A playlist de Hayden (Michelle Falkoff)
PARA SAM. OUÇA.
VOCÊ VAI ENTENDER.
Não exatamente, Sam. Você não vai entender, mas a playlist
de Hayden é um presente que vai ficar para sempre, a presença de seu melhor
amigo ainda o acompanhando, uma carta de despedida e uma última ajuda… uma
última declaração.
“Isto é o
que Sam sabe: Houve uma festa. Houve uma briga. Na manhã seguinte, o melhor
amigo de Sam, Hayden, estava morto. Tudo o que ele deixou para Sam foi uma
playlist – e um bilhete. O que Sam não sabe é: POR QUÊ? Depois da morte de seu
amigo, Sam parece um fantasma vagando pelos corredores da escola – o que não é
muito diferente de antes. Ele sabe que tem que aceitar o que Hayden fez, mas se
culpa pelo que aconteceu e não consegue mudar o que sente. Enquanto ouve música
por música da lista deixada por Hayden, Sam tenta descobrir o que exatamente
aconteceu naquela noite. E, quanto mais ele ouve e reflete sobre o passado,
mais segredos descobre sobre seu amigo e sobre a vida que ele levava.”
Quando eu encontrei o livro, por acaso, enquanto
passeava pela livraria, a capa me fez pensar em alguns livros calmos e
tranquilos, divertidos como Nick &
Norah, de David Levithan e Rachel Cohn. A sinopse, por outro lado, me
trouxe depressa à mente a história de Jay Asher: Os 13 Porquês. Mas não. A história de Michelle Falkoff é uma
história contada por ela, sobre “perda, raiva, superação e bullying”, e sobre
“encontrar esperança quando essa parte parece ser a mais difícil”. A playlist de Hayden é uma bonita
história de superação – a história de um garoto, o Sam, que precisava aprender
a viver novamente quando um de seus bens mais preciosos foram arrancados de si:
seu melhor amigo. E com um tom melancólico e bonito, o livro nos ensina a ter
esperanças.
Eu me comovi bastante lendo o livro, e fiz um
monte de suposições erradas que não me levaram a lugar nenhum… Sam e Hayden
eram melhores amigos, isolados, e tinham uma história bem bonitas juntos:
amigos desde sempre, e únicos amigos, à princípio, eles não podiam ser mais
diferentes e mais iguais. Ao mesmo tempo em que Hayden tinha dinheiro mas vivia
um inferno de vida e era atormentada pela Trifeta do Bullying (comandada por
seu irmão mais velho), ele sentia uma certa segurança na vida simples e pacata
de Sam, e estar ali, com a família do amigo, lhe fazia muito bem. E eles eram
próximos desde sempre, também conectados por gostos musicais, pela
personalidade geek que os colocava em
discussões sobre graphic novels,
filmes e seriados de televisão, por exemplo…
O que chega até a Donnie Darko <3
A narrativa super envolvente de Michelle Falkoff
nos leva a sentir a dor de Sam… no começo do livro, eu estava tão obcecado
quanto ele por entender alguma coisa a partir da playlist deixada por Hayden, e
também estava com um sentimento terrível de pura dor. Que foi se suavizando conforme o tempo se passou, e eu acho
que essa era a idéia da autora… com um personagem que me lembrou o Coelho de
Donnie Darko – o Arquimago_Ged –, Sam aprendeu a se soltar, a falar. A ir em
busca de informações, porque ele queria entender por que o amigo se matou
naquela noite. E ele precisava que alguém lhe mostrasse que ele não era o
culpado. Ou que não era o único
culpado, pelo menos. É assim que ele chega a Astrid, que ele chega a Eric, que
ele chega a Jess…
E as peças vão se encaixando lentamente.
Confesso que eu fiz, mesmo, suposições muito
equivocadas. Adivinhei coisas aqui e coisas ali, imaginei coisas que nunca se
materializaram… mas a narrativa está bem amarrada e faz todo o sentido. Os
membros da Trifeta do Bullying – Jason, Trevor e Ryan – vão pagando por tudo o
que fizeram Hayden sofrer. A homossexualidade de Jason é exposta, Trevor é
espancado depois de uma festa… e Sam descobre que mesmo que ele possa ser o
responsável por esses ataques, ele não quer ser, e no fundo não quer que nada
de ruim aconteça com Ryan. Porque essa não é a resposta, não é o que vai trazer
Hayden de volta ou fazê-lo viver mais tranquilamente dali em diante… e o livro
termina de maneira surpreendente e, para mim, completamente satisfatória:
porque ele foge dos maiores clichês,
e não aposta num final “feliz” para Sam, por exemplo…
…apenas esperançoso.
“Eu jamais
vou superar tudo isso.
Sei que
essa frase pode ser verdadeira agora, mas também sei que não superar não
significa que algum dia eu não serei capaz de seguir em frente e viver a minha
vida”.
Porque Sam não precisa estar FELIZ, mas ele
precisa ter se dado conta de que a vida pode seguir, e isso ele teve. Ele
também não vai ter um final de contos de fadas, felicíssimo com Astrid e
pronto, mas ele aprendeu algumas coisas naquela história toda. Uma narrativa
muito intensa, repleta de mensagens, e com uma linguagem bem atual e bem jovem
– o livro conversa conosco. E nos toca. Não era exatamente o que eu esperava
quando eu peguei o livro para ler, algum tempo atrás, e também não acaba da
maneira como eu imaginei enquanto eu lia o livro, mas eu admiro imensamente a
sutileza da esperança na vida colocada em finais abertos, bonitos e rumando
para a felicidade futura… a conversa com Ryan, a possibilidade de um último
presente a Astrid… eu gosto do fato de Michelle Falkoff ter sugerido mais do que exposto, pelo menos
no fim do livro.
E ela me convenceu de que as coisas vão, sim, ficar
bem.
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