Guerra Civil (Stuart Moore, adaptado dos quadrinhos de Mark Millar e Steve McNiven)


Homem de Ferro e Capitão América: dois pilares da mais poderosa equipe de super-heróis do mundo, os Vingadores. Eles lutaram lado a lado, detiveram ameaças mortais de todo o polaneta, e se tornaram grandes amigos. Não mais. Uma trágica batalha deixa um buraco no centro de Stamford, Connecticut, matando centenas de pessoas. O governo americano reage rapidamente, ordenando que todos os super-heróis revelem sua identidade e registrem seus poderes. Para Tony Stark, o Homem de Ferro, é um passo lamentável, porém necessário, o que o leva a apoiar a lei. Para o Capitão América, é uma intolerável agressão à liberdade cívica. O resultado: a Guerra Civil entre a comunidade dos super-humanos.

“Estou realmente muito sozinho. Mas sabe de uma coisa? Eu consigo dormir à noite”
Uma leitura verdadeiramente intensa, de nos deixar tão divididos a ponto de, no fim das contas, não saber nem avaliar o resultado – eu não acho que o livro tenha tentado nos dividir entre Capitão América e Homem de Ferro, não me pareceu isso. Tive a impressão de que sempre foi muito claro o lado que estava lutando pelo o que era certo, qual deveríamos apoiar… no entanto é justamente o lado que perde no fim das contas, e isso proporciona um final melancólico e uma drástica mudança na ordem mundial dos super-humanos que me preocupa. Eu não sei o que pensar a respeito de toda a trama depois que as coisas acabaram como acabaram… depois que o Capitão América teve aquele epílogo contra o epílogo completamente diferente do Homem de Ferro. E a dor do Homem-Aranha. De todo modo, é um trabalho belíssimo e intenso, de leitura frenética e capacidade de nos deixar sem fôlego. Um trabalho preciso de Stuart Moore, independente de todo o trabalho necessário para adaptar os quadrinhos de Mark Millar e Steve McNiven à prosa.
Nunca gostei do Homem de Ferro – e eu acho que essa é uma informação importante para guiar a minha review daqui para a frente, juntamente com as duas grandes informações que eu darei ao longo desse mesmo parágrafo. Mas o Homem de Ferro, ou o Tony Stark NUNCA me desceu por toda sua atitude arrogante de playboyzinho metido que nasceu em berço de ouro, e muitas vezes me parece que as histórias parecem ignorar a quantidade de atrocidades que ele comete e como ele é o principal culpado de MUITA coisa ruim que sempre acontece… não foi ele o responsável por Ultron, no filme, por exemplo? Informação número 2 importantíssima para que você entenda minha posição: o Capitão América é o meu segundo herói favorito dentro do Universo Marvel; me fascina sua índole, seu caráter indiscutível, e a maneira como ele sempre luta para fazer o que julga certo, com uma humanidade inigualável. E informação número 3: o Homem-Aranha é o meu herói favorito de todos os tempos.
Você já entendeu então, não é?
Obviamente eu tomei o lado do Capitão América ao longo dessa Guerra – a tragédia de Stamford é uma calamidade lamentável, certamente, e as pessoas reagem a ela de maneira distinta. Talvez eu tivesse apoiado a Lei de Registro caso não fosse encabeçada por toda a arrogância de Tony Stark, porque em seu cerne primário, era uma idéia interessante para garantir a segurança da população e inspirar segurança. Não questiono nada disso. Questiono, no entanto, a extremidade a que as coisas são levadas pela figura de Tony Stark, querendo a autoridade suprema, e por Maria Hill, a Diretora temporária da S.H.I.E.L.D. após a morte de Nick Fury. A quantidade de ações questionáveis é bizarra, e a maneira como Tony Stark age não pode ser apoiada. Não pelo resultado que ele quer, mas pelos meios que ele usa para atingi-los. Construir, por exemplo, um clone violento e mortal de Thor é uma atrocidade sem tamanho. Que culmina na morte de Bill Foster! Manipular o jovem e influenciável Homem-Aranha também. Ou lutar contra seus “amigos” heróis, deixando o Capitão América à beira da morte.
A trama está repleta de carga emotiva, política e simbolismo.
Dentre os momentos marcantes e/ou chocantes, destaquemos alguns. A Lei de Registro Superhumano passa a encarar pessoas como o Capitão América como criminosos, igualando-os a criminosos perigosos, e Tony Stark os coloca no mesmo patamar e no mesmo tipo de prisão na Zona Negativa – eu gosto de cada vez que Tony Stark é contrariado, por exemplo; seja por Capitão América em “Você realmente acha que vou me render para um playboy mimado feito você?”, ou pelo momento eletrizante quando Sue Richards defende a Resistência e deixa o Quarteto Fantástico, e ainda o Demolidor entregando uma moeda de prata para ele: “Agora você tem trinta e uma moedas de prata, Judas”. Os atos chocantes de Stark são comparados ao fascismo continuamente (em várias cenas memoráveis, como o Homem-Aranha lhe cumprimentando com um gesto nazista) e sua armadura vermelha é ressaltada como representação de seus atos cruéis, tratando heróis como judeus em campos de concentração. Não parece um pouco além do limite quando ele recruta vilões como o Venom para lutar contra a equipe do Capitão América?
Os Thunderbolts!
Cadê os princípios do Homem de Ferro? Ah é, nunca existiram.
A participação do Homem-Aranha é importantíssima e um dos grandes alicerces de Guerra Civil – constantemente caracterizado como um dos mais poderosos super-humanos que existem (inclusive tendo poderosas cenas de ação de deixar o Homem de Ferro acabado!), Tony Stark quer recrutá-lo para o seu lado… é desse modo que ele acaba revelando a sua identidade secreta primeiramente à Tia May (que diz já saber em uma cena muito bonita, logo depois de perguntar se ele é gay porque quer contar um segredo) e depois a todo o mundo. Como um herói poderosíssimo mas jovem, o Homem-Aranha luta para entender o lado certo, e é bonita a maneira como ele vai gradualmente tomando consciência, como ele se dá conta que estar do lado do Homem de Ferro não é o certo, e luta contra ele em uma cena eletrizante, mas acaba atacado pelos Thunderbolts e é assustador… mas é acolhido pela Resistência. Adoro vê-lo de volta em seu uniforme azul e vermelho, adoro vê-lo ao lado do Capitão América, usando todo seu sarcasmo e cinismo contra o Homem deFerro.
E o seu poder.
O livro é, do começo ao fim, eletrizante – com fantásticas cenas de ação muito bem coreografadas (perigosos e elaborados balés, como o autor descreve a última batalha) e uma infinidade de personagens. É impressionante o quanto prendemos a respiração na última batalha, no Edifício Baxter e na Times Square, onde vários prisioneiros são libertados da Zona Negativa e se juntam à Resistência, e finalmente, com os atlantes de Namor ao lado deles, nós pensamos que a Resistência tem chance. Até o momento de clareza do Capitão na figura de pessoas que o puxam para fora da batalha e para a realidade de que eles estão apenas se destruindo e destruindo seus arredores, mas pararam de lutar pelo bem do povo. E então ele se entrega. Me doeu DEMAIS vê-lo tirar o capacete, vê-lo se identificar como Steve Rogers. Vê-lo rendido. Então a Guerra chegou ao fim, Tony Stark saiu vitorioso depois de todos os acontecimentos, mesmo estando errado continuamente sobre como fazia as coisas.
Foi um final doloroso e controverso. Cruel.
América preso e Tony exaltado, novo Diretor da S.H.I.E.L.D., no topo.
Pelo menos a figura do Homem-Aranha novamente ressalta o que era certo. O que ele escolheu no final. Que era estar do lado do Capitão América e da Resistência, não ao lado da bruta violência e ego inflado de Tony Stark e seu precioso Homem de Ferro.

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