O Círculo (The Circle, 2017)
“Knowing is good. Knowing everything is better”
Como comumente acontece quando eu vejo um filme
assim sem ter lido o livro antes: AGORA EU QUERO LER O LIVRO. Mas O Círculo me envolveu (embora eu tenha
algumas ressalvas) de uma boa maneira – é uma ideia macabra, doentia, que nos
assusta desde o começo por ser tão absolutamente real… é exatamente o nosso
futuro, quiçá o nosso presente, e
isso nos atormenta. O filme tem a ideia de brincar com essa problemática toda
do desenvolvimento das tecnologias e da maneira como ela está sendo usada, de
uma forma fantasiosamente boa, enquanto é uma forma opressora de controle e
manipulação que exclui qualquer tipo de privacidade e, quase, de livre arbítrio, como o PartiRank deixa
evidente para aqueles envolvidos com o Círculo… eles querem controlar TODOS OS
ASPECTOS DA VIDA DELA! Tê-la constantemente sob “vigilância”. A ideia
perturbadora, no entanto, tende a nos deixar um tanto quanto paranoicos.
O quanto disso já está aí, AGORA?!
Muito.
Infelizmente acho que o filme trabalha com pouco
tempo, o que é algo comum em livros transpostos a filmes… o problema é que isso
dificulta, em alguns momentos, o envolvimento com o quão traumatizante tudo é. Conhecemos Mae, interpretada por Emma Watson
(e eu amo a Emma!), trabalhando infeliz em um atendimento a clientes, até que
sua amiga, Annie, consiga uma entrevista no Círculo. Tudo é muito abrupto. Uma semana
se passa depressa, na qual ela ganha uma média de 87 num quesito que gostariam
que fosse 100, e a cena toda em que comentam com ela sobre ela ter passado o
fim de semana todo fora é alarmante, mas
eu queria ver mais. Me subiu calafrios enquanto eles falavam com uma falsa “naturalidade”,
fingindo que estavam se importando com ela ou qualquer coisa… então ela passa
UM MÊS TODO lá dentro, sem nunca sair para ver os pais ou o amigo.
Mas isso é rápido
demais.
Vemos acontecer mais por falas do que por tempo de
filme, o quanto ela está se afastando do “mundo lá fora” para se envolver com
as tecnologias opressoras do Círculo. Eu senti, independente de ter visto
trailer, que o Círculo não prestava
desde o começo… era um lugar grande, moderno e, admito, BONITO. Mas eu me encolheria de pensar em entrar ali. Toda
a maldade é muito evidente. Eles estão controlando as pessoas, observando a
todo momento, e quando aquela mulher fala
sobre microchips nos OSSOS de crianças, para rastreamento! É totalmente
perturbador… porque as pessoas fazem tudo soar lindo e maravilhoso, como se
tudo “estivesse bem”, como se tudo fosse pelos “motivos certos”. Para defender
crianças de sequestros e abusos… mas não é
a verdade. Eles querem controlar as pessoas. Privacidade inexiste nesse
universo criado pelo Círculo, e isso me fez pensar um pouco no termo “big brother”, cunhado por George Orwell
no livro “1984”.
Estamos constantemente sendo brutalmente
observados, sem direito a VIVER. A passagem em que Mae resolve “ser
transparente” deixa isso evidente, e eu achei um pouco angustiante. Uma câmera que a acompanha em todos os momentos, com exceção de 3 minutos que ela tem para ir
ao banheiro… me angustiou, também, o modo como Mae foi se envolvendo com o
Círculo, como comprou a ideia dele, e como passou a ser a porta-voz ocasional
da “Dream Friday”, por exemplo, propondo cada vez tecnologias mais TERRÍVEIS! Os
questionamentos éticos são bem pertinentes aqui… eu estava ansioso por mais
cenas como as dela com Ty, que tinha
percebido o quanto aquilo tinha saído do controle. “O Círculo não é o que
você pensa”. E o jogo de manipulação é eficiente ao incluir, por exemplo, o pai
com esclerose no sistema de saúde utópico do Círculo, e eu penso no quanto as
pessoas são fáceis de manipular.
Isso não preocupa?
O filme é, portanto, repleto de questionamentos,
que Mae demora demais para fazer, infelizmente. A verdade só lhe surge quando,
depois de ter perdido a amizade de Mercer (ameaçado de morte por uma publicação
dela, e alguém que não quer nenhum envolvimento com o Círculo – que entende o
quão PERIGOSO isso tudo é!), uma demonstração do “Soul Search” impõe que ela procure por Mercer, e ela não quer
expor o amigo, e o faz por não conseguir dizer “não”, na “sutil” manipulação do
Círculo… que cena terrível. Eu gostava
de Mercer, embora tudo tenha sido tão depressa, como o afastamento dos dois,
que não vimos com calma, e foi triste vê-lo observado e perseguido, entrando
num carro para fugir do Círculo, sendo que ele NÃO QUERIA ENVOLVIMENTO. E então,
brutalmente, o seu carro cai de um penhasco, e ele morre… o meu coração se apertou todo quando ele morreu, e eu queria tanto que
Mae se levantasse. A morte de Mercer estava ali como um símbolo para os
horrores de que as tecnologias do Círculo eram capazes e a frieza deles frente
a eles.
Quatro dias depois ela está de volta.
Então temos o grande CLÍMAX. O filme acaba
abruptamente. É uma cena EXCELENTE, mas eu queria mais, queria um fechamento… temos
uma cena maravilhosa em que Mae Holland se posiciona à frente do Círculo e,
corajosamente, propõe “transparência” para Eamon e Tom, aqueles que “estão
acima das nuvens”. Expondo e-mails, por mais escondidos que fossem, e toda a
motivação e objetivos do Círculo. Os reais, além do “altruísmo” forjado. Corajosa
porque são pessoas perigosas que podem destruí-la, e inteligente porque faz
tudo na frente de TODO MUNDO, impedindo que eles pudessem tomar uma ação mais
drástica… inteligente e trabalhando com um bom quê de sarcasmo, Mae destrói completamente
os dois, com a ajuda de Ty, e propõe a ideia de “tecnologia usada da forma
correta”, o que eu acho igualmente perigoso… o poder que o Círculo concede é GRANDE DEMAIS para ser contido, para não
ser corrompido. Me preocupa, não acho que Mae tenha resolvido alguma coisa.
Mas ela começou.
E isso já é alguma coisa!
Digo esse final pensando no que li em “Estado e Revolução”, de Lenin, e o que
foi representado na ficção em “Jogos
Vorazes”, de Suzanne Collins e, ainda, alegoricamente, em “A Revolução dos Bichos”, também de
George Orwell… a NÃO destruição do Círculo cria a possibilidade da repetição e, quiçá, do agravamento de
tudo o que se quer destruir. Sem um “estado de transição”, tendemos a recair no
que tínhamos anteriormente, talvez pior. O que isso quer dizer? Sem destruir
totalmente o Círculo (o ideal), mantendo-o ali para usá-lo “de uma maneira
diferente” é, como eu disse, a possibilidade de corrupção dos propósitos que
começam bons para uma nova luta de poder e controle da população… a ideia do
Círculo, a ideia de Ty, nunca foi originalmente má ou cruel como o
Círculo se tornou. Apenas uma observação, uma reflexão a que o filme me leva… mas posso estar divagando, vamos parar por
aqui.
Volto à história quando ler o livro!
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