On Broadway – Cabaret
Leave your troubles outside!
Eu realmente adoro a maneira como Cabaret acaba
não sendo exatamente o que você espera que seja. Eu já tinha assistido à
produção brasileira, então digamos que eu conhecia a história, e sabia
exatamente o que esperar – ainda assim você acaba sendo surpreendido. E acho
que Cabaret é todo construído em cima dessas pequenas surpresas: como o
palco, ou a interação entre os atores, ou a maneira como os personagens
principais não são aqueles que você espera que sejam. Sei lá. Também a
história, que você espera que seja apenas uma horda de libertinagem, e no fundo
você descobre que há um pano de fundo bastante diferente: o cenário é Berlim;
Alemanha nos anos de 1929 e 1930, enquanto o nazismo estava crescendo, e todos
nós sabemos como essa história terminou.
Mas também não se engane: há um grande apelo sexual.
Em se tratando de um cabaré, eu acho que isso precisa acontecer! E eu adoro a
maneira como tudo isso parece não ter pudor nenhum, como os atores parecem não
conhecer vergonha. E como nos deliciamos assistindo a esse tipo de coisa! É um
show bastante liberal – há algo de pervertido na maneira como as histórias são
contadas, mas também há um quê de sensualidade implícita que é, talvez, ainda
mais bacana! Musicais como esse realmente me fazem repensar momentos que não
vivi, mas que, como todo mundo, projeto em minha mente: vários musicais antigos
da Broadway falam sobre sexo, sobre homossexualidade, e são revolucionários
ainda hoje! Cabaret foi encenado pela primeira vez na Broadway em 1966,
e eu imagino as reações daqueles que o viram pela primeira vez! Ganhou um revival
na Broadway em 1987, em 1998 e por fim em 2014.
Continua sendo chocante.
E como eu disse, não apenas por toda sua conotação
sexual, mas por toda sua outra história que se confunde à história do cabaré.
Mesmo que o protagonista seja o Emcee, e ele permeie todas as cenas, sendo elas
no cabaré ou não, o musical é a história de Clifford Bradshaw. Ou pelo menos
todo o pontapé inicial para a história vem dele. Um aspirante a escritor que
chega a Berlim com o intuito de escrever o seu livro... na cidade, acaba
conhecendo Sally Bowles e Bobby, com quem teve um caso em Londres. Também se
hospeda na casa de Fräulein Schneider, uma mulher que se apaixona e marca
casamento com Herr Schultz, um judeu numa Alemanha na qual o nazismo ganha cada
vez mais força. Cliff, tendo conhecido Max no trem no dia de sua chegada, acaba
se tornando seu amigo, e dando-lhe aulas de inglês, sem saber que ele é um
nazista. E tudo isso explode quando Fräulein Schneider e Herr Schultz anunciam
seu casamento.
Como você pode ver, toda a trama é muito mais complexa
do que você imagina, quando pensa uma primeira vez sobre Cabaret. E eu
acho que essa é uma das mais deliciosas surpresas. Quando o musical começa com Willkommen,
você está tendo exatamente aquilo que esperava – e em meio a tantas cenas do
cabaré, há tanta dança sensual, você se pega torcendo pelo casamento de uma
alemã e um judeu, mesmo que sua razão lhe diga que isso não pode dar certo. E a
maneira como as coisas crescem e se tornam mais impactantes no segundo ato! O
segundo ato não se parece em nada com o primeiro – você passa ele todo
completamente angustiado, com um nó na garganta, e você se pergunta como todas
aquelas promessas do Emcee no começo do espetáculo levaram a isso: a um final
repleto de desgraça, no qual aparentemente ninguém foi feliz. E acaba com o
horror do nazismo tomando conta da Alemanha, e convenhamos: como é que isso
poderia ser diferente? Você não acaba feliz, ou pervertido. Você acaba
quase horrorizado.
Uma bela narração que te conduz por caminhos que você
não esperava.
Até metade de fevereiro, Emma Stone estava no papel de
Sally Bowles – e tive o prazer de assistir com ela no palco, mas na verdade eu
não consigo realmente gostar da personagem de Sally, então... todo o
elenco estava de parabéns. Difícil não comparar à versão apresentada no Brasil
em 2012. Entenda que a versão do Brasil veio antes desse revival de
2014, e as coisas mudam em revivals... sinceramente, até preferia o
nosso! Tudo nesse Cabaret atual da Broadway parece simples, em termos
técnicos, quase precário – e isso reflete muito bem a atmosfera esperada para o
segundo ato. O texto e as músicas não foram alterados, no entanto. A idéia foi
baseada em uma peça chamada I Am a Camera, de John Van Druten. Quanto ao
musical, o livro fica por conta de Joe Masteroff, música de John Kander e letra
de Fred Ebb.
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