Resposta Certa (David Nicholls)
Um livro contagiante, em que você se reconhece
quase que do começo ao fim… ser jovem, ter sonhos, fazer umas analogias loucas e
hilárias (como “Nick é a prostituta de
perna-de-pau” e “pairando entre nós
como um peido em uma galeria”), se envergonhar e ter devaneios bizarros…
Brian Jackson nos mostra exatamente um pouquinho disso, e nos sentimos como ele
em várias ocasiões! A obra de David Nicholls, com uma história envolvente e um
final imperfeito (e por isso mesmo altamente real), nos cativa. Lançado em 2003,
a história é ambientada em 1985, e tem como protagonista um jovem de 19 anos
que acaba de ir para a faculdade, começar uma nova vida, e tem a oportunidade
de ingressar o time para o Desafio
Universitário… além de uma série de outras experiências que a faculdade e a juventude oferecem.
Você se envolve com o livro e a escrita
inteligente de David Nicholls, hábil em mesclar estilos, em mesclar diálogos
curtos (ou não) com longuíssimos parágrafos muito mais densos, por exemplo. Em
mesclar o espírito jovem e a estupidez da fase com informações pertinentes,
complexas, que conversam com a história de uma maneira ou de outra… a
capacidade de misturar discussões políticas dispostas a mencionar Karl Marx e
empreender uma dicotomia entre os conversadores e aqueles críticos sociais,
como Rebecca, que deixam Brian Jackson confuso, perdido em algum lugar do meio,
com cenas bizarras que nos falam, por exemplo, sobre o pênis do pai da garota
por quem Jackson é apaixonado, comparando-o
com um guarda-chuva fechado pendurado entre as pernas. Eu gosto porque a
mente humana (especialmente a mente jovem) é assim…
…capaz de pensar coisas sérias e coisas banais em
paralelo…
…coisas filosóficas e coisas simplesmente
triviais…
De todo modo, “Resposta
Certa” vem dividido em quatro rodadas mais
o epílogo final, e cada capítulo traz uma PERGUNTA e uma RESPOSTA para
introduzir aquele tema… perceba como, sempre, a pergunta referente àquele
capítulo se relaciona com o que leremos a seguir, como quando a pergunta se
refere a lágrimas no capítulo em que Brian
falará com Alice sobre o seu pai, ou sobre Dorothy
Gale no capítulo em que verão O Mágico
de Oz no Natal. As perguntas, portanto, não tem apenas relação com o Desafio Universitário, mas sim com a
própria trama contada… e você aprende umas coisas bem interessantes, embora no geral eu fique me perguntando como as
pessoas sabem dessas coisas… quer
dizer, eu sabia algumas respostas, como a que envolvia O Mágico de Oz ou a que era “O
Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, mas, na verdade, não muito mais do
que isso…
O Desafio
Universitário, para Brian Jackson, tem um significado tocante. Não é só uma
coisa de nerds ou perdedores, nem nada assim. Não. Brian assistia ao programa
com o seu pai antes de ele morrer, e ficava tentando acertar as respostas,
pensando que talvez um dia pudesse estar
ele mesmo lá na TV. Por isso quando a oportunidade lhe aparece na
faculdade, eu fiquei muito feliz, mas
o livro é uma verdadeira montanha-russa de acontecimentos e emoções (bem como a
vida, na verdade), e somos quase “estapeados” com a veracidade dos fatos em
ocasiões como quando Jackson, depois de passar umas respostas para a garota de
quem era a fim, perde a sua posição na equipe. O livro de David Nicholls
constantemente nos lembra do quanto a vida não
é perfeita, e do quanto às vezes não estamos preparados para ela.
Gosto dessa imperfeição escancarada.
Como é a vida de Brian Jackson num quesito “romântico”.
Um caos completo. Ele nutre uma paixão quase platônica por uma garota que
visivelmente não está nem aí para ele, além de ser muito bonita e desejada por
todos: Alice Harbinson. E isso não é nada saudável… mas quantas vezes não nos envolvemos em relações não saudáveis da vida?
E quantas vezes não estivemos de olhos fechados para as Rebeccas que estavam
sempre ali?! A verdade é que eu nunca
gostei de Alice, e eu estava esperando o coraçãozinho frágil de Brian ser
partido, como eventualmente aconteceu… e
eu gostei de como ele reagiu a tudo. Sem simplicidade, sem utopia, sem
levar tudo bem ou subitamente amadurecer depois disso… como a maioria das pessoas leva de fato. Torço por Brian com
Rebecca, no fim das contas. Acho que eles tinham uma química e muito a oferecer
um ao outro…
Mas, também, o
livro não é sobre isso, é?
[Também espero que Lucy seja feliz, preciso dizer]
As relações com a família e com os amigos são algo
que pesam em “Resposta Certa”. É difícil
pensar em quanto mudamos e em quanto não queremos acreditar que mudaremos
conforme o tempo passa… “melhores amigos” que às vezes desaparecem, mudam, se
afastam. É assim com Brian e Spencer, por exemplo, e é difícil vê-lo se afastar de sua antiga vida quando vai
para a faculdade, bem como é difícil ver Spencer se aproximar de novo dele,
depois de um problema com a justiça, e
parecer não pertencer mais ao seu lado. Confesso que foram cenas fortes que
me machucaram, e eu senti muita raiva
de Spencer, mas eu não queria, por isso, que ele sofresse um acidente nem nada…
e me partiu o coração quando Brian nem
pensou em ir correndo para a cidade ver o amigo, com David Nicholls nos jogando
a cena em que Spencer (Han Solo) e Brian se tornaram amigos, dias depois da
morte do pai de Brian.
Aquilo me tocou profundamente, e eu fiquei com um nó na garganta.
O livro tampouco é sobre o Desafio Universitário, embora o jogo televisivo desempenhe um bom
papel nisso tudo. Não. O livro é sobre a VIDA, sobre as AMIZADES, sobre as
RELAÇÕES HUMANAS, sobre ser JOVEM e sobre CRESCER. Sobre muita coisa. O livro é
sobre sentir, sobre viver, com todos
seus altos e baixos. Um livro encantador e divertido em alguns momentos. Vergonhoso
em outros. Emocionante também. Preparado para despedaçar corações
ocasionalmente. Um livro intenso, em qualquer momento. De todo um modo, acho
que David Nicholls passa uma verdade, e nos convida a pensar em nós mesmos, em
pensar nos nossos amigos, nos nossos pais e nas nossas vergonhas, nos nossos
sonhos… nos reconhecemos aqui e ali, e adoramos o livro por isso. Adoramos a “imperfeição
humana” de Brian Jackson.
Que tem seu ápice no grande clímax do livro,
quando ele e a equipe estão nos estúdios para gravar o Desafio Universitário, e tudo parece estar dando errado. Brian está
bêbado (depois de toda a desilusão com Alice e Neil, esse dentro do armário),
dá uma narizada na testa de Patrick (?), e quase é desclassificado, mas por fim
continua no Desafio… e eu achei que
eles pudessem perder, depois achei que eles pudessem ganhar, e senti orgulho de
Brian por responder tão prontamente a algumas perguntas, como aquelas sobre as
peças de Shakespeare, mas a sua vergonhosa finalização foi perfeitamente adorável. Ah não, não me entenda mal! Eu fiquei
angustiado, envergonhado e com um pouco de raiva misturada a pena de Brian, mas
hey! O que a gente podia esperar? Era
algo assim mesmo! Imperfeito, como eu venho dizendo, porque a vida não tem,
necessariamente, “finais felizes”.
Mas aquele não era um final… o epílogo que o diga…
…apenas o início de uma nova parte da vida de
Brian…
…e a vida é assim, não é?!
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