Harry Potter e o Cálice de Fogo (Harry Potter and the Goblet of Fire, 2005)
“Dark and difficult times lie ahead”
Os hormônios explodem, os cabelos crescem (e
felizmente eles não são cortados) e Harry
Potter se torna mais ágil e sombrio do que nunca! Harry Potter e o Cálice de Fogo é repleto de aventura e um fôlego
incrível que nunca desacelera – muita informação e tudo acontecendo depressa, a
impressão é de que, agora, tudo é maior e mais complexo, como ilustra o
surgimento de Durmstrang e Beauxbatons, e a direção de Mike Newell é fantástica!
Ele recupera as cores que Alfonso Cuarón tirou de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (que lá representava bem os
dementadores), mas conseguiu, mesmo com cores, impor seriedade e escuridão, de
forma paradoxal, talvez reconstruindo, de forma brilhante, a própria
intensidade experimentada pelos personagens que, enfim, atingem a puberdade… se
tornam jovens em que tudo é grande e novo.
Assim, o filme é certamente O MEU FAVORITO.
Mas eu volto a essa afirmação controversa mais
tarde…
Toda a agilidade de que falo na introdução desse
texto pode ser observado, ao lado da faceta mais sombria de O Cálice de Fogo, logo no início do
filme, quando vemos a Casa dos Riddle, com Lord Voldemort, acompanhado de dois
de seus servos, matando um jardineiro trouxa em um flash de luz verde – que é o
teor do sonho de Harry Potter, que acorda suado (e bonito, mais que nunca!) na
Toca, prestes a ir à Copa Mundial de Quadribol. Tudo acontece depressa, e
queríamos poder demorarmo-nos mais em alguns eventos, como a partida brilhantemente
introduzida, apresentando os irlandeses e os búlgaros, com Viktor Krum como
apanhador. Temos uma Chave de Portal, uma tenda com tecnologia TARDIS, os
Diggory e um ataque que arrasa o acampamento e coloca no céu a Marca Negra,
símbolo dos Comensais da Morte, seguidores de Lord Voldemort.
Esse início anuncia magnificamente o RETORNO de
Lord Voldemort.
Harry Potter
e o Cálice de Fogo foi lançado em novembro de 2005, mais ou menos um ano e
meio depois de seu antecessor, dessa vez sob a direção de Mike Newell, em seu
único filme da franquia. Baseado no livro homônimo de J. K. Rowling, de 2000, a
história traz o quarto ano de Harry Potter na Escola de Magia e Bruxaria de
Hogwarts, quando a escola sediará o TORNEIO TRIBRUXO, uma importante e mortal
competição entre campeões de três escolas, que tem Harry escolhido (junto a
Cedrico Diggory) para representar Hogwarts, através de uma armação que o coloca
na competição – afinal de contas, ele NUNCA colocou seu nome no Cálice de Fogo.
No entanto, mesmo assim, seu nome é cuspido pelo Cálice e ele não tem outra
escolha a não ser competir e lutar por sua própria vida. Todos os eventos
culminam em uma chocante cena no cemitério, sobre o túmulo de Tom Riddle, pai.
E, por fim, o retorno de Voldemort.
O filme apresenta informações importantes do mundo
Bruxo que desconhecíamos até então, como as Maldições Imperdoáveis, expostas em
uma torturante (embora genial) aula de Defesa Contra as Artes das Trevas de
Alastor Moody – a Maldição Imperio, que controla a pessoa para que ela faça o
que você quiser; a Maldição Cruciatus, da tortura; e a Maldição da Morte, Avada Kedavra, da qual apenas uma pessoa
sobreviveu até então. Harry Potter. Outras informações que passam depressa são
a história de Bartô Crouch Jr., e a cena da Penseira é quase incompreensível em
sua complexidade por aqueles que não leram o livro, infelizmente. Assim como
todo o fato que inclui o porquê de Neville Longbottom ficar tão incomodado com
a Maldição Cruciatus realizada DENTRO DA SALA DE AULA. Ainda assim, o filme
consegue se sustentar e ser MARAVILHOSO.
Talvez um pouco por causa das Provas… mas
certamente não só. A Primeira Prova do Torneio Tribruxo coloca Harry Potter
contra o Rabo-Córneo Húngaro, o mais perigoso dos dragões presentes na prova,
para recuperar um Ovo Dourado com uma dica importante para a próxima prova…
Harry consegue convocando sua Firebolt, em uma eletrizante sequência de ação
sobre os telhados da escola. Para desvendar a dica, Harry conta com uma
ajudinha de Cedrico Diggory (ele já o tinha ajudado antes também, ao avisar
sobre os dragões), que fala sobre o banheiro dos monitores no 5º andar, “um bom
lugar para um banho”, e sugere que ele “leve seu ovo” e “rumine um pouco a água
embaixo da água quente”. Sugestivo e dito ao pé do ouvido, essa é uma das
minhas falas FAVORITAS no filme. Assim como a cena de Harry tomando banho e
sendo provocado por Murta… quantas não
estavam EXATAMENTE como ela?
Lembro-me de quando lançou o filme, e de que eu
queria ter visto o banho de Diggory!
Mas se vamos falar desses hormônios todos,
precisamos falar do grande evento entre a primeira e a segunda prova – O BAILE
DE INVERNO. São algumas das melhores e mais divertidas cenas do filme todo.
Temos Harry tentando convidar a Cho Chang, mas ela já tem par (tadinho!). Temos
o Rony dançando com a Professora McGonagall (babuínos bobocas balbuciando em bandos). Temos o Neville todo
empolgado com o baile. Temos o Professor Snape inconformado com as conversas
incessantes durante a aula. Temos Rony convidando Fleur Delacour aos berros.
Enfim. O evento nos proporciona brilhantes cenas e um baile incrível e repleto
de jovialidade (e até um pouquinho de ROCK… eu AMO ver aquelas capas vermelhas
de Durmstrang girando para a transição do estilo de música!), com direito a
Hermione linda e uma briga SÉRIA entre ela e o Rony…
“Next time
there’s a ball pluck up the courage to ask me before someone else does! And not as a last resort!”
WOW.
Estou tentando ser breve, mas esse filme
simplesmente TEM TANTO o que se comentar. Harry desvenda a pista para a Segunda
Prova com a dica inicial de Cedrico, e depois com a ajuda da Murta, colocando o
Ovo Dourado sob a água, ouvindo a voz de sereianos que falam sobre “buscar algo
por uma hora”. Ou seja, Harry precisa ficar uma hora embaixo da água sem
respirar… na prova, Neville Longbottom o ajuda, com guelricho (no livro é o
Dobby!), e Harry precisa enfrentar perigos no Lago Negro para salvar o
“tesouro” que lhe foi roubado. No caso, Ron Weasley, e tudo bem, porque nessa
altura eles já não estavam mais brigando… Harry tem uma atitude muito boa
salvando, também, a irmãzinha de Fleur, que é atacada por grindylows e acaba
sendo desclassificada da prova, o que lhe garante o segundo lugar, e a chance
de, com Cedrico Diggory, entrar primeiro no Labirinto. Na última prova.
A assustadora última prova.
“People
change in the maze. Oh, find the cup if you can. But be very wary; you could
just lose yourselves along the way”
É um processo BRILHANTE de direção e condução
desse filme, porque quando Harry Potter entra no labirinto da Terceira Prova e
ele se fecha atrás dele, cortando a plateia, as cores e a música, tudo se torna
SOMBRIO DEMAIS, e não voltamos a sentir
alegria até o fim do filme – é a parte dirigida por dementadores. O labirinto
é mesmo desesperador, como Dumbledore alertou, e esse sentimento consome os
competidores e os espectadores. Viktor Krum está enfeitiçado. Fleur Delacour é
consumida pelo Labirinto e Harry pede ajuda por ela e, por fim, Harry Potter e
Cedrico Diggory, JUNTOS, veem a Taça do Torneio Tribruxo e correm até ela… ali
temos uma das partes mais tristes. Porque Cedrico tropeça, o labirinto começa a
devorá-lo, e Harry, ao invés de chamar ajuda ou correr para a Taça sozinho, o
salva. E se ele não o tivesse feito, Cedrico ainda estaria vivo.
Porque, juntos, eles tocam a Taça, convertida em
uma Chave de Portal.
E CHEGAM AO CEMITÉRIO.
A primeira coisa que acontece no cemitério é a
morte de Cedrico – “Kill the spare!”
Lord Voldemort ainda nem voltou oficialmente, e ele já nos deu a primeira morte
dolorosa da franquia, porque a morte rápida, seca e sem motivo de Diggory nos
machuca. Vê-lo cair duro no chão, é terrível. Então Harry é preso sobre o
túmulo de Tom Riddle, pai, enquanto Rabicho realiza a cerimônia que trará de
volta Lord Voldemort. É sombrio, é macabro e é, sim, assustador. Mas Lord
Voldemort está de volta, e isso muda as coisas. Acho apavorante (e brilhante) a
cena de Voldemort tocando a cicatriz de Harry, bem como a maneira como ele se
sente poderoso, e como Harry sente MEDO, porque isso é HUMANO e isso é o
NATURAL. Mas, ainda assim, ele demonstra coragem se levantando para enfrentar
Voldemort e, através do Priori Incantatem, seus pais, Diggory e o jardineiro
trouxa podem ajudá-lo.
Só um pouquinho.
“He’s back!
He’s back! Voldemort’s back!”
Vou dizer: minha relação com o filme é paradoxal,
ou deveria ser. Acontece que esse, para mim, é o MELHOR LIVRO DA SAGA, e ele é
também, pelo menos até aqui, o filme em que elementos mais se perderam, em que
as coisas mais foram alteradas – mas, ainda assim, eu acho que é uma adaptação
TÃO BOA. Falta muita coisa e mudou-se muita coisa, sim, mas a direção é
brilhante, e o ritmo do filme é inteligente, envolvente e representa bem a
mistura complexa entre tanto clima adolescente, tanto hormônio e a trama
sombria que se intensifica em O Cálice de
Fogo. O filme tem de tudo! É divertido, legal, cheio de aventura… depois é
sombrio, macabro e profundamente triste. Dos quatro primeiros filmes, é o
primeiro que acabamos com um sentimento predominante de melancolia. Acho que se
eu tivesse que escolher só um Harry
Potter para ver para o resto da vida, seria esse. É uma representação
incrível de tudo o que a franquia tem a oferecer, mesclado inteligentemente.
Ver o pôster já me excita! Qualquer pôster!
O filme termina, por fim, incrivelmente TRISTE.
Depois que Harry Potter retorna do cemitério trazendo o corpo de Cedrico
Diggory com ele, as cores e a música às portas do Labirinto não parecem mais
fazer sentido, combinar com tudo o que vivemos nos últimos minutos – estamos
horrorizados demais para “festejar”. Harry chorando sobre o corpo de Cedrico é
doloroso, e a reação do Sr. Diggory também é de partir o coração. Não temos um
final alegre ou festivo. O Salão Comunal está sem grandes adornos, Dumbledore
está sentado tristemente, fazendo um discurso sincero que conta aos alunos a
verdadeira causa da morte de Cedrico Diggory: o retorno de Lord Voldemort. E, exclusivamente para Harry, ele
diz: “Dark and difficult times lie ahead.
Soon we must all face the choice between what is right and what is easy”. O
filme é uma partida, um escurecimento total da franquia. O que é sombrio tomará
conta oficialmente daqui para a frente.
Lord Voldemort está de volta… tempos difíceis
estão por vir.
Lord Voldemort está de volta, e a franquia reflete
esse amadurecimento forçado!
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