Sherlock 4x02 – The Lying Detective
“I’m at the bottom of a pit and I’m still falling, and
I’m never climbing out”
Sherlock
nunca falha em nos surpreender com excelentes episódios que sempre apresentam
um roteiro impactante. É o caso de The
Lying Detective, que bem que poderia ter sido um Season Finale, de tão forte e impressionante que foi. Esse é o
episódio que, até o momento, eu considero o MELHOR episódio de Sherlock. Tem tudo o que você pode
esperar, da loucura de um psicopata serial
killer à complexidade de um plano intricado para chamar a atenção de
Sherlock Holmes, enquanto ele é observado de perto. Com a morte de Mary Watson
no fim do episódio passado, as coisas não estão nada bem para nenhum dos
personagens. John Watson e Sherlock Holmes estão distantes, e enquanto o
primeiro visita uma nova terapeuta, o segundo se afunda em drogas novamente de
uma forma perigosa que parece não ter mais retorno. Esse é o clima que reina
quando encontramos Sherlock no meio dessa nova temporada.
A introdução já é angustiante. Temos o nojento do
Culverton Smith em uma reunião à base de TD-12, uma droga inibidora de memória
com o poder de deixar qualquer um confuso,
na falta de uma palavra melhor. É assim que vemos Faith, sua filha, após uma
reunião com ele, lutando para colocar no papel o que for possível lembrar do
que foi dito, e o que mais a marcou foi: “I
need to kill someone”. Depois disso, UMA ÚNICA PALAVRA mudou sua vida para
sempre. Depois disso vemos a passagem de 3 anos, dentro dos quais Faith Smith
aparece para Sherlock para pedir ajuda – e é quando entendemos o ESTADO de Sherlock,
com barba grande, trêmulo, na base de drogas. É impressionante e envolvente
como ele tenta acompanhar seu próprio cérebro e então começa a encaixar as
coisas a ponto de querer aceitar o caso de Faith. O casaco. A bolsa. A arma. O táxi.
Ou a falta de um táxi.
O tipo de coisa que nos faz amar Sherlock.
Faith e Sherlock compartilham uma noite adorável,
eu diria – eles também diriam. Sherlock faz um estudo detalhado do que pode
absorver através do papel que ela lhe entregou. E é ainda mais admirável como
ele explica como chegou à conclusão de que a sua cozinha era pequena, fazendo
desenhos no ar, conjurando janelas e sol, e os movimentando. É SENSACIONAL. “Amazing” “I know” “I meant the chips”. Mas tudo é muito
vago, muito duvidoso. A impressão passada é a de que Faith NÃO existe. Shezzer pergunta
a Sherlock com quem ele está falando. Mrs. Hudson pergunta “Que amiga?” antes de Sherlock sair com Faith, e não a vê. Nas câmeras
de Mycroft a impressão é de que Sherlock está andando sozinho. E mais coisas…
como o fim de toda aquela “noite adorável”, quando Sherlock, sucumbindo aos
efeitos da droga, sem chão, não verá mais Faith de uma hora para outra.
“Faith?”
Mas ainda antes disso… com takes assombrosos de um Culverton Smith na TV, recados para
Mycroft, e telefonemas dele e John que citam Sherrinford, é importante que a
conversa de Sherlock com Faith, ou quem quer que ela fosse, seria importante
para ditar todo o ritmo do futuro do episódio: “You said your life turned on one word. A name can’t be one
word”. Antes de
desaparecer, Faith comenta: “You’re not
what I expected. You’re nicer. [Than]
anyone” e essa palavra fica marcada: ANYONE.
Porque então tudo faz sentido. O que Smith disse depois de dizer que queria
matar alguém e lhe perguntaram quem foi isso: QUALQUER UM. “Of course. He doesn’t
want to kill one person, he wants to kill anyone. He’s a serial killer”.
A série nos impressiona e nos golpeia a cada cena, além de criar tão bem a
impressão de uma mente transtornada sob o efeito de drogas, que é o caso de
Sherlock no momento. Takes rápidos, desconcertantes, PERFEITOS.
Você anseia por respostas.
Então retornamos, ou avançamos. A cena vista
anteriormente, de John Watson com sua terapeuta, é completada pela chegada
louca de Mrs. Hudson em um carro, 3 semanas depois da cena de Sherlock e Faith.
E ELA É MESMO UM MÁXIMO, cada vez mais! Assim, ela chega sem fôlego para pedir
ajuda a John, e ainda responde à polícia sobre se ela sabia a que velocidade
estava dirigindo com um debochado “Of
course not, I was on the phone! It’s for you, by the way” que me faz amá-la
ainda mais! Acontece que o Sherlock está fora de si, de verdade. O apartamento
está virado, ele está sem controle, coisas penduradas por todo lado, fotos, uma
arma… e é claro que a Mrs. Hudson foi atrás de ajuda, e ela sabe que só há uma
pessoa no mundo que pode ajudar Sherlock Holmes de verdade, e essa pessoa é
John Watson. Por isso ela faz aquele EXCELENTE discurso:
“Now you just listen to me, for once in your stupid life! I know Mary’s
dead and I know your heart is broken, but if Sherlock Holmes dies too, who will
you have then? Because I’ll tell you something, John Watson, you will not have
me!”
Wow!
Se superando mais uma vez, como sempre, a Mrs. Hudson
sai de casa chorando depois desse discurso, faz com que John vá até ela e o faz
prometer dar uma olhada em Sherlock… então sorri e abre o porta-malas, com
Sherlock Holmes algemado lá dentro. TEM COMO NÃO AMAR ESSA SENHORA?! E a cena
dela com a arma lá na Baker Street para conseguir vencê-lo foi SENSACIONAL. Então
tudo se intensifica, cresce, com o telefonema de Smith para John, com alguém do
lado de fora o esperando – no endereço que Sherlock já tinha lhe dado duas
semanas antes, uma antes de John sequer pensar em trocar de terapeuta. Molly Hooper
também apareceu para examiná-lo, e quem explica como ele “previu” o futuro foi
Mary, ou John, na verdade, já que Mary não existe mais de verdade, e tudo faz
pleno sentido… triste, no entanto, é ver Molly dizer que ele não tem mais que
semanas se continuar agindo desse jeito.
Sherlock está no limite.
Escondendo-se à plena vista, Smith é MESMO
desprezível. Aquele comercial
(“I’m a killer. You know I’m a killer. But did you know I’m a cereal killer?”)
já me inspirou um ódio tão completo por ele que mal posso explicar, por tamanha
manipulação. E infelizmente isso é tão real. Ele parece passar de todos os limites
imagináveis ao perguntar: “Mr. Holmes…
how do you catch a serial killer?” em uma sala cheia de gente, COM
CRIANÇAS. Ele interpreta um papel assustador de quem é inocente, ingênuo, uma
ingenuidade que não combina com a pergunta, ainda mais sabendo porque ela foi
feita. Houve muita tensão no episódio que, acredito, melhor construiu o
suspense em Sherlock. Os sentimentos
estavam perigosamente intensificados, a cena foi cheia de tensão, de ameaças
veladas. “Money, power, fame, some things
make you untouchable”. Eu me pergunto o quanto aqueles funcionários sabem
sobre ele.
E o quanto é fácil para ele ameaçá-los.
Minha conclusão foi se construindo de que Smith
era LOUCO. As cenas foram de um suspense arrebatador. Uma construção perfeita
de tensão, de angústia, de medo. Aquela
cena no mortuário, a sala preferida de Smith no hospital, o hospital que ele
construiu para MATAR PESSOAS. E então as coisas estão prestes a se INTENSIFICAR
ainda mais! 19 ½ minutos depois, passos se aproximam, marcados por três sons,
graças a uma bengala de apoio… FAITH SMITH. E não é a Faith Smith que
conhecemos e por quem nos apaixonamos. Oh não. Porque enquanto Sherlock fala
sobre como Faith foi procurá-lo na Baker Street, como eles passaram uma “noite
adorável” juntos, como comeram batatas, Smith garante com toda a propriedade
que NADA DISSO ACONTECEU. E é desconcertante, porque você percebe mesmo que Sherlock
está enganado, e nada daquilo aconteceu.
De fato. “Dad? What’s happening? What was that text? Are you having one of your
jokes? Who are you?”
E você se pergunta: WTF?!
Porque a aparição de Faith Smith era enigmática
desde o começo, certamente. Mas você não entendia ainda de que forma, e aqui,
quando a vemos, entendemos que nunca a tínhamos visto mesmo. “You’re not her, you’re not the woman who came to Baker Street”. Parece loucura, é
desconcertante, mas é a verdade – e bem-vindos ao universo de Sherlock Holmes. Eles brincam com nossos
sentidos constantemente, e essa é uma marca IMPRESSIONANTE da série. A pergunta
que paira é de quem esteve no apartamento de Sherlock… perguntas como “Who are you talking to?”, de Shezzer e “What friend?”, da Mrs. Hudson lhe voltam
à tona, e então ele se lembra: “Anyone”.
E você sabe que tem que ter havido alguém porque “Faith” passou a Sherlock informações
que ele NÃO TINHA. De onde elas surgiram se não dela? E enquanto Smith ri de
forma alarmante, Sherlock sofre um novo colapso, corroborado pela confusão de
quem estava com o bisturi e quem está rindo ou
não no mortuário.
“Stop laughing at me!” versus “I’m not laughing” e “He’s
not laughing”.
Uma das cenas mais bem produzidas na história de Sherlock.
Então você não sabe mais o que será de Sherlock. John
Watson está tentando entender o que aconteceu, e é deprimente vê-lo espancar o
Sherlock daquela maneira, mas ele precisava colocar toda a frustração para
fora, e escolheu o amigo para fazê-lo – o amigo que se sentiu merecedor, porque
“tinha matado sua esposa”, embora não o tivesse. Mas a ameaça de Smith é clara: “I might even move him to my favorite room”.
Portanto, ALGUMA COISA DEVE SER FEITA. Eu juro que toda a intensidade
das cenas mexeu comigo profundamente, e que eu me peguei aos prantos de puro
nervosismo acima de emoção. As cenas de John e Sherlock, como sempre. Ou ainda
aquela despedida de John Watson, indo levar sua antiga bengala para Sherlock
enquanto ele estava no hospital. O lugar onde John NÃO podia deixá-lo, porque
Smith estava por perto e estava LOUCO para matar Sherlock. E ele quase
conseguiu, acredito.
Mas Mycroft e John apareceram no apartamento de
Sherlock…
…e isso mudou tudo.
Para nós, foi importante ver o papel de VERDADE de
Faith Smith cair, porque aquilo queria dizer alguma coisa, que algo era real. Mrs.
Hudson ajuda, como sempre, dando um chega pra lá no Mycroft e o chamando de “burro”,
e que ELA sabe o que causou isso tudo em Sherlock, porque ele sempre foi guiado
mais pela emoção – diferente do que as pessoas tendem a pensar. E depois que a
Mrs. Hudson expulsa todo mundo, John Watson vê o vídeo que Mary deixou para
Sherlock, e então as coisas começam a fazer sentido, de uma forma deveras
perturbadora, porque traz consigo uma força impressionante que nos marca
eternamente. E marca John, certamente. A cena se divide em três instâncias que
criam um suspense assustador – John Watson saindo com o carro de Mrs. Hudson, a
caminho do hospital, trechos do vídeo de Mary e Sherlock trancado com Smith em
um quarto de hospital, prestes a morrer.
“I don’t want to die”
Gosto de como, no fim de tudo, é mais ou menos
como Mrs. Hudson disse: SHERLOCK É GUIADO PELA EMOÇÃO. E ela não está falando
apenas do personagem “Sherlock Holmes”, mas da série como um todo. Embora com
roteiros complexos e chocantes, algumas coisas se resumem à “simplicidade” nada
simples do CORAÇÃO: “The only way to save
John is to make him save you”. Mary deixou instruções claras para Sherlock
de como ele devia “salvar” John Watson, e como ele não permitiria isso, a única
maneira de fazê-lo era colocar-se em perigo para ser salvo por John, e ele o
fez, da forma mais difícil e mais forte possível. TUDO POR AMOR AO JOHN! É um
vídeo pesado, e nos faz pensar em até onde Sherlock estaria disposto a ir por
amor a John Watson. Mas John Watson também faria qualquer coisa por Sherlock,
independente do que ele diga ou pense, às vezes. E aquela bengala foi essencial
para todo o plano.
As confissões.
Depois ainda temos uma lindíssima cena de Sherlock
e John em um bonito diálogo no qual John confessa, para Sherlock e para sua
memória de Mary, que traiu sua esposa, mas garante: “Who you thought I was is the man who I want to be”. Foram falas
muito intensas, marcadas. Emocionante. Então eles saem juntos… COM CHAPÉU! “I’m Sherlock Holmes, I wear the damn hat!”
E poderia ter sido o fim de um episódio INCRÍVEL e PERFEITO. Mas eles ainda
tinham, nos últimos minutos de episódio, informação o suficiente para ser uma
reviravolta mais chocante ainda para tudo. A trama de Sherrinford continua ali,
mas você não sabe a que extensão, até que tudo se encaixe. A terapeuta de John
Watson é, na verdade, a mulher que se passou por Faith Smith naquela noite com
Sherlock. O “Miss me?”, recado extra
deixado no bilhete, agora já não me parece mais tanto parte de Moriarty do que
de Sherrinford, que pode ter usado Moriarty como uma maneira de CHAMAR A
ATENÇÃO dos irmãos.
A flor no cabelo da “terapeuta”/“Faith Smith” é
ainda mais desconcertante, porque esclarece a necessidade daquela mulher no
ônibus no episódio passado, próxima de John, trocando mensagens com ele. TODAS
A MESMA MULHER. As três, uma só. E não só isso: “Isn’t it obvious? Haven’t you guessed? I’m Eurus”. Quem é essa
mulher, afinal de contas? A
IRMÃ SECRETA DE SHERLOCK HOLMES. “Didn’t
it ever occur to you, not even once, that Sherlock’s secret brother might just
be Sherlock’s secret sister?” Você só consegue terminar o episódio
com os olhos esbugalhados, em puro choque, com a qualidade do roteiro
apresentado. E você só espera que aquele “Uh.
He’s making a funny face. I think I’ll put a hole in it” não signifique o
que eles queriam que pensássemos que significava, porque não pode haver Sherlock sem John Watson! De todo modo,
mais uma semana e teremos algumas respostas…
E infelizmente a temporada já chega ao fim.
MAS JÁ?!
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