Enders (Lissa Price)
Depois que a
Prime Destinations foi demolida, Callie pensou que teria paz para viver ao lado
do irmão, Tyler, e do amigo, Michael. O banco de corpos foi destruído para
sempre, e Callie nunca mais terá de alugar-se para os Enders. No entanto, ela e
Michael têm o chip implantado no cérebro e podem ser controlados. Além disso, o
Velho ainda se comunica com Callie. O pesadelo não terminou.
Callie Woodland está de volta! Assim como o
universo do Prime Destinations no qual Starters alugam seus corpos para Enders
sentirem-se jovens novamente. Explicação para quem já esqueceu Starters: após a Guerra dos Esporos,
praticamente toda a população entre 20 e 60 anos foram mortos – atacados pelos
esporos, apenas os jovens (Starters) e os mais velhos (Enders) sobreviveram,
por terem sido os únicos a tomarem a vacina, por serem mais vulneráveis. Os
únicos capazes de trabalharem, Enders assumiram o poder, todos os empregos e
centralizaram todo o capital. Starters, com exceção daqueles que tinham avós
com quem morar, passaram a morar nas ruas, com fome, fugindo dos agentes que
querem prendê-los e mandarem para instituições.
Uma das poucas saídas, encontrada por Callie em Starters para salvar a vida de seu
irmão, é ir até a Prime Destinations – uma empresa que aluga os corpos de
Starters para Enders que querem sentir-se jovens novamente; o aluguel dura,
normalmente, alguns dias ou semanas, e então o Starter recupera seu corpo e
ganha um grande valor em dinheiro. No entanto, a inquilina de Callie tinha outros
planos que quase a levaram a um assassinato, e ela se viu muito mais envolvida
em desmanchar esse esquema todo do que jamais imaginou. Ao fim de Starters temos um panorama no qual a
Prime Destinations e o banco de corpos foram destruídos, mas também temos o
nascimento dos Metais: adolescentes que passaram pela Prime Destinations, e
agora ainda carregam o chip em sua cabeça, que permite ao Velho comandá-los.
É justamente nesse cenário que Enders se desenvolve. Vários dos
personagens foram deixados de lado, e não tivemos mais de Blake que tanto
adorávamos no início do livro passado. No início, porque depois o desfecho foi
tão nojento que é bom não vê-lo novamente. A narrativa acelerada de Lissa Price
nos guia por uma série de eventos enquanto Callie tenta de tudo para tirar o
chip de sua cabeça e não ouvir mais a voz do Velho, além de salvar os outros
Metais, a maioria dos quais retornou às ruas depois de deixar a Prime
Destinations. Com a ajuda de Michael e de um novo aliado, Hyden (que se diz
filho do Velho), a história trilhará caminhos bastante lineares enquanto pelo
menos duas bases secretas nos são apresentadas, e nunca é possível saber em
quem acreditar ou não. Do começo até o fim do livro.
No entanto, em vários momentos a narrativa parece
muito manipulada, repleta de eventos convenientes demais. Então as coisas soam
artificiais, forçadas. Mas me parece que o grande desafio de sequências de
histórias como Starters (filmes,
livros…) é manter o tom de novidade. Lembro-me de como foi interessante acompanhar
a história de Callie naquele momento, e descobrir esse universo de banco de
corpos, e de Enders alugando corpos de jovens Starters para sentirem-se jovens
novamente, e do horror que permeava quase toda a narrativa. Já conhecíamos tal
conceito para esse segundo livro, então não pudemos nos surpreender, e não
estávamos curiosos por mais informações disso.
Sem o tom de novidade.
Parece então que a autora esticou sua história
para produzir uma sequência, que não está no nível de seu antecessor. A
história prende, a leitura é rápida, e é ainda muito interessante – mas não é o
marco que Starters simboliza, e não
tem o valor literário que aquele tinha. Não é o que me lembrarei da série. Para
tentar manter o tom de novidade, ou conferir à Enders um novo, Lissa Price quase desmentiu toda a história do
original ao reconstruir alguns personagens, e contar um lado da história não
observado anteriormente, o que realmente redefine o que acreditávamos estar
acontecendo em Starters, e passamos a
ver todo esse panorama de uma forma diferente.
Mas isso só no fim do livro.
Lissa Price consegue manter sua narrativa doentia,
com cenas absurdamente revoltantes como o grande clímax do livro que conta com
todo o show de Brockman, no qual ela é quase obrigada a matar seu pai. Naquele
momento o livro me convenceu de que ainda lia a mesma história que comecei uns
dois anos atrás com Starters, porque
até então o controle sobre o corpo alheio me parecia muito distante do que
tínhamos observado anteriormente… mas é só porque Callie é diferente e
mantém-se consciente, e seu chip é diferenciado, mas basicamente ainda é o
mesmo princípio… mas mesmo quase matando seu próprio pai, é correto afirmar que
ainda não achei tão doente e nojento quanto descobrir a identidade de Blake no
fim de Starters?
Oh, a identidade de Blake! Sabe que eu senti
saudades dele? De fato, quando Hyden apareceu, foi uma das primeiras coisas que
me veio à cabeça: talvez seja novamente o Velho controlando esse novo Starter,
e ainda é o Blake por quem ela se apaixonou. Por mais doentio que isso seja.
Não me passou pela cabeça que toda a história de ser filho do Velho pudesse ser
mentirosa, embora eu nunca tenha
confiado nele. Tudo tão conveniente e uma índole tão “boa” não me pareciam
reais em momento nenhum, e eu não conseguia entender como foi que Callie passou
tanto tempo acreditando tão cegamente nele, mesmo com seus questionamentos
superficiais. Era tão óbvio que ele não era exatamente quem ele dizia ser, e
que não dava para confiar simplesmente…
Mas enfim.
Não sei se eu não me lembro mais de Callie
Woodland tão bem assim, mas ela me pareceu muito mudada para Enders. Menos independente, temos poucas
partes realmente ativas de Callie durante esse livro, que parece confiar
cegamente em Hyden, que acabou de conhecer, por mais absurdo que isso possa
parecer. O ambiente criado para o término de Enders foi muito interessante, e do jeito que eu gosto: fechado o
suficiente para não exigir uma sequência, mas aberto o suficiente para nos
permitir concluir a história em nossa mente e pensar sobre ela por algum tempo.
Foi muito simbólico, e podemos imaginar o que vem em seguida, mas é bom que a
autora não tenha simplesmente entregado tudo mastigado… num todo, foi um livro
muito bom, e fecha bem a história de Starters.
Mas com um final um pouquinho diferente, Starters
poderia ter se sustentado sozinho.
Comentários
Postar um comentário