Desventuras em Série 1x03 – A Sala dos Répteis: Volume 1


“I promise, no harm will come to you in the Reptile Room”
Eu estava bastante curioso para conhecer A Sala dos Répteis na adaptação da série, e fiquei abismado com tamanha qualidade. O roteiro ainda impecável traz uma variedade de abordagens de coisas que adoramos ao ler o livro – então enquanto temos o mais clássico dos livros, em algumas situações nos remetendo imensamente às palavras originais de Lemony Snicket, como o discurso sobre a “ironia dramática” ou o icônico “Zumbis na Neve”, também tivemos algumas adaptações mais livres que tornaram a história ainda MAIS interessante, se é que isso é possível. Com uma fotografia belíssima e mais um exemplo de boa interpretação desse maravilhosa elenco, A Sala dos Répteis: Volume 1 é uma nova cara de Desventuras em Série e eu adorei. Ah, por falar nisso, adorei a letra e as imagens da abertura MUDAR de acordo com o livro a que se refere, isso foi simplesmente FENOMENAL. Não estava esperando e foi uma grata surpresa.

For Beatrice –
My love for you shall live forever.
You, however, did not.

A introdução já é de encher os olhos e nos dar a vontade de aplaudir. Apertados no carro do inútil Sr. Poe, os três Baudelaire passam pelo Mau Caminho com seu cheiro azedo e pungente, com as explicações providenciadas por Lemony Snicket, à beira da estrada, ou no meio dela, tão perfeitamente quanto se ele estivesse lendo o que de fato está escrito na introdução do livro em si. Eu AMO ter o personagem de “Lemony Snicket” fazendo suas interferências, porque ele é quem dá o tom de Desventuras em Série em vários momentos, é quem nos remete mais ao livro propriamente dito – embora a chegada à casa do Dr. Montgomery Montgomery traga mais deliciosas semelhanças. A casa, em primeiro lugar, é lindíssima. Fotografia novamente impressionante de Desventuras em Série, como nunca me canso de dizer. E o Tio Monty é um fofo, não é? Certamente o MELHOR tutor dos Órfãos Baudelaire.
Por exemplo, adorei aquela foto dele “com os pais dos Baudelaire”.
Eles estão dentro do piano.
Mas quando Tio Monty, empolgadíssimo como é com a ciência que ama, fala sobre Herpetologia e pergunta se os irmãos sabem do que se trata, o comentário de Klaus é perfeito e exatamente como no livro… adoro também como Louis Hynes consegue captar tão brilhantemente o estilo do Klaus. Ambas sua inteligência e sua determinação. Chamando eles de bambini, como no livro, Tio Monty leva as crianças para A SALA DOS RÉPTEIS, um dos mais icônicos cenários de Desventuras em Série, e também palco de tanta (embora breve) felicidade para os Irmãos Baudelaire. Ah, ainda devo mencionar que adorei o bote da Víbora Incrivelmente Mortífera, e como a cena foi astutamente interrompida para um comentário vago sobre chá de Lemony Snicket, que também aproveita a ocasião para já antecipar que o Tio Monty vai morrer.
O bote acontece no fim de um capítulo do livro.
E então somos mesmo interrompidos porque Lemony volta falando de outra coisa.
Infelizmente, ainda que a série tenha muito mais tempo para trabalhar com tudo isso do que eu imaginei, com dois episódios para cada livro, a sensação é de que as coisas estão acontecendo depressa – embora no livro também o Tio Monty morra bem cedo. Completamente idêntico ao livro, Lemony Snicket explica o conceito de “ironia dramática”, quando Tio Monty assegura os Irmãos Baudelaire de que nenhum mal vai acontecer com eles na Sala dos Répteis: “I promise, no harm will come to you in the Reptile Room”. E realmente nem um mal aconteceu a ELES. Eles passaram bons momentos ali, felizes. Se divertiram, trabalharam com gosto em coisas que gostavam. Eles estavam felizes e fofos – Klaus estava entonteante, determinado, forte. Os mistérios se delineiam com muito mais impacto que nos livros, já com o Olho de VFD (ou CSC) na planta do jardim de Montgomery Montgomery.
E então Stephano chega…
…ou melhor, o Conde Olaf.
A interpretação foi BRILHANTE quando o Conde Olaf chega fantasiado de Stephano, com aquela cabeça careca, aquela barba falsa e aquela vozinha irritante. Não só de Neil Patrick Harris, mas especialmente de Malina Weissman e Louis Hynes, que mais uma vez provaram sua competência tremenda para captar a essência de Violet e Klaus e transmitir emoção e intensidade, quando demonstraram o medo e a determinação ao tentar deixá-lo para fora, mas “Stephano” entrou na casa, afinal… e então foi angustiante. Aquela conhecida ameaça sobre os 9 dedinhos de Sunny, aquela fala jogada em direção às cabeças deles e o adicional de ele comentar a foto e sobre como sabia que Tio Monty e os pais dos Baudelaire estavam dentro do piano, porque ele tirou a foto. Uma revelação chocante aí, hein? Quando, depois de uma cena ELETRIZANTE, os três irmãos fogem para se esconder na Sala dos Répteis, eles pensam em fugir…
…pensam em como não deviam tê-lo deixado entrar.
Anos depois, pensariam em como poderiam ter salvado a vida de Tio Monty.
Numa desesperadora cena que é a CARA de Desventuras em Série, com aqueles prolongados “SSSSS” entre Stephano e Tio Monty (que eu ri demais), Monty aceita “Stephano” ainda que desconfie dele. Mas pelos motivos errados. E isso nos machuca. É triste porque Monty, Violet e Klaus interpretam uma conversa falsa de que compraram toda a história, e é um máximo, e conversam escondidos embaixo da canoa sobre como era claro que Monty o reconheceu, e parece que tudo vai ficar bem, parece que ele desconfiou de “Stephano” pelas razões certas, mas a verdade é que Tio Monty NÃO tem ideia de que “Stephano” é, na verdade, o Conde Olaf. Inclusive ele quase morre atingido por um abajur, e então insiste que naquela noite todos irão ao cinema, e “Stephano” não pode deixar de ir… então ele precisa convencê-lo.
No carro, o Conde Olaf aproveita para ameaçar as crianças um pouco mais.
E chegamos ao cinema: ZUMBIS NA NEVE.
Particularmente, nos 10 anos em que leio Desventuras em Série, eu sempre tive curiosidade para conhecer mais de Zumbis na Neve, então estava ansioso para vê-lo na tela do cinema. Estava aplaudindo e pulando de alegria pelas similaridades perfeitas com o livro, e então dali em diante tivemos as primeiras mudanças significativas que, devo acrescentar, só tornaram a história AINDA MELHOR. A complexidade sugere a amplitude dos mistérios bem antes do previsto, e isso é gostoso para prender o espectador, agora e para temporadas futuras. Quando o nome de Gustav aparece no início do filme, legendas mesmo que o filme esteja em inglês mesmo, os irmãos pensam reconhecer uma das atrizes e o Dr. Montgomery tira uma luneta de CSC do bolso… bem, TINHA COISA ALI. E foi fantástico! “All the best movies have subtitles!”
Tratava-se de uma complexa e inteligente MENSAGEM escondida para o Tio Monty no meio da projeção! Foi um máximo ver Montgomery olhando para a tela através de sua luneta, que apagava algumas letras da legenda, e formava uma mensagem com as remanescentes. Uma mensagem que dizia: “HELLO MONTY. DANGER. TAKE THE CHILDREN. ON THE SS PROSPERO TO…” Sério, que alteração FANTÁSTICA! Eu amei, surtei, de verdade… enquanto Klaus e Violet aparentemente se divertiram com a peculiaridade do filme (Klaus até derrubou um pouco de pipoca, todo fofo em um susto quando a mão de um zumbi sai da neve), algo muito maior se desenrolava. Conde Olaf falava com suas capangas de rosto branco que estavam disfarçadas na venda de pipocas, e Tio Monty pegava o fim da mensagem: “…PERU”. Ahá!
Então a trama do Peru foi levemente alterada. Não estava nos planos do Dr. Montgomery desde o começo, e foi sugerida por uma mensagem que avisava que as crianças estavam correndo perigos, e isso tornou tudo muito maior e ainda mais apaixonante. Até porque a série nos contou dos pais das crianças, vivos, no Peru. Enquanto isso, enquanto parecia (e isso estava me preocupando, confesso) que o Tio Monty poderia morrer no cinema, as crianças estavam prestes a sair do cinema apenas com “Stephano”, mas o Tio Monty fez um retorno triunfal e respiramos aliviados. Foi uma pena que quando ele enfrentou o “Stephano”, sozinho, percebemos o quanto ele não sabia embora achasse que soubesse demais… porque acha que “Stephano” é um espião da Sociedade Herpetológica, e portanto não foi capaz de ver o Conde Olaf através do disfarce.
Como nós já sabíamos.
De todo modo, o final foi muito bonitinho, embora profundamente triste. Me dói ver as crianças com tanta esperança. É o momento em que os veremos mais felizes na série toda, provavelmente, e isso é triste, embora os sorrisos deles sejam uma graça. Eu adoro vê-los contemplando um pouco de felicidade, ver sorrisos tão amplos e tão verdadeiros nos rostos de Violet e Klaus Baudelaire, vê-los cheios de esperança de que tudo vai dar certo, acreditando que o Conde Olaf foi mesmo afugentado, que o Tio Monty vai continuar sendo seu maravilhoso tutor, quando ele os coloca para dormir… mas já já vem sofrimento aí, e sofrimento dos grandes. Porque o fim do episódio, um exemplo CLARÍSSIMO de ironia dramática, traz aquilo sobre o que já fomos avisados por Lemony Snicket desde muito cedo no episódio: o Dr. Montgomery morre.
E me dói pensar nas crianças lidando com esse sofrimento!

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