Vale o Piloto? – Desventuras em Série 1x01 – Mau Começo: Volume 1


“This isn’t better than nothing”
QUE MARAVILHA! Como um fã dos livros de Lemony Snicket desde, o quê, meus 12 ou 13 anos, eu devo dizer que a série é um primor! Meu comentário do começo ao fim foi de que parecia muito que eu estava lendo o livro, porque tudo foi captado da forma mais PERFEITA possível. As cores, o estilo, as falas… tudo. Os atores estavam incríveis em seus personagens, e eu estou muito orgulhoso e FELIZ de poder ver Desventuras em Série adaptado de uma forma tão linda, respeitosa, que transporta para as telas exatamente o que lemos e ADORAMOS. E vamos ter mais ou menos 1h30min POR LIVRO, o equivalente a um livro. Eu não poderia estar mais FELIZ! Tudo começa naquela fabulosa abertura cantada por Neil Patrick Harris, nos aconselhando a NÃO VER a série, e foi onde eu vi que “Daniel Handler” estava responsável pelo roteiro.
Então eu fiquei muito feliz.
Depois de MAU COMEÇO: VOLUME 1, tivemos até a DEDICATÓRIA! <3

To Beatrice –
Darling, dearest, dead.

Tudo caminhou perfeitamente. A presença de Patrick Warburton no papel de Lemony Snicket foi sensacional e essencial para transmitir a sensação de que estávamos, novamente, lendo os livros. Ele começa iluminado pela chama daquele único fósforo, nos dizendo como a história não tem um final feliz, nem um começo feliz, e poucas coisas felizes acontecem no meio. Naturalmente. A primeira sequência, que sai genialmente do bonde oscilante (os mesmos trejeitos de linguagem dos livros, tudo idêntico) rumo à Praia de Sal, com uma pequena ajuda de inteligentes flashbacks, é a introdução perfeita para DESVENTURAS EM SÉRIE como as conhecemos. As crianças estão na Praia de Sal, se perguntando por que seus pais não quiseram ir com eles à praia, curtindo um dia nublado onde eles podem colocar sua toalha onde quiserem, tranquilamente.
Eles são mesmo muito inteligentes!
A apresentação das Crianças Baudelaire já me conquistou. ESTAVA AQUI EXULTANDO DE ALEGRIA! Conhecemos um pouco mais de Violet Baudelaire, uma garota inventiva de 14 anos com capacidades mecânicas admiráveis – vide seu relógio/torradeira. Klaus Baudelaire é um garoto inteligente de 12 anos que adora ler – adorei seu comentário sobre como, talvez, Proust seja mais fácil de se entender no original em francês. E Sunny Baudelaire é um bebê que se comunica apenas através de resmungos e gritinhos fofos que a maioria das pessoas não consegue compreender, e que tem dentes afiadíssimos capazes de muita coisa! Adorei a apresentação, particularmente, de Sunny, roendo aquela pedra – mas aquilo ajudou em tudo, porque nos apresentou uma invenção MAGNÍFICA de Violet para buscar as pedras jogadas de volta do mar.
“I’m super bad”
É impressionante que tudo esteja tão parecido com o livro, além de adorar a história, faz com que meu senso nostálgico de um fã apaixonado vibre! Como Sunny perguntando “Quem é aquela figura misteriosa?” quando o Sr. Poe aparece no meio da névoa caminhando em sua direção. É assim que Lemony Snicket começa o seu livro. As crianças estão impecáveis, e as traduções de Sunny Baudelaire através de legendas é ADMIRÁVEL. Engraçadíssimo, por sinal, e admirável. O Sr. Poe, totalmente sem jeito, dá a notícia aos três irmãos que agora eles são os Órfãos Baudelaire – e os leva para ver em que estado ficou a Mansão deles depois que um incêndio a consumiu. Temos a luneta com o símbolo de VFD (CSC, em português) resgatada por Klaus, idêntica a que será vista mais tarde com o Conde Olaf e que foi vista por nós com Lemony Snicket.
Ah, adoro as sugestivas complexidades dessa série! <3
Os infortúnios começam já na casa dos Poe, porque a Sra. Poe é altamente desprezível. Quase como o Conde Olaf. Ela não tem preocupação nenhuma com o bem-estar das crianças. Ela está preocupada, por exemplo, com a matéria na primeira página do jornal, o sonho de tanta gente, segundo ela, e é mesmo absurdo. Ela faz comentários como “That would make a wonderful headline” quando as crianças, apertadas em uma única cama, falam do sofrimento de ter perdido os pais e como sentem falta deles. Mas é lindíssima a cena dos três deitadinhos juntos na cama, um protegendo o outro, porque existe, certamente, muito amor entre eles, e muita união. Isso faz toda a diferença. No dia seguinte, o Sr. Poe os leva para a casa do Conde Olaf, em uma interpretação bastante duvidosa do que o que os Baudelaire Pais quiseram dizer com “parente mais próximo”.
“WE FEEL TERRIBLE AND WE MISS OUR PARENTS VERY MUCH”
Parece reconfortante chegar ao seu novo lar, ou o que eles pensam que será seu novo lar, e encontrar a Juíza Strauss, com sua roupa de juíza (inclusive o cabelo), em uma clara caricatura em cima do que Desventuras em Série é continuamente construída. Seria ideal viver com ela, ao que parece, porque seus problemas envolvem habilidades mecânicas, biblioteconomia e picar coisas… seria perfeito. Mas não é a casa dela que será seu novo lar. E sim a casa do Conde Olaf – passamos de um plano colorido quase de contos de fada para algo aterrorizante na casa do desprezível Conde Olaf, e sua tatuagem no tornozelo esquerdo. É bastante macabro, e a fotografia faz um trabalho PERFEITO na construção do ambiente todo. Tudo sinistro e sombrio, quebrado apenas pelas cores vivas das roupas dos Órfãos Baudelaire, única cor que se vê no lugar.
E aquele TERRÍVEL comentário sobre a mãe deles?
“And a mother. Remarkable woman. Flammable”
Mas a série tem o mesmo sucesso dos livros em fazer um humor duvidoso em cima de coisas pesadas, e eu ri. Confesso que por mais horrível que seja o comentário sobre a mãe deles, eu ri – sou uma pessoa terrivelmente má por isso? Então se estabelece de fato o “Mau Começo”, na terrível casa do Conde Olaf, e os três irmãos precisam se adaptar ao local. Depois de Lemony nos avisar sobre o Conde Olaf, ele dá uma lista de tarefas para os irmãos seguirem, além de um pavoroso e desafortunado tour pela terrível casa… achei muito linda a cena de Violet, Klaus e Sunny sentados juntos em sua única e minúscula cama, falando sobre lar e sobre fazer uma casa em um lugar ruim. E era decididamente um lugar ruim… eles tiveram que limpar o banheiro com uma escova de dentes, e a Juíza Strauss, que trouxe um cordeiro assado para eles e tudo, foi enxotada pelo Conde Olaf.
Que, por sinal, aproveitou para dizer coisas terríveis sobre as crianças.
Acho bacana a construção de Desventuras em Série, e não sei explicá-la de fato – mas isso não me impede de tentar. A forma caricaturada como personagens como a Juíza Strauss e o Conde Olaf dão à história um tom estranho, bizarro, quase cômico, mas tudo é tão triste, mesmo, em seu cerne, que a confusão é natural – sentimentos paradoxais marcam a fruição de Desventuras. E o jornal anunciando que eles estão “sãos e salvos na casa de um ator famoso” é um presságio terrível… então vem a cena do jantar. Eles ganham a missão de preparar um jantar para Conde Olaf e sua horrível trupe teatral… e como eles fazem isso? Indo buscar ajuda da Juíza Strauss e sua fabulosa biblioteca. E QUE LUGAR MAIS LINDO! É fofo, também, vê-la tão animadinha e feliz… é triste pensar que ela poderia ser uma tutora boa para os órfãos.
Mas nunca será.
Então… MACARRÃO À PUTTANESCA. Enquanto eles vão comprar os ingredientes, eles têm um rápido momento com a Juíza no bonde, e passam pelo local na Praia de Sal onde receberam a aterradora notícia do incêndio. Sua recepção quando retornam para casa, com as compras, é na forma de um musical duvidoso guiado pelo Conde Olaf e sua trupe, em uma cena musical intitulada “It’s the Count!” Devo dizer que estou contente com como os talentos musicais de Neil Patrick Harris estão sendo aproveitados, e como ele pode soar TERRÍVEL se quiser. O “Congratulations” forçado, a trupe toda… e a MARAVILHOSA cena deles cozinhando. Eles estavam LINDOS e FOFOS demais, unidos. “Better than nothing”. Sunny picou a salsinha. E, adoráveis, os três nos conquistam rapidamente em uma cena curta mas que mostra o sentimento LINDO e verdadeiro entre eles.
A coisa mais linda de Desventuras em Série: a relação entre os três irmãos!
Por fim, a grande finalização do perfeito PILOTO vem no jantar. O Conde Olaf está terrivelmente alcoolizado, e é uma pessoa desprezível – e pela primeira vez você nota o quão perigosa, além do desprezível. A sequência é intensa, forte, e é assustador como ele ameaça Sunny Baudelaire, levantando-a daquele jeito… Klaus está no limite, também, enfurece-se com a situação, responde, questiona… E APANHA. E é doloroso ver Klaus sofrendo daquela maneira, e dizendo à irmã: “This isn’t better than nothing”. Porque não era. Como Lemony Snicket diz, aquilo não era melhor do que nada. Estar na companhia de um tutor violento e perigoso. E os desfortúnios de Violet, Klaus e Sunny Baudelaire está apenas começando. Lindíssimo como eles acabam, novamente unidos, deitados de olhos arregalados na única e estreita cama providenciada pelo Conde Olaf.
Eles não têm nada.
Eles sofrem mais do que tudo.
Mas eles têm o amor um do outro.

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