WICKED Brasil – Texto 3 de 3


“Como alguém me disse: todos têm direito de voar!”
As músicas de Wicked são fortíssimas, e precisam ser para contar a belíssima história das Bruxas de Oz, Elphaba e Glinda, e como os seus destinos se cruzaram na faculdade e como muita coisa além daquilo que vimos através dos olhos de Dorothy em O Mágico de Oz também estava acontecendo naquela Terra Mágica de Oz. Assim, traduzir esse musical não era a coisa mais fácil do mundo, mas a equipe brasileira conseguiu nos entregar uma linda versão, com algumas músicas que ficaram ÓTIMAS e poucas que deixaram a desejar. Acho que a interpretação fantástica, por exemplo, de Myra Ruiz em Todo Bem Tem Seu Preço (No Good Deed) nos envolve muito mais do que a letra; bem como a irreverência de Fabi Bang em Popular, da qual eu me lembro pouquíssimo da letra em português, mas adoro a cena como um todo, que é uma das minhas memórias mais gostosas de Wicked. Só acho que a tradução de You-Know-Who para Aquele alguém (ou algo assim) na primeira música é triste, porque Você-Sabe-Quem também se encaixaria na métrica e não perderia a referência a Harry Potter, àqueles que pudessem entendê-la.
Eu a estava esperando.
Também “Na Imensidão”, que não faz jus totalmente a “Unlimited…”
Mas vamos por partes. Elphaba tem várias músicas que eu adoro, como é o caso de O Mágico e Eu (The Wizard and I), que é o primeiro solo da personagem no musical, e é arrepiante, além de ser doloroso, porque fala da visão dela da celebração em toda Oz que tem a ver com ela (é, na verdade, a comemoração por sua morte) e o uso da expressão “derreter”. Depois, quando ela tem aquele rápido momento com o Fiyero, ajudando o filhote de leão, mas ela sabe que ela não tem chance com ele, ela canta um triste Não é Pra Mim (I’m Not That Girl) que é de partir o coração. Agora, Desafiar a Gravidade (Defying Gravity) é ESPETACULAR, possivelmente o MELHOR momento do musical, com ela subindo lindamente no palco e levitando enquanto voa com sua vassoura em direção ao Oeste, e a voz de Myra Ruiz explode de forma lindíssima e marcante. Pereito! Por fim, eu adoro Todo Bem Tem Seu Preço (No Good Deed), porque eu a considero uma das músicas mais fortes de toda a produção, e ela me deixa todo arrepiado. Porque não é só a transformação de Fiyero em Espantalho, mas toda a raiva e frustração contida nela e a decisão que a transforma, definitivamente, de Elphaba em Bruxa Má do Oeste.
É impactante.
Glinda começa o musical cantando, logo depois que o povo de Oz começa a celebrar a morte da Bruxa Má do Oeste. E ela tem aquela sua voz lírica clássica maravilhosa desde Sem Perdão à Bruxa (No One Mourns the Wicked), mas não é tudo o que ela faz, de modo algum. Nós temos, também, Popular (Popular), que é um dos momentos mais DIVERTIDOS do musical, quando Elphaba e Glinda retornam da festa e ela decide ajudar a nova amiga. Fabi Bang estava sensacional com sua varinha que não funcionava, com sua determinação e com seus passinhos hilários. Sempre uma das melhores cenas do musical, certamente não foi diferente por aqui. FANTÁSTICO. Eu gosto bastante, por mais doloroso que seja, quando ela canta Não é Pra Mim (I’m Not That Girl) no segundo ato, apropriando-se da música de Elphaba quando Fiyero a escolhe sobre Glinda. É emocionante, mesmo que muito rápido. Também é ela quem inicia o segundo ato com a paradoxal Que Dia / Não Dá Pra Ser Mais Feliz (Thank Goodness), porque ela está expressando todo um sentimento de calma e felicidade quando está destruída por dentro pela ausência de Elphaba.
Com as duas juntas, eu acho legal pensar em toda a relação de Elphaba e Glinda. Diferentemente do livro de Gregory Maguire, a amizade de Elphaba e Glinda é o grande cerne de Wicked como musical! Glinda está, de sua bolha, fazendo o anúncio da morte da Bruxa Má do Oeste quando lhe é feita a pergunta: “É verdade que vocês duas eram amigas?” E então nós as conhecemos na faculdade, desde quando elas são obrigadas a dividir um quarto por causa de um mal-entendido, com Ódio (What is This Feeling?), que é divertidíssimo até quando elas têm uma amizade forte a compartilharem em Tudo Mudou (For Good), que é um momento repleto de emoção e sentimento, aplaudido loucamente pela plateia enquanto as duas fazem suas declarações sobre a importância uma na vida da outra e se abraçam. A relação das duas passam por transformações sutis, como “Como irmãs / Mais que irmãs”, na Cidade das Esmeraldas, durante Venha Ver (One Short Day) e desejos que “Você seja bem feliz” em Desafiar a Gravidade (Defying Gravity), no fim do primeiro ato.
Fiyero, lindíssimo e sensualíssimo Fiyero, interpretado por André Loddi quando eu assisti, ele não tem lá tantas músicas, mas a primeira dele, É Só Dançar (Dancing Through Life) é uma das melhores músicas de Wicked! É grande, é envolvente, e é uma belíssima apresentação para o personagem. Dali, nós só vamos vê-lo cantar novamente em Se Eu Tenho Você (As Long As You’re Mine), no segundo ato, com Elphaba, e é uma cena apaixonante. Eu sempre fui fascinado por esse momento do musical, por mais simples que ele o seja. Já o assisti com inúmeros atores na versão em inglês, e é sempre muito emocionante e muito intenso. Se Eu Tenho Você exige essa entrega dos atores, essa intensidade transmitida pelas mãos que não deixam de tocar o outro, e a voz que transmite todo o sentimento e o desejo de um pelo outro. É incrível. E André Loddi estava excelente. As demais músicas são cantadas por todo o elenco e são tão grandes, tão emocionantes que nos enchem, nos divertem e nos fazem chorar. Quem não chora com a reprise de Sem Perdão à Bruxa (No One Mourns the Wicked) no final, quando Elphaba e Glinda compartilham, uma última vez, um verso de Tudo Mudou (For Good)?

Para outros musicais no Brasil, clique aqui.


Comentários