Doctor Who, 2016 Christmas Special – The Return of Doctor Mysterio


“With great power comes great responsibility”
Convenhamos que um ano inteiro sem NENHUM episódio de Doctor Who até o Especial de Natal é uma crueldade sem fim – resultado? EU ESTAVA MORRENDO DE SAUDADE. Naturalmente. Eu confesso que, antes de ver o episódio, eu não estava lá tão empolgado com The Return of Doctor Mysterio. Agora, eu entendo que não é um episódio espetacular, não fica nos melhores episódios de Natal de Doctor Who, mas foi um episódio muito bonitinho e gostoso de assistir. Leve e divertido. E podem me julgar, mas eu prefiro muito mais esse episódio do que The Husbands of River Song, o episódio de Natal do ano passado. Inicialmente, a proposta não parece muito de acordo com o que estamos acostumados a ver em Doctor Who. Temos uma pegada de super-heróis que parece saída diretamente de quadrinhos da Marvel ou da DC Comics, mas a maneira como isso se incorpora ao Universo de Doctor Who é FANTÁSTICO. E, por fim, temos uma proposta interessantíssima e muito bem trabalhada. Simples, leve, sem grandes repercussões.
Mas deliciosa.
Típica de super-heróis.
O episódio começa com o Doctor pendurado na janela do pequeno Grant, depois de cair em uma armadilha feita por ele mesmo – e com um “Mom says you can come in. You’re expected”, ele permite que o Doctor entre em seu quarto. Ali, com os óculos fofíssimos de Grant e sua paixão por quadrinhos, o tema é introduzido: eu adorei a falta de jeito do Doctor que, evidentemente, não conhece histórias em quadrinho e sua natureza. Por exemplo, temos uma cena em que ele tenta mostrar para Grant que Clark Kent e o Superman são a mesma pessoa, como se essa fosse a grande descoberta do ano. E quando Grant afirma que “Todo mundo sabe disso”, o Doctor rebate: “Lois Lane não sabia”. Imaginei esse roteiro interpretado por Matt Smith, fase da série onde as crianças tinham uma força impressionante. Os comentários ainda passam pelo Homem-Aranha, e seus poderes adquiridos depois que ele foi mordido por uma aranha radioativa…
“What, vomiting, hair loss and death?”
E Grant o nomeia: caso ele estivesse em um quadrinho, ele seria chamado de Doctor Mysterio. E é um grande acidente que leva o garoto a COMER a pedra que era a parte final da “invenção” do Doctor… “I thought it was medicine. […] You gave me medicine and a glass of water and you said you were a Doctor”. É uma introdução incrível. Porque o pequeno Grant sai voando enquanto o Doctor se segura em seus pés, e depois ele explica: “Intuitive Crystal, plus too many comic books. The gemstone is giving you what it thinks you want. You’re a superhero!” E FAZ TODO O SENTIDO. É admirável como eles conseguiram trazer super-poderes para dentro da mitologia de Doctor Who de uma forma convincente. Então os anos se passam, Grant continua muito parecido com o pequeno Grant, com seus óculos, por exemplo, e agora ele cuida de uma garotinha. Presumi inicialmente que fosse sua filha, mas era melhor ainda que não fosse.
Dali em diante, sendo essa apenas a introdução, partimos para o episódio em si, e percebemos que há MUITA COISA acontecendo, e eles precisam investigar. O time do episódio aumenta. Vemos Nardole suspeitamente andando por uma empresa. Vemos aqueles misteriosos cérebros mantidos em vidros com um líquido azul. E o Doctor bisbilhotando, dessa vez acompanhado por Lucy, mesmo sem querer. “It’s okay, I’m an intruder too. Yeah, I brought snacks, mark of a pro”. E quando o Doctor, perto de descobrir esse plano de colocar esses cérebros em corpos humanos, é ameaçado, ele arma um plano perfeito que vimos no trailer: ficar de costas. Poderia não ter dado certo, mas foi o suficiente como distração até a chegada de THE GHOST, um super-herói DE VERDADE. Adorei a sua voz, a sua postura, o seu uniforme,                os seus poderes. Tudo. E isso nos leva a uma cena do Doctor com o Grant ainda criança, quando ele o fez prometer que NÃO usaria os seus poderes até que eles passassem… mas eles não passaram.
“He seems nice…”
“Grant”
É a típica história de super-herói – E EU ADORO. Ao voltar para casa, Grant gira e retorna às suas fofíssimas roupas habituais (ele fica uma graça daquele jeito!), pega seus óculos estilo Clark Kent e Peter Parker, age destrambelhadamente, derrubando coisas, e quando ele chega no quarto do bebê e ela está no colo do Doctor, ele solta um classicíssimo “With great power comes great responsibility”. TEM COMO NÃO AMAR? E a identidade secreta de Grant, como o Ghost, é contraposta ao seu trabalho diário: BABÁ. “Okay, so you are a superhero and a nanny”. Mas as coisas SÓ FICAM MELHORES. Porque Grant é babá da filha de quem? DE LUCY, OBVIAMENTE. Basicamente, seguindo até as mesmas iniciais, “Lucy Lombard” é a Lois Lane de Grant. E ele é apaixonado por ela DESDE A ESCOLA. Detalhe para a cena bizarra da escola e a desconfortável visão de raio-x que ele não pode controlar. “I’m in hell. Naked hell. I just can’t look at people!”
Bem, a explicação do Doctor fez todo o sentido…
“It’s the gemstone. It’s responding to… puberty”
O Doctor tem as mais perfeitas interações, tanto com Grant quanto com Lucy. Seja ouvindo a história da paixão de Grant. Seja sendo “torturado” por Lucy e suas habilidades jornalísticas para contar o que ele sabe sobre os cérebros. “Those brains, they’re not just brains. They’re independent alien life forms”. São táticas duvidosas, e eficientes. Adorei Lucy mais do que o previsto, com toda sua determinação e a cena da Lucy vendo o Ghost na TV e então subitamente ele saindo e Grant chegando cuidando de Jennifer (e o Doctor colocando seus óculos de volta) é GENIAL. Bem como toda a tentativa do Doctor de lidar com isso, olhando de um para outro, não sabendo o que fazer quando ela insiste para ele colocá-la em contato com o herói, e ela olhando com uma vontade de contar que o herói é Grant e tudo o mais…
E O TELEFONEMA.
O telefonema é, certamente, um dos melhores momentos do episódio. E eu gostei demais da maneira como as cenas foram editadas, porque ficaram parecendo um gibi mesmo, com o Doctor assistindo à conversa, incrédulo, enquanto víamos tanto Grant quanto Lucy simultaneamente. E quando ela pergunta para ele se ele pode ficar de babá na noite seguinte (para que ela possa sair para jantar com o Ghost e fazer sua entrevista), ambos dizem juntos: “I’ve got a date”. O QUE DEIXA ELA ENCIUMADA, e era tudo o que queríamos. Segundo o Doctor: “I can confirm that it’s definitely complicated”. Depois, o diálogo do Doctor e de Grant sobre CIÚMES é bem completo: “She’s jealous” “I’m jealous!” “Grant, you were jealous of you!” “Technically, she’s jealous of her”. E FOFO. E ele acaba ficando como babá, e indo ao encontro de qualquer maneira… uma pena que a Lucy minta para ele sobre o vestido vermelho curto, porque o meu coração sofreu ao vê-la chegar ao terraço de vermelho.
Sério.
Quando a Nardole, eu confesso que ter Matt Lucas de recorrente na próxima temporada era algo que me intrigava – não tinha certeza de ter gostado dele no Especial de Natal do ano passado. Acho que ele ainda não me conquistou de fato nesse, mas estou me habituando a ele. Acho que eu vou chegar lá. Quer dizer, veja ele com a roupa que conseguiu na Constantinopla no Século XII, onde reinou firmemente, mas com sabedoria, e essa conversa com o Doctor que mostra que ele o conhece bem, e sabe que ele só o tirou do Hydroflax para fazer-lhe companhia depois de ter perdido River Song, algo sobre o qual o Doctor NÃO COMENTA. Gostei do Nardole pilotando a TARDIS com tanta destreza. Gostei do Doctor fazendo comentários como “I glued your head back on. You should have a little bit more respect”. E agora eu estou esperando para ver como vai ser a dinâmica entre Nardole e a Bill na décima temporada.
A “entrevista” do Ghost e Lucy é TENSA. Eles meio que brigam, e o motivo é que Lucy interpretou errado algo que ele disse, como se ele estivesse falando mal de Grant, e o defende: “Não há muitos caras como o Grant!” Finalmente ela vai se dando conta então. Faz um discurso lindíssimo. “He’s downstairs right now. And he was supposed to be on a date and he cancelled it, and you know what’s really bugging me about that? Who is he dating? Why is that bugging me? Why do I care? […] Grant. The perfect name. A man I take for granted”. Não vê o Ghost tirando a máscara, disposto a contar para ela que é Grant, na verdade, e quando ela arremata com um “Always there, always kind, never lies…” e insiste em como ele nunca contou uma mentira pra ela, por menor que fosse, ele não consegue seguir em frente, coloca a máscara de volta.
E o plano da Harmon Shoal se delineia completamente.
E É ASSUSTADOR.
Começa tentando pegar o Ghost como hospedeiro de um dos cérebros nos vidros com líquido azul. E quando o Ghost desaparece e retorna como Grant, eu não entendi de fato qual era seu plano, mas amei o “No one touches that child. […] I’m the nanny”. Como refém, ele estava uma graça. Mais ainda ouvindo a frequência do Doctor apenas para ele, ou olhando para cima vendo o ataque do Doctor a Nova York que ele precisava impedir. E segurando aquela “bomba gigante”, o Grant estava mais LINDO do que nunca (mas eu acho o Justin Chatwin uma gracinha mesmo!), com o cabelo esvoaçando, com um sorrisinho meio “É, sou eu” para a Lucy – quase me deu vontade de mantê-lo na série. “Please, don’t slap me. I think I’m holding a giant bomb”. E quando, antes de beijá-lo, ela diz que prefere ele de roupa de super-herói e diz que vai vesti-lo, e então coloca os óculos. PODERIA SER MAIS FOFO?! Parece que, depois de tudo isso, pode ser o fim da vida de super-herói do Grant.
Ou talvez não.
De todo modo, o Doctor ESTÁ DE VOLTA \o/
E o Doctor de volta está sofrendo, mas talvez finalmente preparado para se abrir, o tanto que lhe cabe: “Things end. That’s all. Everything ends. And it’s always sad. But everything begins again too, and that’s always happy. Be happy. I’ll look after everything else”. O Doctor não vai falar muito mais sobre isso, provavelmente. Nem sobre a perda de Clara, nem sobre a perda de River. Mas é bom ter o reconhecimento de que tudo termina e que todo fim é triste, mas a alegria vem em um recomeço também, e é o que esperamos na promissora décima temporada, com Bill. Assim, com uma curta explicação de Nardole, Lucy e Grant, felizes, se despedem do Doctor, e ela ainda mantém sua dúvida: “You never explaind, who exactly is he? Doctor Who?” Grant não poderia, mesmo, ter respondido de uma maneira melhor do que com “Doctor… Mysterio”.
Ótimo.

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