Legion 1x06 – Chapter 6


“What is the point of life?”
O sexto episódio de Legion desacelera um pouco, nos dá algum tempo para digerir o que aconteceu no quinto episódio, que nos deixou surtando – mesmo com um episódio mais calmo, mais linear e com poucas surpresas, Legion mantém um nível altíssimo de qualidade, e brinca com as possibilidades sugeridas no fim do episódio passado: estão todos em um hospital psiquiátrico, todos de volta a Clockworks, e não só Sydney e David, mas TODO MUNDO, tipo Carry, Kerry, Wallace, Melanie e até o Walter! O mais bacana desse tipo de roteiro não é realmente nos fazer acreditar que aquilo é real, porque, assim como Syd, sentíamos que tinha alguma coisa errada com aquela “realidade”, mas é nos convencer de que aquilo tudo é POSSÍVEL. Não é real… mas poderia ser e faria todo o sentido. Assim, a primeira parte do episódio se preocupa em “reapresentar” seus protagonistas.
Assim, temos Melanie Birds (muito parecida com a Sister Jude, convenhamos), que não aceita a morte do marido nesses 20 anos, e por isso cria uma ilusão de que ele ainda está vivo, em uma espécie de “cubo de gelo” (que não é um cubo!), quando na verdade só nega a morte de Oliver e nunca mexeu no seu quarto, esse tempo todo… Wallace lembra vividamente do trauma da morte de sua mãe quando ele tinha 5 anos, e revive essa memória continuamente, o que tem tudo a ver com o seu “poder” na outra “realidade”. Carry e Kerry andam sempre juntos, numa conexão HILÁRIA que me fez rir muito… Walter, o cara da D3, tem raiva do mundo, isola-se… Sydney questiona a veracidade daquele lugar. Não importa acreditar ou não nisso tudo, não é isso o que o episódio propõe: o episódio propõe que você se convença do quanto SERIA possível.
É convincente. E é possível.

“Look, I know you're just... trying to help. But it just doesn't, for some reason, feel real. […] There's a... Something's wrong. Like a dream, you know? But not an interesting one. More like the one where you're folding laundry. Or eating. Everything seems normal, but somehow you know”

Sydney é imediatamente a mais CONSCIENTE, inclusive vê uma porta misteriosa que ninguém mais vê. Wallace e David passam longos minutos, por exemplo, avaliando a baba alheia, antes de entrar em uma discussão mais “profunda” sobre um antes de Clockworks. David está convencido da veracidade daquela realidade – consumido por ela. Ali ele sente que tem equilíbrio, se sente bem, não sente medo de enlouquecer… como se ele tivesse se encontrado, e como se ali ele estivesse no controle. O que é a primeira grande dica de que estamos, ainda, dentro de algum canto obscuro da mente de David Haller em uma versão da realidade criada por ele, se isso já não estava claro desde o começo. A segunda grande dica está nos bichos comendo a torta de Syd, exatamente como estavam comendo os morangos do Quarto Branco.
Detalhe para a sequência de dança sensualíssima de Lenny. WHAT?!
Por sonhos notamos que vários deles estão mais conscientes do que aparentam. Syd está consciente na superfície, mas seus sonhos são claríssimos, onde ela vê o monstro, o Quarto Branco, o toque das mãos, por exemplo. E ela se questiona: “Do you really wanna grow old in a mental hospital? Die here?” E quando os demais falam sobre sonhos, tudo está ali… o Carry sonhou com um cubo de gelo. A Kerry com alguma coisa relacionada com 20.000 Léguas Submarinas (provavelmente o mergulhador). Melanie sonhou com “amor”. Está tudo ali, ao lado (ou através) da porta que vai e vem. “How can a door be there and not be there at the same time?” E algo que DEVE ser dito: todos eles ficam muito mais HILÁRIOS nessas versões de Clockworks. O “Love” da Melanie e o “Namastê” do Carry, depois daqueles movimentos antes de dormir, FORAM OS MELHORES! <3
Agora vamos comentar o que sempre comentamos, mas que nunca cansa: QUE FOTOGRAFIA F*DA DESSA SÉRIE, MINHA NOSSA! Vide a cena em que Carry vê o “Cubo de Gelo” flutuando em seu quarto em Clockworks, estica a mão para tocá-lo, e então está em outro lugar, no Plano Astral, de pé, com a mão estendida, a cama se afasta dele, o mergulhador aparece. É PERFEITO! E detalhe para o fato de Carry ESTAR MACHUCADO, com os machucados de Kerry dos últimos dois episódios – aquilo foi impressionante. O que foi angustiante foi mais tarde, quando Kerry acordou assustado, bateu na parede e não recebeu resposta… Carry não estava mais lá. Então ela fugiu pelo hospital inteiro perseguida por Walter, o cara da Divisão 3, e ninguém estava ali para conceder-lhe algum tipo de apoio ou segurança.
Desconcertante, também, foi a cena de Syd e David sobre diagnósticos:

“Well, I was thinking about that door, and how it's there sometimes and not other times. And how... I didn't tell you this, but I heard banging inside, like someone wanted to get out. […] And then I thought, you know I've had that feeling for weeks of how sometimes this place just doesn't seem real. And in this book I'm reading about dream states and memory palaces, and this idea of how maybe this place, the hospital, maybe it's a version of reality. And not reality itself”

Foi não só desconcertante, como potencialmente ALARMANTE quando David a avisou para ter cuidado, que aquilo podia piorar o seu diagnóstico, afinal de contas ela foi internada em Clockworks porque via coisas que não existiam – quando na verdade SABEMOS que o seu problema é sobre contato, e não sobre visões. Angustia pensar nessa manipulação grosseira da “realidade” em uma coisa que Sydney precisa aceitar mesmo que sinta que há algo incrivelmente errado. A fala de David desconstrói tudo o que foi previamente estabelecido como certo. E também desconstrói um pouco mais o personagem. Passamos 4 episódios TORCENDO por David, e gostando dele, querendo protegê-lo. Tivemos um episódio, o quinto, para o temermos, ele estava assustador. E, agora, primeiramente ele parece perdido, depois um cúmplice.
E nós conhecemos uma RAIVA por David.
As memórias voltam intensamente para Syd quando ela encontra a parede onde matou Lenny quando trocou de corpo com David, e temos uma recapitulação do Piloto ao 5º episódio em questão de segundos. É perturbador para ela, naturalmente, quase podemos sentir a angústia. Lenny, “psiquiatra”, a dopa novamente com um fone de ouvidos, som de grilos, e numa das transições maravilhosas de Legion, Syd está de volta em sua cama, coberta e tudo… mas, por fim, é Melanie quem sai TOTALMENTE do transe, seguindo o mergulhador que vem buscá-la, passando através da parede, e por um corredor, chegando até a cena final do quinto episódio, onde tudo está congelado no tempo, parado, e parece que tudo passa a fazer mais sentido, como se eles estivessem suspensos no tempo prolongando os segundos para que David e Syd sejam salvos…
O que é genial.
O mergulhador aponta para a bala no ar. Melanie tenta tocá-la, mas não consegue… depois tenta mover Sydney e David, igualmente sem sucesso… aqueles olhos na parede significam o quê, de fato? David é trazido de volta, mais ou menos, pela revelação total de Lenny sobre como tudo é uma fantasia, algo criado para distraí-lo, e ela o atormenta – fala sobre como eles se conhecem desde o útero (rapidamente ela vira o monstro gordo), e fala que precisa de seu corpo, do controle, e sua mente não interessa. As coisas se explicam ali de alguma maneira, embora não seja claro o quão “outra entidade” é Lenny e o monstro. O quão “separados” eles estão do David “real” – se existir um. No momento, sua representação está presa em um lugar apertado e escuro… excluído, o ápice de uma sequência angustiante. O episódio acaba com Syd sendo resgatada pelo mergulhador.
Mas o mergulhador, dessa vez, é Carry!

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