Reinações de Narizinho – Cara de Coruja
– Para quem mandou convites?
– Para todos – para Cinderela,
para Branca de Neve, para o Pequeno Polegar, Capinha Vermelha, Ali Babá, Gato
de Botas – todos!
– Não esqueceu Peter Pan?
– Está claro que não. Nem Aladino,
nem o Gato Félix verdadeiro. Até ao Barba-Azul convidei.
Pedrinho não gostou da idéia.
– Acho que não devíamos convidar
esse monstro. Vovó vai morrer de medo.
– Não faz mal – conciliou a
menina. – Mandei-lhe um convite bem seco, mas se mesmo assim ele vier nós
fecharemos a porta bem no nariz dele – bá!... Convidei-o de tanta vontade que tenho de ver se a tal barba é mesmo
azul como dizem. Mas tratemos de salvar o Visconde.
Acho que em algum lugar essa história toda se chama Festa do Faz-de-Conta.
Relendo agora Reinações
de Narizinho, como um adulto, eu percebo como as coisas são breves, e
passam depressa… esse livro é, na verdade, uma coletânea de histórias de
Monteiro Lobato, apresentando o Sítio do Picapau Amarelo e seus personagens
principais. Ainda não temos as longas e complexas aventuras, como no ADORADO A Chave do Tamanho que é o meu favorito!
Não, temos histórias rápidas que parecem começar e acabar bem depressa, meras
sugestões de todo seu potencial. E mais uma vez, mesmo com Dona Benta e Tia
Nastácia participando um pouquinho dos acontecimentos, parece mais uma
brincadeira promovida pela imaginação dessas crianças.
Caso seja isso, vovó Benta é um MÁXIMO por
deixá-los e incentivá-los.
Narizinho resolve dar uma festança para todos os
amigos do País das Maravilhas. Eles já estão famosos entre eles, especialmente
a boneca de pano e a menina do narizinho arrebitado – mas o único que os
conhece de fato é o Pequeno Polegar, desde aquele célebre episódio no Reino das
Águas Claras no qual ele tentou fugir das histórias bolorentas da Dona
Carochinha, e recebeu todo um apoio das duas meninas. Agora todos aparecem pelo
Sítio do Picapau Amarelo, enchendo aquele lugar com os mais adoráveis
personagens dos contos de fadas, aqueles que cresceram no nosso imaginário, e
que fizeram parte de nossa infância de um modo diferente. Mais intrínseco. Um
contato indireto, de várias fontes, mas poderoso. Diferente da obra de Monteiro
Lobato.
Que é uma sequência de aventuras que eu adoro.
A primeira personagem a aparecer pelo Sítio é
Cinderela. E Emília, claro, aproveita para tirar dúvidas como de que material
eram feitos seus sapatinhos, ou que fim levou a madrasta e as irmãs. Ela, no
entanto, fica meio decepcionada com a maneira como Cinderela as perdoou: “Se fosse comigo, eu não perdoava! Sou
mazinha. Tia Nastácia se esqueceu de me botar coração, quando me fez…”
Depois chegam Branca de Neve, Rosa Branca e Rosa Vermelha (“ai!… não me belisque, Narizinho!”), o
Pequeno Polegar, o Barba-Azul (que fica do lado de fora), o Gato de Botas,
Aladino, o filho do Patinho Feio, Hänsel e Gretel, o Pescador e o Gênio, o
Cavalo Encantado, os príncipes Codadad e Ahmed, Sindbad, o Marujo, Morgiana… e
uma infinidade de outras pessoas…
Xerazade e os heróis gregos!
“Tantos
personagens maravilhosos vieram, que o terreiro de Dona Benta ficou de não
caber um alfinete. Narizinho olhava, olhava, no maior êxtase de sua vida. Só
reis e príncipes e fadas e anões e madrastas boas e más, e bruxas e mágicos de
chapéus em forma de cartucho, e ursos que viram príncipes, e lobos de dentuça
arreganhada… Mas Peter Pan não aparecia – o que muito decepcionava Pedrinho.
Seu grande desejo era justamente conhecer Peter Pan”. Peter Pan é o ÚLTIMO
a aparecer (te entendo, Pedrinho, adoro o personagem), e embora tenha
uma participação brevíssima, é o momento que Dona Benta se lembra que prometera
dar uma passada na festa, e faz um pedido lindo de avó ao garoto: “Fico satisfeita de saber que o senhor
também é amigo dos meus netos – mas quero que não faça com eles o que fez com
Wendy e seus irmãozinhos. Não lhes ensine a voar, senão estou perdida. Se não
sabendo voar já são assim, imagine sabendo…”
Só esperando o pó de pirlimpimpim.
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