Passageiros (Passengers, 2017)
“If you live an ordinary life, all you’ll have are
ordinary stories”
EU ADOREI O FILME. Misturando a ficção
científica interessantíssima com um delicioso romance e muito carisma dos
protagonistas, Passageiros, usando a
analogia de uma cena em que Jim conversa com Arthur, o barman, transporta a
ideia de “se você ficasse preso em uma ilha deserta” para um conceito mais
futurístico. E se for pra ficar preso
pelo resto da vida em uma nave espacial, que seja com o Chris Pratt, huh? Gosto
demais da proposta do filme, estou completamente APAIXONADO, e particularmente
lamento demais que eu não estarei vivo para ver isso acontecer de verdade,
embora eu não tenha muitas dúvidas de que esse dia VAI chegar mais cedo ou mais
tarde – e se eu tivesse a oportunidade de ser um dos 5000 passageiros? Certamente
eu seria! A bordo da Starship Avalon, os passageiros e tripulação hibernam por
120 anos até chegarem ao seu destino: Homestead II, um planeta lindíssimo que
está sendo colonizado por humanos.
Mas uma das cápsulas de hibernação dá defeito.
Assim vemos Jim Preston (Chris Pratt), um
engenheiro mecânico, acordar bem antes do previsto. Ele não sabe disso ao
acordar. Depois de uma introdução belíssima que mostra o esplendor da Avalon e
sua missão, acompanhamos do ponto de vista de um HUMANO o que está acontecendo.
Ele acorda de seu suposto sono de 120 anos, bastante desorientado, é guiado
para seu quarto e a aventura começa. Tudo parece esplêndido. Dentro de 4 meses
ele estaria em um planeta novo, lindo, o Homestead II. Mas ele percebe que está
sozinho quando chega a uma aula que devia estar lotada – e então ele descobre:
AINDA FALTAM 90 ANOS PARA A NAVE CHEGAR A HOMESTEAD
II. Ele acordou cedo demais, e agora não há maneira de voltar a dormir. Naturalmente,
Jim entra em verdadeiro desespero e tenta tudo no que pode pensar para voltar
para sua cápsula.
Mas nada resolve.
Considero todo o filme eletrizante. Como eu disse,
eu adoro a proposta, a hibernação de 120 anos e um recomeço em um lugar
totalmente diferente e belo – mas eu senti todo o desespero de Jim de forma
real, imaginando como seria estar SOZINHO em uma nave pelos próximos 90 anos –
menos que isso, considerando que ele provavelmente morreria antes. É angustiante
ver sua degradação. Vê-lo conversando com Arthur que lhe sugere que ele “viva
um pouco”, e então vê-lo começar a se divertir com programas super modernos de
dança e basquete, mas nada disso é o suficiente sozinho. Então a barba cresce, o cabelo cresce, ele passa a beber
demais e sofrer intensamente porque não tem mais nenhuma esperança de que algo
vá dar certo. Sua mensagem para a Terra chega em 19 anos, a resposta mais
rápida, talvez, em 55! Então ele conhece uma garota…
Aurora, a garota adormecida [!].
Não era o que eu esperava ou o que eu tinha
entendido ao ver o trailer – confesso que foi difícil acreditar que Jim fosse
realmente ter a coragem de, depois de ver os vídeos de Aurora (Jennifer
Lawrence) e ler seus livros, apaixonar-se por ela, por sua voz, seu senso de
humor, acordá-la. E ele o fez. Mas não é totalmente condenável. Quer dizer, até
é, mas dá para entender… afinal de contas, Jim Preston passou MAIS DE UM ANO
sozinho naquela nave, ele perdeu todo o juízo, ele pensou em se matar mais de
uma vez, provavelmente, embora só tenhamos visto uma, e é como Gus diz mais cedo:
uma pessoa que está se afogando tentará
levar mais alguém com ela; não é o certo, mas ela tentará. E foi exatamente
o que o Jim fez ao acordar Aurora. E se não fosse por Arthur, eu acho que ele
teria guardado esse segredo até a morte ou depois.
Porque eu teria.
A chegada de Aurora movimenta as coisas – e temos
cenas deliciosas. O filme não perde o fôlego, sempre se renova para ser
interessante, nos envolver, e eu adoro isso. Ela é diferente dele. Não só por
ser rica, mas por estar visivelmente mais frustrada que ele, embora ela ainda
esteja passando pelo o que ele passou um ano antes. Então ela está desesperada,
ela tenta novamente as mesmas coisas que ele tentou, algumas coisas novas, e
aos poucos eles vão se aproximando e ela vai tomando consciência de que não há
esperança, que eles nunca chegarão a Homestead II, mas passarão a vida toda
ali. Então Jim a leva para se divertir. Jogar basquete. Dançar. Dar um passeio
do lado de fora da nave. E então ela não resiste no retorno, e eles se beijam. E
é lindo. E então eles começam uma vida romântica e sexual, aproveitando o que
podem aproveitar.
E eu diria que é lindo.
Embora não deixe de ser desesperador.
As coisas desandam de vez quando, no aniversário
dela, ambos lindíssimos e ele pronto para pedi-la em casamento, Arthur abre a
boca por entender errado um comentário (“Não
há segredo algum entre eu e Jim”), e Aurora descobre que sua cápsula não foi
acidente, ela foi acordada por Jim. É natural que ela se REVOLTE, não queira
mais vê-lo. A sensação é de que ele roubou a sua vida, de que ele a matou. E isso
é terrível. As cenas realmente me machucaram, eu devo dizer isso, e quando ela
foi até o quarto dele para bater nele, eu acho que ele mereceu, e eu acho que
ela também merecia descontar aquilo de alguma maneira, e talvez eles pudessem
começar a trabalhar em deixar as coisas bem… ou não. Até porque eles tiveram coisas muito mais sérias com as
quais se preocupar.
O acidente com a cápsula de Jim era SÓ O COMEÇO. A
nave toda apresenta alguns problemas. Como um elevador que emperra. A máquina
de café-da-manhã. Ou 16 robozinhos daqueles que limpam o chão estragados. Assim,
Gus acorda, um membro da tripulação bastante debilitado. E eles vão tomando
conhecimento, pouco a pouco, de que há coisas muito erradas com a nave, e que
se eles não fizerem nada dentro de pouco tempo ela vai explodir e NENHUM dos
outros 5255 passageiros (e tripulação) chegarão a seu destino. Uma das cenas
mais impactantes (e com efeitos ótimos, como todo o restante do filme) foi
quando a gravidade falhou. Para Gus e Jim que dormiam pouco pôde ser sentido. Para
Aurora, que estava na piscina, foi incrivelmente DESESPERADOR. Não sei se eu
teria coragem de entrar na piscina novamente depois daquilo.
Com tudo perigosamente entrando em colapso, e Gus
morrendo por causa dos defeitos sérios em sua cápsula, Jim e Aurora, sozinhos,
precisam descobrir o que aconteceu e resolver o problema. Dois anos antes,
quando Jim Preston foi acordado antes da hora, um meteoro perfurou a Avalon, e
assim causou todo um problemaço que é estudado e resolvido na última parte do
longa, no clímax eletrizante que vem como uma sequência de ação em contraponto
ao romantismo de cenas anteriores, como Jim e Aurora juntos observando a
passagem por uma estrela, um gigante
vermelho. Embora o romantismo não deixe de existir, e essa seja uma marca
de Passageiros que me agradou, a
mistura da ficção científica e o romance. Um “navio afundando”, ao estilo
Titanic, tudo o que você espera é que Jim não vá morrer no processo.
E você teme.
Porque parece que isso vai acontecer.
As cenas contam com o resfriamento do sistema
central da nave, e Aurora precisa puxar uma alavanca para liberar o calor no
espaço, enquanto Jim precisa manter a porta externa aberta, e é um verdadeiro
alívio quando isso passa e ele ainda está vivo, porque você acha que tudo vai
ficar bem. Mas então a pressão no traje começa a cair, o oxigênio começa a
falhar, o cabo que liga Jim à nave se rompeu… e Aurora está longe demais. O que não a impede de tentar. É toda uma
construção de suspense que nos faz perguntar: “Jim vive ou não?” Quando ela foi
até ele, do lado de fora, achei que sim. Quando ela não o alcançou, achei que não.
Quando ela conseguiu segurá-lo pelo seu cabo e puxá-lo, eu tive certeza que
sim. Eles não o levariam para dentro da nave para depois ele morrer ainda lá
dentro, eu não acreditava nisso.
Mas quando ela o coloca no AutoDoc, PACIENTE
MORTO.
É angustiante, mas você sabe que tudo TEM que dar
certo – e ela comanda tentativas de ressuscitação com o código e a pulseira de
Gus, e então Jim está de volta. E é um alívio. E felizmente ela não aceita
entrar em hibernação no AutoDoc, como ele a propõe – o final é lindo. Terno,
leve, emocionante. Eles estão sozinhos, vivendo sua vidinha na Starship Avalon,
mas eu sinto que eles foram MUITO MAIS FELIZES do que muita gente na Terra. Ao menos
eles tinham um ao outro, amor, e muito luxo ao seu redor. Foi muito bonito
vê-los cuidar de Arthur, vê-los juntos na piscina olhando para o espaço do lado
de fora. E realmente: “It’s a hell of a
life”. No bom sentido. No ÓTIMO sentido. Eu me emocionei e novamente quis
estar lá, quis fazer parte disso. 88 anos depois, quando a tripulação foi
acordada, próximos de Homestead II, eles encontraram uma NOVA NAVE.
Tão fascinante quanto.
Ou mais.
Acredito que o filme podia ter acabado de forma
diferente, podia ter brincado mais com nossos sentimentos, mas eu fico MUITO
FELIZ que não o tenha feito. Porque eu adorei vê-los juntos e felizes. Aquela aparição
da parteira no meio do filme me faz pensar que eles tiveram filhos. A parteira
podia voltar a dormir no AutoDoc, se quisesse. Eu acho que Passageiros evidencia um perigo das cápsulas de hibernação, essa
ideia de que “nunca dão problema”, e então uma delas dá – o quão arriscado é se
aventurar em algo assim sem ninguém para garantir que tudo vai dar certo? O filme
está com belas interpretações, e está visualmente admirável – efeitos e
fotografia EXCELENTES. E a proposta? É SEMPRE muito interessante, essa da
hibernação, das viagens interplanetárias, de uma colônia em outro planeta. Eu adoraria
fazer parte dessa experiência, eu adoraria estar partindo para Homestead II.
Mas isso ainda vai alguns anos e eu provavelmente não
estarei aqui para ver.
De todo modo, EU AMEI O FILME! Recomendo,
sim! Emocionante, lindo, eletrizante.
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