Off-Broadway – NEVERMORE
The Imaginary Life and
Mysterious Death of Edgar Allan Poe.
É no mínimo perturbador. Quando eu comprei o meu
ingresso para Nevermore – The Imaginary Life and Mysterious Death of Edgar
Allan Poe, eu não poderia estar mais animado. Além de ser sobre um autor
que admiro bastante, ainda tinha toda aquela expectativa por serem ainda as previews,
pelo menos em Nova York. E o espetáculo realmente me surpreendeu! Na verdade,
eu não sabia exatamente o que esperar, mas fiquei bastante surpreso e admirado
com tudo o que foi colocado no palco, e como eles escolheram fazer isso. Como
eles conseguiram capturar o espírito macabro e sinistro da escrita do autor
através da iluminação, das músicas, e dos mais bizarros figurinos possíveis! E
como eles incluíram elementos de várias e várias de suas obras em situações
pelas quais ele realmente passou ao longo de sua vida... então o “imaginary” do
título nem é tão imaginário assim, uma vez que sua vida foi, muito
basicamente, como eles narraram em Nevermore.
Lembro-me da primeira vez em que li sobre Edgar
Allan Poe (e nessa época eu tinha lido The Cask of Amontillado e ouvido
falar sobre The Black Cat), e lembro-me que sua biografia me assustou.
Porque sua vida é, por si só, tão dramática e tão cheia de desgraça, que
realmente quase parece escrita por ele mesmo. Mesmo sem qualquer obra de
ficção, sua biografia verdadeira parece uma brutal obra de ficção – também
lembro-me de ter comentado algo a respeito quando apresentei sobre isso na
faculdade. Assistir a Nevermore me fez sentir como se eu estivesse
naquela sala de aula novamente, apresentando tudo aquilo mais uma vez; porque é
impressionante como os detalhes lhe fogem à memória mais imediata, mas elas
continuam ali, guardadas em sua mente; e aos poucos eu fui lembrando de toda a
vida de Edgar Allan Poe, e prevendo o que estava para acontecer no musical. E
ficava aterrorizado por saber que tudo o que estávamos vendo ali, embora o
título, não era realmente imaginário.
Não tudo.
A base estava correta, a base para a história de Edgar
Allan Poe: ele começa apenas carregando consigo o sobrenome Poe, um nome
amaldiçoado. Depois da morte de sua mãe, ele e os dois irmãos são
separados, e ele vai viver com os Allan. Embora sua nova “mãe” o adore, ele
nunca teve uma relação realmente boa com o novo “pai”. Após a morte de Fanny
Allan, Edgar não consegue continuar vivendo ali – vai para a faculdade, recebe
inúmeras recusas de ajuda de Jock Allan, não consegue publicar seu poema, e
retorna para casa antes do esperado. Quando vai morar com a tia, Edgar Allan
Poe acha que vai ter uma vida normal – e nunca mais vê a irmã, enquanto o irmão
também morre de tuberculose, exatamente como a mãe. Jock Allan, por outro lado,
também morre e nem chega a citar Edgar em seu testamento. Edgar se casa, mais
tarde, com Sissy Clemm, sua prima – e depois de certa ascensão e nova desgraça,
ela morre, também de tuberculose. E quando ele reencontra o amor do passado, de
seus 15 anos, marca casamento e tudo... morre, antes de chegar o dia.
E sua morte é toda envolvida em mistério, como ele é
encontrado em um trem.
Parece que tudo isso se reflete na obra de Edgar Allan
Poe, e eu sou realmente apaixonado por sua escrita. Não li assim tantas de suas
obras, não posso me chamar de expert, e por momentos sinto que falhei em
captar as referências no musical – mas eu gosto da intensidade com a qual ele
escreve. Ele é tão detalhista e tão cruel, que seus contos são realmente um
deleite, e te fazem sentir o que quer que seus personagens estejam sentindo.
Você anseia por mortes, por vinganças, e se sente incomodado também com coisas
como aquele olho. Acho que o motivo pelo qual a obra de Edgar Allan Poe
é tão famosa e as pessoas se entregam tão devotamente a ela é isso: a possibilidade
de viver coisas que não ousamos desejar na vida real. Ele fala sobre
sentimentos realmente ruins, aqueles que as pessoas buscam esconder e
fingir que não têm – e há um prazer oculto em escrever e ler sobre
coisas que você não pode realmente ter.
Enquanto todas essas passagens da vida de Edgar Allan
Poe são contadas através das músicas e belíssimas cenas, temos uma abundância
de narração e referências. A narração consegue dar um tom ainda mais soturno,
mais macabro ao que estamos assistindo. A maneira assustadora como eles falam
proporciona isso. E durante a vida dele, várias coisas vão acontecendo que
podemos, posteriormente, encontrar em suas obras, e eu acho que esse é o grande
diferencial de Nevermore – The Imaginary Life and Mysterious Death of Edgar
Allan Poe. O musical pode ser usado como uma aula sobre o autor, sem
qualquer problema. Sua biografia fica claríssima, e ainda tentamos buscar todas
as referências às suas obras em um processo incessante de dissecação e
tormenta. Uma obra assustadora, brilhantemente pensada, que faz a ida ao teatro
valer a pena. Mas você precisa entender alguma coisa de Edgar Allan Poe
para realmente apreciá-la.
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