Doctor Who: Season Four (2008) – Part 4
“Turn right and never meet that man. Turn right and
change the world”
Dois episódios me chamaram a atenção na reta final
da quarta temporada de Doctor Who. Um
deles do Doctor sem a Donna e outro da Donna sem o Doctor. Basicamente. E ambos
foram excelentes, de formas diferentes. Eu fiquei bem encantado por Midnight e acho que ele trouxe muito bem
a história a que se propôs, com uma pegada de suspense bem interessante e boas
participações de outros personagens para compensar a ausência da companion durante a maior parte do
episódio. Mas Turn Left me
surpreendeu profundamente. O roteiro, de forma inteligentíssima, trouxe vários
elementos das duas últimas temporadas enquanto brincou, de forma bem macabra,
devo confessar, com a possibilidade de um mundo no qual o Doctor não existisse,
quando Donna é levada a tomar uma decisão simples diferente e toda sua vida se
transforma a partir daquele momento, a privando de conhecer o “homem da cabine
azul”, salvar sua vida e mudar a história. Presa em um universo paralelo só
seu, os universos se desestabilizam a ponto de Rose Tyler ser capaz de transpor
essas fronteiras e voltar para participar da vida de Donna sem o Doctor.
E é eletrizante.
Mas falemos de Midnight primeiro. O episódio é sensacional. Diminuto comparado aos
próximos dois episódios, mas verdadeiramente interessante por toda sua
qualidade narrativa. Com a Donna ficando para trás, o Doctor se aventura
sozinho, no meio de vários passageiros que incluem o Merlin (aqui como Jethro)
em uma aventura. Turistando. E ele começa, de forma muito singela e bonita,
mudando toda a viagem ao desligar, com sua chave de fenda sônica, as várias
formas de entretenimento que privavam os passageiros de interagirem entre si
durante as longas horas de viagem. As cenas passam de forma simples e calma,
mostrando uma leveza enquanto todos conversam, se conhecem e se divertem. Até
que surja o pânico e o suspense bem escrito que destoa completamente da
introdução leve e bonita do episódio. Então um se vira contra o outro, e o medo
do novo e do não-visto faz com que o caos se instale naquele pequeníssimo
espaço, e as tensões se alterem de forma assustadora. Suspense e pânico são
duas coisas que Doctor Who sabe fazer
com uma maestria impressionante, nossos anos nos provaram isso!
Assim que o cruzeiro para, o Doctor conversa com o
Piloto e o convence a baixar o escudo para que eles possam ver o Planeta
Midnight uma vez. É belíssimo e amedrontador ao mesmo tempo. Uma sombra se
movendo e correndo na direção deles destrói toda a calma já balançada pelo
imprevisto. E eles são atacados. Sky Sylvestry é atingida primeiro. E é
angustiante. Como um ótimo filme de terror (porque esses efeitos sonoros de voz
são parte do mais arrepiante que existe), ela começa a repetir TODAS as falas
dos outros passageiros. Parece simples, mas arrepia. As coisas vão variando do
estranho para o bizarro e para o perturbador. Até que Sky está falando ao mesmo tempo que todo mundo, sabendo
de antemão, portanto, o que cada um vai dizer. O Doctor tem um momento
divertido a testando (“Rose Tyler, Martha
Jones, Donna Noble, TARDIS”), mas isso passa depressa em vista do pânico. E
o próximo estágio. Quando ela se centra só no Doctor e, por fim, fala antes dele. Ver o Doctor com a voz
roubada é angustiante, vê-lo rebaixado à posição anterior de Sky de repetir de
forma mecânica e angustiante enquanto seus olhos cheios de mensagem de dor
expressam seu sentimento controverso.
É terrível, verdadeiramente terrível.
Um episódio desesperador e de um bom teor de
terror.
Então chegamos a Turn Left. E EU ADORO! A premissa é simples: rastrear a história de Donna até o momento que a levou a conhecer o
Doctor e mudá-lo. E então Donna vira à direita quando devia virar à
esquerda, e tudo se desfaz. Tudo. Turn
Left é a definição de agonia por apresentar um mundo macabro no qual o
Doctor não existe, porque ele morreu em um Especial de Natal quando Donna Noble
não estava lá para ser um alerta a ele sobre a hora de parar. Não estava lá
para salvar a sua vida. Não gosto de ver o Doctor morto, não gosto de ver a
UNIT anunciando sua morte e como ele não teve tempo de se regenerar. Não gosto
de ver o mundo tendo uma catástrofe atrás de outra catástrofe simplesmente
porque o Doctor não está ali para impedi-las. Mas é um episódio eletrizante e
roteiramente apaixonante. E Rose Tyler aparece enquanto o corpo do Doctor é
levado embora, em um timing genial e
deprimente, em que ela precisa sentir a angústia de não ter mais o Doctor, e não porque ele está em outro universo, mas
porque ele está morto.
E ela precisa ser a guia de Donna e ajudá-la a
reverter essa situação!
O que não é simples, nem rápido.
De forma inteligente e bem conexa, o episódio vai
trazendo de volta elementos das duas últimas temporadas em releituras sem o
Doctor, de forma apavorante, embora rápida. Primeiro o Royal Hope Hospital,
desaparecendo do nada no meio de uma chuva que vai para cima, e depois
retornando com apenas UM sobrevivente, que inclusive conta da morte de Martha
Jones. O Doctor não estava lá para descobrir o vilão, derrubá-lo por permitir
que ele copiasse seu código biológico de não-humano. O que eu me perguntava
era: QUE MUNDO É ESSE?! E eu não queria continuar vivendo nesse mundo
desesperador. Enquanto nós temos interações geniais da Donna com a Rose, e ela
constantemente aparece e some do nada, nós temos a angústia de sentir algo nas costas de Donna sem que
de fato possamos vê-lo. Mas algumas pessoas o podem. E parecem hipnotizadas ou
horrorizadas de puro pavor. “Tienes algo
en tu espalda!” Rose consegue tirar Donna de Londres no Natal em que a
réplica do Titanic cairia sobre a Terra porque, igualmente, o Doctor não estava
lá para impedir que isso acontecesse.
O Palácio de Buckingham é destruído, assim como
toda Londres.
E a vida de Donna Noble vira um inferno!
Me pergunto como é possível uma coisinha tão
simples como a direção na qual você vira o carro em um único dia mudar tanto o
mundo – isso me fascina e me angustia, simultaneamente, e me parece
profundamente real. Da queda do Titanic em diante, a Inglaterra virou um caos.
Londres destruída e todo o sul contaminado por radiação, e Donna e a família se
tornam refugiados em albergues precários, dividindo cômodos com zilhões de
outras famílias no Leeds, por fim. Milhões e milhões de pessoas mortas. As
pessoas são obrigadas a viver em condições terríveis. Os Estados Unidos
enfrenta, logo, uma crise terrível também com milhões de mortes por causa de
Adipose, com as gorduras que saem vivas, e as pessoas morrendo. Outras tantas
pessoas no MUNDO TODO morrem com o caos do ATMOS e os Sontaram atacando o
planeta. O mundo não pode ficar sem o Doctor. E é Rose Tyler quem conta para
Donna sobre ele, sobre como em outro mundo ela viajava com ele (ainda sonha com
ele) e como ela fez falta naquele dia no Tâmisa, e por isso ele morreu e o
mundo virou o caos que virou.
Portanto ela precisa trazer o Doctor de volta!
Rose Tyler avisa Donna: em três semanas ela irá
até ela, e então ela morrerá. As pessoas que não são inglesas começam a ser
levadas para “campos de trabalho” e executadas. As estrelas começam a desaparecer. “Donna, look. The stars are going out”. Então
Donna sabe que está pronta. E vai até Rose. É triste ver a TARDIS morrendo, bem
como é triste ver a maneira como a Rose fala do Doctor, como lamenta sua morte,
mas como diz que o Doctor achava ela genial. O bicho nas costas de Donna se
torna visível, com uma explicação digna e apavorante: “It feeds of time. By changing time. By making
someone’s life take a different turn. Like, ah, meetings never made, children
never born, a life never lived”. E eu me questiono o quanto isso faz sentido e pode acontecer na
vida real. É muito simbólico, mas muito real! Rose não é minha companion favorita, vocês sabem disso,
mas eu gosto de vê-la de volta, embora eu ache o drama às vezes exagerado, bem
como suas expressões quando manda a Donna para o passado e pede desculpas por não
poder dizer que ela está errada, e que ela precisa, de fato, morrer. “You’re gonna travel in time”. São as
respostas pelo o que Donna disse a Martha Jones sobre querer viajar com o
Doctor para sempre.
Infelizmente ela não pode.
A um quilômetro de distância de onde deveria
estar, quando chega no passado, e tendo a necessidade de fazer sua outra versão
dela mesma virar à esquerda, para colocar a História de volta nos eixos, Donna
Noble corre. Corre muito. Porque estar com o Doctor é correr. E não consegue
chegar a tempo. Por isso ela se sacrifica, jogando-se na frente de um caminhão,
para parar o trânsito à direita de Donna. E, prestes a morrer, Donna ouve duas
palavras de Rose que devem ser ditas ao Doctor. E retorna. Retorna com direito
a falas que expressam suas possibilidades grandes do futuro. “You are so strong. What are you? What will you be?” E é
muito bom e muito fofo tê-la de volta, vê-la abraçando o Doctor e recebendo a
constante confirmação do quanto ela é brilhante quando diz que não é nada
especial. “Yes, you are. You’re
brilliant”. E ela conta as duas palavras: BAD WOLF. Com isso, o Doctor se entrega ao caos. O caos terrível
que é o Season Finale MAIS
interessante de David Tennant como o Doctor…
“Doctor, what is it? What’s Bad
Wolf?”
“It’s the end of the universe”
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