Doctor Who 9x10 – Face the Raven


“What about me?”
Em uma simples e rápida fala, onde toda a emoção da interpretação tocante de Peter Capaldi se concentrou, ele colocou na voz embargada e nos grandes olhos vermelhos todo o sentimento de desolação que estava nos afligindo também: “What about me?” Nesse momento específico, eu juro que eu não sei o que será do Doctor sem a Clara Oswald, e eu tenho medo que, apesar de todas as promessas que ela exigiu e ordens que deu, o Doctor vá se desviar de seu caminho, porque ele não é bom em estar sozinho, e ele vai ter que lidar com a raiva, a frustração e o medo. Perder Clara Oswald foi doloroso, mas isso estava para acontecer e nós estávamos sendo “preparados” pelo roteiro desde o início da temporada – não quero dizer que eu estava preparado, porque eu não estava, eu não estou, mas toda a sequência de cenas foi linda e emocionante, profundamente triste, daquelas de nos deixar aos prantos, mas foi um diálogo incrivelmente bem escrito em uma belíssima despedida. Tchau, Clara. Você certamente fará MUITA falta.
O episódio começa de uma maneira muito natural e gostosa – foi um bom roteiro sendo desenvolvido, com bom uso de vários personagens que representam grande parte da jornada de Peter Capaldi até agora, mas eu já assisti desde o começo com um nó na garganta, porque eu não sabia como a Clara ia morrer, mas eu sabia que seria nesse episódio; e tudo foi me doendo, aos poucos, porque nós vamos encaixando as peças e percebendo o que está para acontecer. E parece uma morte tão tola, tão simples… não o é, realmente, quando ela chega a acontecer, mas eu estava tendo imensas dificuldades, durante toda a primeira parte do episódio, em aceitar uma despedida em uma morte como essa. Eu não queria que ela fosse embora, se é que isso já ficou claro, e eu acredito que ainda mais do que eu imagino. Amo a Clara, e embora ela não seja minha primeira nem minha segunda companion, ela é a MINHA companion favorita, e independentemente de quem entrar agora em Doctor Who, eu sempre terei memórias ternas para a Clara…
Face the Raven traz de volta Rigsy, da oitava temporada, e quem sabe até uma possibilidade de nova companion – afinal, quando o Doctor reagiu à filha dele com expressões como “Did you make this human?” e “Bring the new human. No, don’t bring the new human, I’ll just get distracted”, eu imaginei que ela pudesse, numa versão futura, vir a ser a companion do Doctor, supondo que ele a conheça lá pelo ano de 2035, ou algo assim. Com uma nova tatuagem em contagem regressiva na parte de trás do pescoço, Rigsy está prestes a morrer e nem sabe o motivo. “There is no nice way to say you’re about to die”, nem os cards de Clara ajudaram. Eu odeio essa crença deles sendo reforçada o tempo todo, com falas como “You’re gonna save me, you’re a doctor, that’s what you do”, quando nós sabemos que isso não é bem verdade, porque se fosse nós não estaríamos nessa situação assustadora de ter que se despedir de Clara Oswald. Mas o episódio e os diálogos fizeram questão de reforçar essa idéia do começo ao fim…
“I guarantee the safety of Clara Oswald” PARA QUÊ ISSO?
E então, enquanto tentam encontrar o lugar onde Rigsy conseguiu aquela tatuagem, uma trap street, nós reconquistamos todo o clima aventureiro e quase infantil da época de Matt Smith, e temos cenas como Clara pendurada da TARDIS, coisas leves e divertidas que quase nos distraem. Era um roteiro excelente se desenvolvendo em frente aos nossos olhos, com aquela busca por um lugar em Londres, escondido no meio de todo mundo, onde um mundo se escondia. Uma espécie de Beco Diagonal onde a Névoa meio que comandava o lugar! E eles acabam encontrando tal lugar, “comandado” por Ashildr/Me, e eu soube que todos meus sentimentos prévios em relação à personagem precisavam ser mais uma vez valorizados, porque como eu nunca consegui realmente gostar dela ou confiar nela, ela se prova exatamente a mesma: traiçoeira. E quando vemos o Corvo matar uma primeira vítima, nós entendemos que o relógio na nunca é transferível, e nossos corpos se enchem de calafrios porque nós entendemos tudo… e então, em questão de poucos minutos de episódio, a Clara já está andando pela cidade com a tatuagem na nuca.
“To break it, in any way, is to face the raven”
Depois disso é uma questão de tempo até que todos desmoronem… e eu desmoronei.
E embora nós soubéssemos, de acordo com o episódio, o que estava para acontecer, ainda assim era um terrível final chocante se aproximando, a expectativa e a apreensão me consumindo, eu pausando o episódio por não querer me despedir de Clara. Anah está viva, a chave da TARDIS a libera, o Doctor fica preso com o teletransportador que o levará embora, o Disco de Confissão é passado para Ashildr, e descobrimos que não há mais o que ser feito: não existe uma maneira de tirar de Clara o relógio, uma vez que ele não pode ser novamente ser transferido para Rigsy, e como Ashildr/Me era quem fizera o contrato com a Sombra, ela precisava entregar-lhe uma Alma, e Clara, ao se enfiar no meio da história, tirou Me do caminho… eu passei por alguns estágios ao longo do episódio; da revolta à raiva; da incredulidade ao desespero. E eu estava exatamente como o Doctor, me recusando a acreditar que não houvesse mesmo nada que pudesse ser feito…
Justamente esse Doctor preconiza uma nova era para ele mesmo. Ele se torna o mais assustador e ameaçador que eu já vi até então, quando ele busca salvar Clara de QUALQUER maneira, sendo verbalmente violento contra Ashildr em uma tentativa de salvar a Clara – e é inegável, conforme acompanhamos na temporada TODA, o quanto ele a ama e o quanto precisa dela. E o quanto faria qualquer coisa para salvá-la. “You will save Clara and you will now or I will bring hell on you for the rest of time […] I can do whatever the hell I like. You read the stories, you know who I am. […] The Doctor is no longer here, you’re stuck with me. And I will end you, everything you love”. Toda a emoção e tristeza do Doctor se manifestam em um desesperado discurso amedrontador, em uma ameaça que finalmente deixa Ashildr quieta e cabreira pela primeira vez em sua longa vida. Mas a Clara interrompeu tudo, pediu que ele lhe ouvisse, e que parasse de falar daquela maneira… as vozes embargadas, os olhos inchados, as lágrimas, a emoção palpável…
…aquilo me destruiu.
E aqui, para a finalização do episódio, nós temos as falas mais bonitas de Clara e os diálogos mais bonitos entre ela e o Doctor. Tudo com uma emoção IMPRESSIONANTE, ele lhe disse coisas como “I should have taken care of you”, e mesmo que ela dissesse “I never asked you to”, ele sabia que precisava ter protegido ela. “You shouldn’t have to ask”. Clara transmitiu a dor e a emoção da despedida de Jenna Coleman, e foi inspiradíssimo como ela fez seu discurso de despedida do programa. Falas como “You. You listen to me. You’re gonna be alone now and you’re very bad at that. You’re gonna be furious, and you’re gonna be sad, but listen to me: don’t let this change you” mostram o quanto ela se importa com o Doctor e o ama e o protege. Falas como “You don’t be a Warrior. Promise me. Be a Doctor” suscitam momentos emocionantes como a resposta dele “What’s the point of being a Doctor if I can’t cure you?” E então quando eles se abraçam, choram, e ele só diz seu nome (e em uma única palavra ele coloca toda a emoção e dor do momento), ela responde: “Everything you’re about to say I already know”.
“Don’t run. Stay with me”
“I know this is gonna hurt you but, please… be a little proud of me. Goodbye, Doctor”
Agora, quando falamos sobre o Doctor, nós precisamos entender que essa não foi uma despedida simples para ele, e não vai ser simplesmente esquecida – eu sinto que Clara será lembrada para sempre, e que talvez o Doctor de Peter Capaldi jamais venha a ter uma conexão tão forte com outra companion, que sempre será comparada à Clara. Afinal ele a amava profundamente e verdadeiramente. Com os dois corações. O próximo episódio trará um Doctor sozinho, “amedrontado” e sofrendo… mas eu gostei como, apesar de toda a fala da Clara, ele ainda soou ameaçador contra Ashildr/Me antes de ser teletransportado, depois da tocante morte de Clara: “I’ll do my best. But I strongly advise you to stay out of my way”. Ele não precisa virar um monstro, e isso não vai acontecer, mas é bom que ele deixe claro o quanto aquilo importa, e o quanto ele vai se lembrar disso, porque a morte de Clara vai ser sentida! “You’ll find it’s a very small universe when I’m angry at you”.
Por fim, aquela TARDIS do Rigsy, em homenagem à Clara, me ajudou a ruir…

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