
ficaram. Porque podemos apenas imaginar o tamanho do pânico que seria um
acontecimento dessas proporções na vida real, e a maneira como isso mexe com
nossas mentes a ponto de não sabermos em que acreditamos, ou a quem recorremos
numa situação como essa.
Como a religião explicaria isso? Como os governos
explicariam isso? E no que as pessoas passariam a acreditar? Após tamanho caos
e desespero, as pessoas precisam de algo no que acreditar, e desse modo vemos o
surgimento de seitas, como os Guilty
Remnant, que andam de branco, com voto de silêncio e fumando o tempo todo.
Seguindo pessoas pela cidade, realizando espécies de manifestos “pacíficos”, e
parecendo sombras assustadoras e presenças macabras que nunca se separam. Mas
não são os únicos… também temos Wayne, uma espécie de guru morando em um lugar
isolado cuja localização ninguém pode saber, mas que trabalha com a pretensão
de salvar as pessoas de suas angústias e incertezas, tão presentes nesse mundo.
Muita coisa gira em torno da família Garvey, o que
inicialmente foi uma grande decepção para mim. Eu adorei ver as coisas se
unindo com conexões inteligentes, mas eu também esperava algo mais próximo de Morte Súbita, com um leque de
personagens independentes que pudessem desenvolver incontáveis histórias ao
longo da série. Mas enquanto Kevin Garvey é o protagonista, sua filha está
perdida sem saber o que fazer, totalmente traumatizada, seu filho está
trabalhando com Wayne mesmo que não pareça gostar nenhum pouco disso, e sua
mulher se uniu aos GR e não pode nem ao menos falar com ele no momento…
Quem agüentaria?
As fugas são muitas. Enquanto religiosos no mundo
todo acreditam tratar-se do Arrebatamento (quando todos os cristãos fiéis
seriam levados para o Céu), a política tenta trabalhar com isso da melhor
maneira possível criando um Heroes Day,
em memória daqueles que partiram – desfile homenageoso que foi interrompido
pelos GR, por sinal. E os jovens se lançam a festas regadas a bebida, drogas e
muito sexo, já que aparentemente a vida é curta demais, isso pode acontecer
novamente a qualquer momento, e eles precisam aproveitar… amei como a série
trabalha com suas cenas quase desprovida de pudor, não temendo ousar, não
apenas nas cenas dos jovens e a festa de Jill…
Por mais cenas de Tommy nadando!
Mas foi bastante intenso. A experiência de puro
desespero pela qual os personagens passaram parece nos sugerir muita coisa, e
mexe conosco – a trilha sonora meticulosamente pensada guia as emoções para uma
melancolia profunda, e um suspense psicológico que nos deixa incomodados. The Leftovers consegue conectar-se a
seus espectadores, levar-nos a reflexão, e ainda nos chocar com cenas como o
cervo atacado pelos cachorros e as lágrimas de Kevin enquanto atira, que
parecem tão reais e desesperadoras. O sentimento é esse: desespero. E
melancolia. A série tem uma estréia muito boa que promete uma ótima temporada,
vamos aguardar que o nível se mantenha, e que possamos continuar acompanhando
as repercussões desse desaparecimento…
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