A Mulher do Viajante no Tempo (Audrey Niffenegger)
Henry DeTamble tem uma rara
condição genética: quando sofre o efeito de uma forte emoção, ele é
transportado instantaneamente para o passado ou o futuro. De quando em quando,
Clare Abshire, sua esposa, se vê sozinha a esperar pelo seu retorno, tal qual a
Penélope da mitologia grega. No entanto, onde poderia haver apenas saudade,
solidão e estresse emocional, eles percebem a dádiva de poder renovar
constantemente seu vínculo, olhando um para o outro sob diferentes prismas.
Transportando-se aos sobressaltos para a infância, a adolescência e a juventude
de Clare, Henry aos poucos desvenda a mulher que ama. E ela, através das
forçadas mudanças de perspectiva, percebe que, de qualquer ângulo, ele é
responsável por alguns dos momentos mais especiais de sua vida.
Finalmente li A
Mulher do Viajante no Tempo. E me apaixonei.
O livro foi a base de um filme (com uma tradução
de título deplorável para o português!) que eu vi há tantos anos que não guardo
qualquer lembrança. Tenho uma vaga lembrança de Henry caído no chão da cozinha,
aparentemente prestes a morrer, mas é basicamente isso. Não me recordo de muito
mais do que isso do filme. Então o livro foi completamente independente, outra
experiência. Apaixonante e incrível. Eu gosto dessas histórias românticas,
porque eu sou naturalmente um romântico incurável e não posso fazer nada, mas
eu também me interessei pela peculiaridade de estarmos, pelo menos de certa
maneira, falando sobre viagens no tempo. O título realmente me chama a atenção,
e eu quis conhecer mais.
É realmente um livro romântico acima de qualquer
outra coisa – embora se chame A Mulher do
Viajante no Tempo, a viagem no tempo não é o foco do livro; mesmo que ela
esteja presente em todos os momentos da narrativa, do começo ao fim, o que
concede uma dinâmica muito gostosa para o livro. Mas a idéia inovadora de
Audrey Niffenegger foi de usar a viagem no tempo como uma maneira de celebrar o
amor sobre o tempo, e representar de maneira belíssima e [acredite] verdadeira
a dor da perda. Então não há nada de científico, mesmo com Kendrick estudando o
distúrbio genético. E Henry DeTamble teria causado inúmeros complexos paradoxos
caso fosse real, mas… é um romance lindo. E não necessariamente linear.
Eu adoro a não-linearidade do livro, como as
coisas vão e voltam, como temos uma cena de Henry aos 27 anos conhecendo Alba
que “veio visitar o seu pai, mas chegou cedo demais”. Gente, que coisa mais
adorável. Ou como temos Ingrid, sendo narrada tão normalmente, enquanto
capítulos antes vimos o horror de seu suicídio perante os olhos de Henry! E o “Henry, para uma pessoa inteligente, às
vezes você pode ser bem tapado” – como a Ing sabia que aquela menininha
linda e adorável tinha que ser a filha dele! Ou como Henry sai de uma crise no
casamento, deixando a Clare aos 30 anos para uma cena com uma Clare antes de
seus 10 anos, nas quais ela é uma inocente menina que tem um amigo estranho que
só aparece para ele… e lhe ajuda nos deveres de casa. E como Niffenegger tem
isso tão bem estruturado em sua cabeça, nos encantando com a maneira como os
tempos vêm e vão, e basicamente todos co-existem ao MESMO TEMPO.
A história do livro acompanha Henry DeTamble e
Clare Abshire, que possuem um relacionamento muito diferente de qualquer outro.
Henry é um viajante do tempo, e não consegue controlar esse distúrbio genético
– então ele pode estar em seu casamento, em 1993, e de repente se ver preso em
1976. Ou mesmo ter duas versões suas na mesma ocasião, aos 30 e 38 anos! Ele conheceu
Clare pela primeira vez quando ela tinha 6 anos (Henry tinha 36 na época), na
Clareira. E desde então ele passou a visitá-la ao longo dos anos, que cresceu
encantada com aquele homem misterioso que aparecia nu e com fome, e que a
ajudava nas tarefas de casa, e era seu amigo.
Aos 18 anos ela deixou de vê-lo, para encontrá-lo em seu presente, com 20 anos,
época em que Henry tinha 28 anos e não sabia quem era ela… mesmo que para ela,
14 anos de visitas já tivessem se passado.
Trata-se de uma história de amor completamente
diferente. Ele vem e vai. Seria uma história comum se eles tivessem se
conhecido em 1991 e sido felizes para sempre – mas para ele, depois dessa data,
ele pulou tantas vezes no tempo, para o passado e o futuro, conhecendo desde a
Clare aos 6 anos, até uma Clare idosa de 82. E ela teve que agüentar os sumiços
do marido enquanto ele viajava no tempo fora de seu controle, esperando o seu
retorno e torcendo para que tudo desse certo e ele voltasse em segurança. O
quanto essa mulher esperou. Ela basicamente passou a vida inteira dessa
maneira: esperando. Enquanto Henry também sofria por ser aquele que partia.
Eles tiveram um namoro, um casamento, uma sequência de tentativas de terem
filhos, com seis abortos, até a morte de Henry no Ano-Novo de 2007.
Para mim, a melhor personagem é Alba. Mesmo que
seja um bonito romance, eu não sou um completo apaixonado por Henry e Clare (e
talvez seja pela maneira nada sentimental como os dois falavam de sexo!), mas
acho que Alba é fruto de um amor verdadeiro, e nasceu depois de tantas
tentativas frustradas e sofrimento. E eu acho ela incrível! Na minha opinião, a
MELHOR cena do livro, de longe, foi quando Henry vê Alba no futuro, com 10 anos
de idade, e ela é perfeitamente adorável. Gosto do futuro, gosto de ela ser
resgatada da escola, de sua inteligência, de sua aparência e de sua
personalidade adorável. Gosto da naturalidade com que lida com o fato de o pai
morto estar ali, e com sua própria condição de viajante no tempo. De IDC. Eu
sou do tipo muito familiar. Eu adoro histórias como essa, de pai e filha. Acho
o amor mais puro. Mais verdadeiro. E todas as cenas desses dois juntos são
belas e bem escritas, e me fazem sorrir como um bobo. Como esse dia na praia,
em 1979, em que Henry tinha 42 anos e Alba 10. Não é simplesmente encantador?
Foi um livro incrivelmente bem escrito, com uma
história original e inteligente. Audrey Niffenegger sabia o que estava fazendo,
e como escrever uma história que brinca com o tempo e a sequência dos
acontecimentos. Tivemos um final encantador e profundamente triste – a maneira
como Clare passou dois anos na cama, aquela belíssima e emocionante carta que
Henry deixou para a esposa! O final, aquela última cena em 2053… emocionante,
mas terrível, daqueles de acabar com você uma última vez. Um parágrafo
belíssimo, um último encontro, um romance lindo. E uma última espera, uma
última demonstração de amor eterno, de perda, de resumo da vida de Clare:
esperando a próxima vez que Henry aparecerá. Lindo, tocante e profundamente
triste. Um livro assim: divertido, maroto e ousado, romântico e triste.
Emocionante. Belo. Recomendo a leitura, com toda a certeza!
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