Naomi & Ely e a Lista do Não Beijo (David Levithan e Rachel Cohn)


Não é fácil. As coisas que realmente importam não são fáceis. Os sentimentos de alegria são fáceis. A felicidade, não. Flertar é fácil. Amar, não. Dizer que é amigo de alguém é fácil. Ser amigo de verdade, não.

A amizade é tão amor quanto qualquer romance.
Eu realmente acho que David Levithan é um dos melhores autores que eu já li na vida… eu estou no quinto livro do autor (se as minhas contas estiverem certas!), e eu continuo completamente apaixonado. Eu sei que esse não é um trabalho independente dele, mas ele como constante nas obras: ele realmente me faz sentir muitas coisas enquanto eu leio o livro. É mais do que as risadas de Garoto Encontra Garoto ou a profundidade assombrosa de Dois Garotos se Beijando. São, sim, dois EXCELENTES livros, bem como Naomi & Ely, mas o que eu estou tentando dizer é… sei lá, que ao ler David Levithan, eu realmente me sinto lendo algo verdadeiro, como se ele soubesse o que escrever para mim, e ele escreve com uma propriedade e uma veracidade incomparáveis. Os livros são muito humanos, bem como os personagens e os temas…
Simplesmente INCRÍVEL.
Dessa vez, sendo a primeira obra conjunta de David Levithan e Rachel Cohn que eu li (ainda quero ler Nick & Norah e Dash & Lily), eu me admirei com o bonito relato de uma amizade verdadeira, e de todas as dificuldades dela. Porque eu não acho que a amizade seja algo fácil… “ser amigo” é uma coisa, agora estar ali nos momentos mais difíceis e passar por algumas coisas é diferente. Talvez as amizades sejam os relacionamentos mais complicados. E por ventura os mais recompensadores. Eu peguei Naomi & Ely para ler assim que o vi na livraria, e não foi só porque Ely era gay, embora eu realmente ache que David Levithan SABE escrever sobre o assunto com muito conhecimento [!], mas porque eu estava interessado nessa obra de ficção em que os dois protagonistas eram melhores amigos. Porque o valor da amizade é, realmente, inigualável.
E, como qualquer amor, é difícil, traiçoeira e confusa.
Basicamente, Naomi e Ely foram amigos desde sempre… eles cresceram juntos, e continuaram assim mesmo nas fases mais turbulentas, de quando uma das mães de Ely teve um caso com o pai de Naomi. Juntos, eles passaram pela infância, adolescência, e criaram a “Lista do Não Beijo”, com os garotos que, supostamente, nenhum dos dois tinha autorização para beijar. E digamos que Bruce, o Segundo, embora fosse namorado de Naomi, não estava na Lista. E sim, Ely o beijou, Bruce, o Segundo assumiu a sua homossexualidade, e a amizade de Naomi e Ely quase chegou ao fim. Mas, particularmente, não foi por causa de “Ely ter beijado o ex-namorado de Naomi” – foi porque foi a gota d’água para Naomi se dar conta de que Ely nunca gostaria dela como ela queria que ele gostasse. Porque ela gostava dele, e queria estar com ele… mesmo sabendo que ele era gay, mas quando é que o coração é tão racional?
E assim eles se afastaram, em uma briga sentimental de destruir meu coração!
O que me chamou muito a atenção foi a estrutura do livro… talvez por causa de Will Grayson, Will Grayson, eu estava esperando Naomi e Ely se alternando na narração, mas não só isso. O livro conta com narrações de Bruce, o Segundo, de Gabriel, de Kelly, de Robin-mulher, de Robin-homem e de Bruce, o Primeiro. Eu sinceramente não sei o que foi escrito por David Levithan e o que foi escrito por Rachel Cohn… mas isso importa? Os dois, conjuntamente, criaram uma obra emotiva e tocante, que certamente merece ser lida. Eu gosto de como Ely é despreocupado, de como Bruce, o Segundo é preocupadíssimo, de como Naomi é meio amargurada e usa uma sequência de símbolos muito fofos que tornam seus capítulos incrivelmente pessoais. Ou mesmo como Gabriel é marcado por suas playlists, ou Robin-homem narra tudo como um fluxo de pensamento, sem se preocupar em separar sua fala em parágrafos.
Enquanto eles estão “separados”, as histórias de ambos os personagens se desenvolvem, enquanto se cruzam às dos demais personagens. Naomi está realmente muito brava, e pode-se dizer que ela foi a grande causadora da briga – eu não a culpo, mas é que Ely estava com a impressão completamente errada do motivo da briga. Ela brincou com Bruce, o Primeiro, mas depois, com a ajuda de Kelly, conseguiu deixar de fazer isso de maneira tão cruel. Eu realmente achei que não fosse gostar de Bruce, o Primeiro, naquele seu primeiro capítulo, mas quando ele e Bruce, o Segundo, jogaram xadrez enquanto Bruce, o Primeiro espionava Naomi… não teve como não se afeiçoar a ele. Gabriel era o porteiro gostoso do prédio, aquele que conseguiu realmente ajudar Naomi, fazer com que ela se apaixonasse, e tocasse sua vida para frente.
Foi bonito.
Por outro lado, tivemos Ely – e eu não sou o maior fã de Ely. Ele não é o estereótipo de gay mais admirável, mas acho que isso é apenas o jeito dele. O que acontece, é que eu me pareço MUITO com Bruce, o Segundo. Quando ele narrou pela primeira vez eu quase morri de alegria! Foi tão fofo vê-lo se soltar perto de Ely, sorrir, dizer que gosta dele, e os dois deitados no chão do quarto com o primeiro beijo… foi tudo tão fofo! Mas Bruce, o Segundo, é completamente inseguro, se sente não descolado, não digno de Ely e nada sexy. E eu me identifiquei tanto com ele! Enquanto ele narrava, eu sabia que ele dizia coisas que eu já disse, agia exatamente como eu já agi. E me doeu e me alegrou ler suas cenas. Por mais ambíguo que isso possa parecer. Eu não sei se eu daria conta de um namorado como Ely, mas ele realmente se mostrou apaixonado por Bruce, o Segundo. Ele merecia uma chance. Eles eram absolutamente fofos.
Tivemos um final muito fofo, e que não foi previsível como poderia ter sido. A amplitude de personagens narrando deixou algumas histórias em aberto, mas suficientemente fechadas para serem satisfatórias. Naomi e Ely se deram conta que precisavam ser amigos no mesmo momento, ela entendendo que nunca teria dele o que desejava, e ele entendendo porquê ela estava tão chateada. Foi assim que, em uma conversa belíssima nas escadas do prédio, eles se acertaram. Mas não voltaram a ser o que eram antes. Porque isso não vai acontecer. Eles podem voltar a ser amigos e continuar sendo essenciais um na vida do outro, mesmo tendo mudado. Eu gostei de como Ely foi atrás de Bruce, o Segundo, com um discurso emocionante se assemelhando a um musical. Eu gostei de como Naomi decidiu que precisava ajudar sua mãe a sair da fossa da qual não conseguia sair sozinha. Eu me emocionei com as últimas palavras reflexivas e belas, com a finalização terna e delicada.
Um livro EXCELENTE. Do tipo de ler, guardar no coração, e ler novamente depois.
LINDO!

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