Doctor Who: Season Six (2011) – Part 1
“We can only remember you while we’re seeing you, is
that it?”
A sexta temporada de Doctor Who começa com fôlego de Season
Finale. Com uma trama que foi iniciada lá na quinta temporada – ouvimos
falar do Silêncio (“Silence will fall”)
desde The Eleventh Hour, quando Matt
Smith estreou no papel –, temos um dos mais longos arcos em Doctor Who. Desse modo, a trama já se
inicia no nível de clímax de temporada, e nós ficamos presos às poltronas,
eletrizados, assistindo a tudo se desenrolar misteriosamente com muita
informação intrigante. A complexidade da temporada é sugerida de forma eficaz
na estreia, com The Impossible Astronaut.
Desse modo, temos toda a continuação da jornada de Amy Pond e Rory Pond [?],
além do Silêncio e a história de River Song, timidamente iniciada na quarta
temporada, no fim do tempo de Tennant, e intensamente continuada na quinta
temporada. A ser esclarecida definitivamente em 2011. Eu gosto DEMAIS da
proposta de uma trama mais longa que não nos dá a impressão de começo de algo
novo, porque pegamos a sexta temporada com o sentimento de que ela é uma
intensa continuação da quinta, que não teve tempo de finalizar sua história.
Steven Moffat brincando loucamente com os nossos sentimentos.
Sempre.
E eu adoro o Silêncio. De uma forma controversa,
mas adoro.
Complexidade é o que não vai faltar na sexta
temporada de Doctor Who, e toda uma
jogada com o tempo que só prova o quanto ele não é linear, mas wibbly wobbly timey wimey. Nós sabemos
disso. The Impossible Astronaut
começa com um ponto fixo no tempo: a morte do Doctor. É chocante, e você custa
a acreditar que eles vão iniciar a temporada dessa maneira. A dinâmica garante
a fluidez do roteiro, que se desenvolve depressa e nos prende, eletrizante do
começo ao fim, repleto de ação e ideias mirabolantes. Inteligentes. Você quase
espera o fim da temporada a qualquer momento! O Doctor, com 1103 anos, retorna,
finalmente, para a vida de Amy e Rory. Depois de alguns meses desaparecido os
provocando ao longo da história. E, com 1103 anos (o que Amy julga estranho, já
que ele estava com 908 da última vez em que ela o viu), o Doctor manda convites
TARDIS-blue e os convoca para um piquenique, que tem um terrível tom de
despedida. “I’m 1103, I must have drunk it some time”.
Eleventh
Doctor, Amy e Rory Pond e River Song.
O Astronauta Impossível do título se refere a um
misterioso astronauta que interrompe o piquenique do Doctor quando ele vai
conversar com ele – sabendo exatamente o
que vai acontecer. O Doctor será morto. Como disse, é um CHOQUE muito
grande! Ver o Doctor levar um tiro e cair morto na beira daquele lago. E você
sabe o quanto é confuso que ele esteja ali, sendo assassinado pelo Astronauta
com seus companions assistindo e a
multiplicidade de Rivers no lugar. O desespero e a tristeza são reais. Amy se
joga sobre o corpo do Doctor e chora dolorosamente. Canton Everett Delaware III
aparece para ajudá-los no funeral, também com um convite TARDIS-blue. E então o
corpo do Doctor é colocado em um barco, colocado no lago e cremado. O que me angustia profundamente. E
enquanto toda a tristeza se desenvolve em relação a isso, temos o mistério dos
4 Convites e quem recebeu o numerado 1. Aquele em quem o Doctor mais confia em
todo o curso da História, independente de qualquer coisa:
Ele mesmo.
Ver Matt Smith sair de uma das portas daquela
belíssima e angustiante lanchonete (atualmente fruto de outras memórias
dolorosas, como Clara Oswald conversando com o Twelfth sobre a Clara de quem
ele não consegue se lembrar definitivamente) é incrível. Meio doentio e frio,
como a River diz. Mas aos 909 anos. Ele não sabe o que vai acontecer em quase
200 anos. O estranho de ter o Doctor vivo depois de termos visto ele morrer é
enfrentar a dor que ainda não conseguimos digerir – e o Doctor de 909 anos
também sabe que há algo errado. E
isso torna a cena ainda mais bizarra e assustadora. Algo está sendo escondido,
e ele tem noção disso. Os outros três ainda estão tentando lidar com o luto,
Amy está desesperada por tê-lo visto morrer, mas ele está ali. Sabendo que eles
escondem alguma coisa, sentindo os ânimos alterados, e se recusando a seguir as
instruções de quem quer que tenha mandado os convites, embora tenha sido ele
mesmo – Amy, Rory e River não podem lhe
contar isso. Como convencê-lo de que toda a história de 1969 é, sim,
importante e as instruções devem ser seguidas?
“Swear to me. Swear to me on
something that matters”
“Fish fingers and custard”
“My life on your hands, Amelia Pond”
Bem, então começamos toda uma jornada que não
justifica ainda, realmente, a morte do Doctor – em 1969, o ano em que Neil
Armstrong pisou na Lua, muita coisa importante acontecia, também, na Terra.
Muita coisa. Adoro o Doctor no Gabinete do Presidente, o Canton Everett
Delaware III ainda jovem. Os mapas e os telefonemas da garota com medo do Homem
do Espaço. E, claro, o Silêncio. Amy o vê pela primeira vez no lago, no
piquenique, e o esquece. Ela o vê novamente no Gabinete. A aparência deles e o
som que eles fazem é arrepiante. O tom perfeito entre o bizarro e o macabro.
Adoro o mistério intrigante que eles trazem. A cena do banheiro, de Amy vendo
um dos Silents e a velhinha é uma das maneiras mais eficazes, rápidas e
assustadoras de explicá-los. Uma introdução ao Silêncio, que já parecem
monstros perfeitos mesmo antes de sabermos toda a sua capacidade de sugestão e
controle. A proposta de um monstro que só pode ser lembrado enquanto se olha
para ele é muito creepy, porque eles
se esquecem assim que deixam de olhar para eles, mas vamos ser ainda mais paranoicos?
ISSO PODE SER MUITO REAL!
E ele “sugere” a Amy que ela conte ao Doctor. A
ideia é implantada. INCEPTION!
Passamos o episódio nos perguntando exatamente
qual era a relação de tudo isso e a importância de 1969 para a morte do Doctor
quase 200 anos depois. Ali surge, também, a gravidez de Amy Pond, CHEIA de
mistérios. “Doctor… I’m pregnant”.
Simultaneamente, temos uma discussão incrível e um dos melhores episódios para
River Song! Além do Doctor enfrentá-la com questões como “Why are you in prison? Who did you kill?”, eles têm momentos
PERFEITOS de flerte como a sequência “Doctor
Song, you’ve got that face on again” “What face?” “The ‘he’s hot when
he’s clever’ face” “This is my normal face” “Yes it is” “Oh, shut up” “Not a
chance”. E,
com Rory, ela se abre tristemente sobre como cada vez que ela vê o Doctor tudo
se torna mais difícil para ela – e como isso vai matá-la. Os dias piores que ainda estão a sua frente. É doloroso vê-la falar
sobre como a cada vez que eles se encontram, ela olha para o Doctor, o seu Doctor, e os olhos dele respondem a
conhecendo cada vez menos. Até que um dia ele não vai ter ideia de quem ela
seja. Isso vai chegar, infelizmente, lá na quarta temporada.
Pelo menos já passamos pela tristeza maior de
River.
O final do episódio é ELETRIZANTE. Enquanto Rory
olha para fora, vê os monstros e se assusta, mas depois se vira com um
despreocupado “There’s nothing out here”,
Amy Pond se preocupa em contar ao Doctor que está grávida mesmo que não saiba
porque é tão importante lhe dizer isso. E o Astronauta Impossível retorna. A
garotinha com medo do Homem do Espaço pedindo ajuda, que ligou para o
Presidente dos Estados Unidos. É angustiante e uma tensão incrivelmente bem
estruturada como Amy, depressa e sem pensar muito, pega a arma e atira na
menininha, lidando posteriormente com o choque de ela ser apenas uma criança,
enquanto o Doctor grita para que ela não faça isso e ela só diga que está salvando a vida dele. Foi tenso,
extremamente tenso. Para mim, The
Impossible Astronaut parecia, exatamente, a Parte 1 de um Season Finale duplo, tamanha
complexidade e impacto causado.
Mas ainda não era.
Day of the
Moon só se inicia TRÊS MESES DEPOIS de The
Impossible Astronaut. E você tenta se organizar. O Doctor, com uma barba
imensa e um cabelo comprido e desgrenhado, está sendo mantido prisioneiro.
Canton está caçando cada um dos ajudantes do Doctor e atirando neles, e eles
apresentam marcas estranhas por todo o corpo. Amy Pond. River Song. Rory. Mas,
felizmente, é uma interpretação perfeita e Canton continua os ajudando. É um
alívio ver a TARDIS escondida dentro da prisão do Doctor, invisível. E então
continua. O Silêncio. 1969. E esse episódio vai nos apresentar, mais
profundamente (nos deixando ainda mais perturbados) o Silêncio, que está aqui
na Terra há quanto tempo? Basicamente,
desde sempre. “As long as there’s been
something in the corner of your eye, or creaking in your house or breathing
under your bed or voices through a wall. They’ve been running your lives for a
very long time now, so keep this straight in your head. We are not fighting an
alien invasion. We’re leading a revolution. And today the battle begins”.
É assustador, perturbador e terrível – e você teme
que isso exista na vida real. Você se assusta com coisas simples (valeu,
Moffat) como quando você pega o celular para olhar a hora, a vê e logo em
seguida já esqueceu. Você pode ter acabado de ter tido um encontro com o
Silêncio, mas você nunca vai se lembrar disso. Eles controlam e manipulam a
vida da humanidade DESDE SEMPRE, com algo bem parecido com Inception. Como eles são esquecidos toda vez que deixam de ser
vistos, o Silêncio pode “dar ideias” às pessoas, que permanecem na mente mesmo
que o Silêncio seja esquecido. Então parece que a ideia é sua, desde o começo.
E esse é o tipo mais forte de ideia. Como Canton arrumando a
gravatinha-borboleta do Doctor porque isso lhe foi “sugerido” enquanto ele
olhava para o Silêncio. E, sim, isso chega a dar calafrios. Como sugestão
pós-hipnótica. O problema maior, acredito eu, é que tudo é perfeitamente
crível. Com muitos Silents sendo vistos O TEMPO TODO, o episódio é repleto de
uma tensão e um suspense que eu adoro, que me faz AMAR Doctor Who, e que é melhor que muito filme de terror.
Mesmo.
Como a cena do Orfanato.
Em 1969, Amy e Canton visitam um Orfanato e toda a
fotografia do lugar é assustadora. Perturbadora. As mensagens ameaçadoras
escritas nas paredes. A chuva e os relâmpagos. E o clímax na cena de Amy no
quarto. A luz vermelha piscando em sua mão. A gravação dela que diz que ela
precisa fugir. Os vários riscos na mão e no rosto, com a jogada
inteligentíssima de ser o reflexo dela na janela, piscando iluminado com os
relâmpagos, e cada vez mais riscos. Cada
vez mais encontros com o Silêncio. O ninho no teto. Me arrepia todo! E mais
mistério em relação a Amy Pond é astutamente implantado nesse momento, como a
foto antiga de Amy, em um orfanato de 1969, segurando um bebê. “How? How can that be me?” Então a trama
já estava bem encaminhada para a resolução quer veríamos só lá na sétima
temporada, em The Angels take Manhattan.
Adoro essas tramas longas e bem estruturadas que Steven Moffat propôs por
alguns anos. E na hora já me vem, novamente, a garotinha na roupa de Astronauta
pedindo por ajuda. Claro.
Vamos passar de Amy a RORY?! Ai, vocês sabem que
eu sou meio apaixonado por ele, e não sei como alguém não seria se tivesse um
homem daquele na sua vida. Toda a devoção dele por Amy é inigualável. E ele
estava lindo com aquele disfarce dos anos 1960 de quem anda com o Presidente. E
me arrepiou todo, de uma forma boa, quando ele encontrou o gravador de Amy e
assegurou: “She can always hear me,
Doctor. Always. Wherever she is and she always knows
that I am coming for her, do you understand me? Always”. E me doeu
muito pensar que Amy poderia estar, do lado de lá, chamando pelo Doctor. Assim
como doeu em Rory, e eu queria abraçá-lo e consolá-lo, porque ele NÃO merece
todo esse tipo de sofrimento. Nunca mereceu. Quando ela começa dizer que o ama. Ele de verdade. Que ele acha que
não é, mas é ele. E ela vai dizer isso quando o vir, só para ver sua cara de
bobo. Que sua vida era um tédio antes dele cair do céu. Que ele precisa levar
essa cara de bobo (“stupid face”) lá
para que ela pudesse vê-la. E aquilo me doía cada vez mais, assim como doía
profundamente em Rory, não saber de quem ela falava.
Até…
“Can you take this stupid face out
of here?”
Sim, eu EXPLODI aqui <3 É claro que ela estava
falando do RORY o/
Quanto aos Silents, nós tivemos uma resolução
muito boa para eles, embora tenha sido violenta de uma forma que o Doctor
normalmente não aceita. Mas não havia outra maneira. Eles se identificaram como
o Silêncio (“Silence, Doctor. We are the Silents. And Silence will fall”) e disseram ao Doctor que aquele mundo era
deles (“This world is ours. We have ruled
it since the wheel and the fire. We have no need of weapons”), e Canton
conseguiu que eles mesmo se destruíssem: “We
have ruled your lives since your lives began. You should kill us on sight. But
you will never remember we weren’t even here. Your will is ours!” Acho que, mesmo para toda a clemência usual do
Doctor, não havia como permitir o reinado de criaturas tão manipuladoras que
expressavam a própria ausência de livre-arbítrio dos humanos. Isso os torna,
talvez, um dos vilões mais perigosos já trazidos em Doctor Who. A resolução é incrível. Entre a fala mais conhecida do
dia em que o Homem chegou à Lua, os Silents encomendaram sua própria morte. Mas
disso ninguém se lembra, até que os veja. Foi meio violento, talvez, mas
efetivo.
River Song? Sofreu com o primeiro/último beijo com
o Doctor.
“You know what they say, ‘there’s a
first time for everything’”
“And a last
time”
Por fim, temos uma abundância de novos mistérios
envolvendo Amy e a gravidez anunciada em The
Impossible Astronaut e que foi, misteriosamente, apagada em Day of the Moon. Alarme falso? Achei
interessante todo o medo dela, justificado, que não é colocado ali por acaso.
Ela explica que contou ao Doctor (mas não ao Rory) porque ele é seu amigo, seu
melhor amigo (mas foi porque o Silêncio mandou que ela o fizesse), mas não
disse ao Rory com medo das interferências que suas longas viagens na TARDIS
poderiam causar ao bebê. Mas existe aquela foto com a criança, em 1969. E, seis
meses depois, em Nova York, há uma menininha andando pela rua, dizendo que está
morrendo, mas que isso não é um problema, porque ela sabe como resolver isso.
Simples assim. E então ela passa pelo conhecidíssimo processo de regeneração
que estamos acostumados a ver em Doctor
Who. A MESMÍSSIMA luz brilhante. Então nós, telespectadores, certamente
surtamos com uma quantidade muito grande de mistérios que o primeiro arco da
temporada coloca, e terminamos a Parte Dois aplaudindo.
Porque foi excelente!
Tem uma quantidade absurda de informações e
mistérios nesses magníficos dois primeiros episódios: além do Silêncio e do
básico de River Song, como ela sofrendo com o fato de que aquele é o primeiro
beijo deles para ele, é o último para ela, temos outras perguntas, como quem
ela é e quem ela matou; a gravidez de Amy Pond que desapareceu; a foto dela em
1969 com um bebê; a garotinha que é o Astronauta; a renegação do fim do
episódio; a própria morte do Doctor que não foi de fato explicada. WOW! Um hall
de coisas milimetricamente calculadas para se conectar lindamente até o fim.
Isso é Doctor Who! O que eu quero
dizer, resumidamente (e você já entendeu isso), é que essa fantástica e
inteligente estreia dupla tem cara de final de temporada – mas ainda temos muita coisa a se desenvolver e resolver até lá.
Adoro The Impossible Astronaut e Day of the Moon, e os julgo a MELHOR
estreia de Doctor Who nas 9
temporadas desde o seu retorno!
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