Carinha de Anjo – Visitas ao Quartinho Velho
“Cuándo te sientas en una silla, y en esa silla
también me siento yo”
Há quem reclame do chamado “dramalhão” que algumas
novelas mexicanas trazem – bem, digamos que o México é justamente famoso por
todo o drama que imprime às suas tramas e tudo o mais, mas é um pouco diferente
com Carinha de Anjo. Diferentemente
de novelas como Maria Belém, que
trazem uma protagonista muito sofredora, uma criança triste que fica chorando
pelos cantos e sofrendo o tempo todo, não é o caso de Dulce Maria, a
protagonista de Carinha de Anjo. De
jeito nenhum. Há todo um drama, certamente, especialmente com todo o arco que
envolve Cassandra, mas Dulce Maria não se abala. Com apenas 5 anos de idade,
ela perdeu a mãe quando era muito novinha, e o seu pai foi para a Europa dois
anos atrás e a deixou em um internato de freiras, mas por isso ela fica chorando
e se lamentando pelos cantos da escola como algumas outras protagonistas fariam
em suas novelas?
Não.
DE JEITO NENHUM.
Isso é belíssimo em Carinha de Anjo, e provavelmente uma das coisas que sempre nos
encantaram na novela – ela traz uma leveza impressionante, e a Dulce Maria tem
a capacidade gigantesca de nos fazer sorrir. Nós e a qualquer um que esteja por
perto dela… é impossível ficar triste perto dela. A maneira otimista como ela
leva a vida a assemelha a Pollyanna, de Eleanor H. Porter. Ela está sempre
sorrindo, soltando coisas engraçadíssimas que nos fazem sorrir,
independentemente das condições em que esteja. Seqüestrada por ladrões, ela
conversa com o “tio ladrão” e lhe diz que roubar é uma coisa muito feia;
seqüestrada por Cassandra, ela solta coisas como “Mas eu não trouxe o meu maiô!” e depois ainda dedica sua Primeira
Comunhão para que ela fique bem. Dulce Maria é uma criança doce, com uma
bondade infinita em seu coração, que não permite sombras ou sofrimento. Ela
sorri, ela se diverte, ela apronta travessuras.
Não só é uma criança felicíssima, como deixa todos
ao seu redor FELIZES.
E à morte da mãe ela cria uma maneira de sempre
estar em contato com ela – ela recebe o amor de todos ao seu redor, da Irmã
Cecília e da Irmã Fabiana, e da Tia Peruca, mas sua fantástica imaginação lhe
permite criar um mundo no qual ela ainda pode conversar com Angélica, sua
mãezinha. Por isso, Dulce Maria sempre pede às irmãs que elas lhe levem ao
Quartinho Velho que existe nos fundos da escola, porque “quer pensar”. Aquele é
o único lugar no qual sua mamãe aparece para lhe dar apoio. E Dulce Maria a
procura nas mais inusitadas situações, e para motivos diversos… seja para
contar sobre a alegria de seu papito estar retornando, seja para contar-lhe
sobre como andam as coisas na escola, ou para perguntar-lhe se tudo bem se ela
chamar a Cecília de mamãe, agora que ela se casou com seu papito. E são sempre
cenas repletas de ternura e emoção, nas quais Angélica demonstra um amor
profundo por sua filha que não a esquece.
Sua carinha
de anjo.
Quanto das visitas são reais nós nunca saberemos –
a novela dá a entender que a Angélica está sempre presente, aparecendo na
igreja no dia do casamento ou da Primeira Comunhão de Dulce Maria, diferente da
trama original, Mundo de Juguete, no
qual nem o quartinho existe porque é tudo fruto da imaginação da garota. Dulce
Maria tem uma mente inventiva encantadora e infantil, criando mesmo mundos
fantásticos e situações maravilhosas que nos fazem sorrir com tanta inocência,
em cenas que me fazem pensar um pouco em O
Fantástico Mundo de Bobby, mas Angélica também lhe dá informações que ela
não poderia criar sozinhas, como a maneira de se despedir do pai ou amarrar o
guardanapo em seu pescoço para que ele não suje a gravata – coisas que Angélica
fazia quando viva e que ela ensinou Dulce Maria a fazer; ou mesmo a informação
sobre a mãe de Cassandra, para ajudar no tratamento.
O importante é que Dulce Maria é uma criança feliz
que, além de todo o amor que ela já tem entre os vivos, na sua família e na
escola, ainda tem a presença eterna de uma mãe, que mesmo tendo morrido, está
sempre disposta a aparecer e oferecer o seu colo para Dulce Maria e os seus
ouvidos para escutar as mais diversas histórias, ouvir as perguntas, dar
conselhos, abraços, carinho e amor. Eu acho uma maneira bonita de celebrar o
amor, e mostrar que uma criança, por mais jovem que ela seja, não vai
esquecer-se de sua mãe e, mais importante ainda, da sensação de ser amada por
ela, porque teoricamente é isso que Dulce Maria nunca deixou para lá. Ela sabe
que sua mãe lhe amava muitíssimo e que, onde quer que ela esteja, ela sempre
continuará a amando e a protegendo, como um verdadeiro anjo que está disposto
sempre a cuidar dela. Não é uma mensagem muito bonita? “Eu te amo. Minha Carinha de Anjo”.
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