Criando o Mundo de Harry Potter, Parte 5: EVOLUÇÃO
“I wanted the universe to be darker”
Harry Potter
e a Ordem da Fênix é um dos filmes mais emocionais de toda a franquia, na
minha opinião. O livro de J. K. Rowling, extremamente longo, é carregado de
emoção e de tristeza e sofrimento. Harry Potter está mais sozinho do que nunca,
e as emoções estão marcadas. Assim, eu acho que não havia filme melhor para
encaixar a quinta parte do Documentário Criando
o Mundo de Harry Potter. É difícil de imaginar, às vezes, o que se esperar
de um documentário que se intitula “Evolução”,
mas o título faz todo o sentido. Somos guiados por todas as transições da
franquia, de filme a filme, e como cada um mostrou um “avanço” em relação ao
anterior, com os acréscimos, as mudanças, sempre num crescendo. Das primeiras
transições das páginas do livro para Harry
Potter e a Pedra Filosofal até as decisões finais, como dividir Harry Potter e as Relíquias da Morte em
duas partes…
Mais profundo. Mais arrojado. Mais sombrio. À
medida que os oito filmes de Harry Potter traçam a jornada de Harry, desde
quando era um estudante inocente até se tornar um herói altruísta, a série
passou por uma transformação. “Evolução” conduz você por cada um dos incríveis
passos dados ao longo dos 10 anos desta odisseia cinematográfica. Junte-se aos
quatro diretores, membros-chave da equipe e do elenco, incluindo Daniel
Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson, enquanto eles desvendam como a visão de
criação dos filmes evoluiu para conservar a integridade e aumentar a
intensidade da série literária escrita por J. K. Rowling. Da sempre mutável
arquitetura do Castelo de Hogwarts e das inéditas paisagens do mundo da magia,
até as paletas de cores escurecidas usadas em cada produção, passando pelo
amadurecimento dos atores e de seus personagens, esta é uma aventura única e
espetacular a ser experimentada.
Foram 10 anos e um total de 8 filmes… é natural
que todos tenham crescido, e com o tempo vem a emoção, em pensar em como isso
tudo cresceu, mudou, o quanto significa. Harry
Potter e a Pedra Filosofal foi um risco, mas eles acreditavam no material. Ninguém
tinha noção do que viria a ser – J. K. Rowling mesmo, nunca tinha pensado em um
filme, ela só queria que seu livro fosse publicado! Ela disse não a vários
estúdios, inclusive à Warner, e só mudou de ideia um tempo depois, porque ela tinha medo. Tinha medo que o
filme colocasse os personagens em caminhos que ela não queria, afinal de contas
ela estava no meio de uma história de 7 LIVROS, e ela gostaria que trabalhassem todos com o mesmo enredo. A visão
de Chris Columbus para Harry Potter a
acalmou, e ela exigiu duas promessas: que ele seria o mais fiel possível ao
livro, e que o elenco seria totalmente britânico.
Chris Columbus
cuidou bem do seu bebê.
Harry Potter
começou (e seguiu, sempre) sob muita pressão. Os fãs amavam, e eles tinham que
fazer jus ao que os fãs queriam, ou então seria um fracasso… e como seguir tão
fielmente o material original? Um filme de 3h30min? Dois filmes? Sinceramente,
eu acho que Pedra Filosofal é um dos
melhores filmes que a série tem. Capturaram a história e o espírito da melhor
maneira possível… é apaixonante. Pedra Filosofal
foi bastante gravado em locações, porque eles não tinham dinheiro o suficiente
para construir TUDO, mas os estúdios Leavesden se tornaram A CASA DE HARRY
POTTER. Sem contar que coisas como o Grande Salão foram construídos de fato, e
tão bem construídos que na gravação de Relíquias
da Morte ainda eram usados! Em relação aos objetos de cena, a única crítica
de J.K. foi às varinhas, que não podiam ser ornamentadas demais… tinham que ser
cruas e práticas.
Acho que o visual FINAL das varinhas está PERFEITO!
Já em Harry
Potter e a Câmara Secreta, eles retornam com “a camisa de força mais frouxa”,
podendo inovar mais. O principal desafio era o fato de terem apenas 3 livros
publicados na época em que eles começaram o filme – se tivessem todos, poderiam
ter feito Hogwarts certinha para a viagem de A Pedra Filosofal e a morte de Enigma
do Príncipe, mas não era o caso… eles não sabiam da importância tremenda do
Diário de Tom Riddle, por exemplo, quando o fizeram para Câmara Secreta. Nesse segundo filme, ELES NÃO TIVERAM TEMPO PARA
NADA. Segundo o Documentário, o filme com a maior pressão de toda a saga,
porque tinha que ser lançado um ano depois do primeiro, o tempo de pós-produção
foi curtíssimo, e então Chris Columbus viu que ele não poderia continuar para
mais um filme, porque estava exausto.
Ele continua como produtor, mas não como diretor.
Se o segundo filme já tirou um pouco as cores, em comparação
ao primeiro, Harry Potter e o
Prisioneiro de Azkaban foi quem escureceu mesmo a franquia. Azkaban é mais
reflexivo, e Alfonso Cuarón, o novo diretor, tinha o desafio de trabalhar com
algo que já era um tremendo sucesso, e fazê-lo do seu modo. Ele foi respeitoso,
no entanto, e inovador, uma mudança
completa que definiu os rumos seguintes da franquia. Uma das mudanças foi
em Hogwarts. A silhueta precisou mudar para adicionar uma torre onde Sirius
seria preso, por exemplo, e eu AMEI essa visão do Alfonso de que já se
conheciam quartos e salas do castelo, e ele queria conectá-los… queria
explicitar qual era a relação entre eles, e isso garantia a VERACIDADE do
lugar. Não eram mais sets, mas sim um lugar real, saindo do Grande Salão para
as escadarias, para o quarto de Harry.
Não é interessantíssimo perceber isso?
Mas, como eu disse, uma das grandes contribuições
de Alfonso foi nas cores: “I wanted the universe to be darker. So I used a darker pallet”.
Cores monocromáticas e cores mais frias tomaram conta, e a mudança no visual
foi NOTÁVEL, e aprovadíssima, tem tudo a ver com Prisioneiro de Azkaban, com os dementadores… a mudança atingiu até
o título, por exemplo, que mudou do dourado para o prateado, e assim se
manteve. Alfonso trouxe as sombras, e as pessoas temeram que fosse ser escuro demais, mas fazia sentido. Azkaban definiu, até certo ponto, o tom
que os filmes seguintes teriam, e isso é um máximo! Com os livros cada vez mais
longos e com a necessidade de cortes cada vez mais sérios, foi uma escolha de
Alfonso contar a história do ponto de vista de Harry, e cortar o que não estivesse
intimamente ligado a ele… o terceiro foi
o primeiro cogitado a ser dividido em dois filmes.
O que foi cogitado também para Harry Potter e o Cálice de Fogo. Era um
livro IMENSO, o primeiro grande assim, e era uma decisão difícil: dividir em
dois filmes ou seguir uma linha restrita e cortar todo o resto? Quando
decidiram que Cálice de Fogo devia
ser um só filme, eles precisaram manter a decisão para o quinto e o sexto. O quarto
filme é um épico, com todo um senso de aventura, repleto de ação, e no geral
pôde brincar um pouco com humor, e com esse sentimento de escola e de crescimento.
Mas o filme também traz a complicação emocional que atinge os adolescentes aos
14 anos, e não só pôde ser mais engraçado, mas mais sério, no geral. Acho que aqui, Harry Potter ficou mais sombrio que nunca, com o ressurgimento de
Lord Voldemort. Por exemplo, em paralelo ao tema do crescimento, também
entramos no tema de “você é mortal”.
Afinal de contas, até então ninguém tinha sido
ferido de verdade.
É a primeira vez que vemos um personagem querido
morrer e de forma tão explícita, bem na frente de nossos olhos. É o que
acontece com Cedrico Diggory, e é um verdadeiro choque. Essa mudança drástica é
um problema que J. K. Rowling também enfrentou com os livros, porque às vezes
você quer ser fiel ao espírito instituído lá no começo, mas você não pode negar
que esses personagens estão CRESCENDO. Assim, os editores não ficaram muito
felizes com as partes do fim de Cálice de
Fogo, mas no fim eles discutiram, e Rowling venceu. Realmente, é uma coisa
forte, com frases como “Kill the spare!”
e “He was dead”, que evidenciam o
quanto estamos em outro momento da saga de Harry
Potter. Um momento maior, mais sério e mais perigoso… qualquer um pode se
machucar, e isso é muito forte. Uma mudança
sísmica.
O público de Harry
Potter, livro e filme, estava crescendo com os personagens, as audiências
estavam mudando. Mantendo-se os mesmos, mas diferentes. Harry Potter segue isso. David Yates deixou o mundo de Harry Potter mais político e mais
contemporâneo com Harry Potter e a Ordem
da Fênix. Ele tinha experiência com política na televisão, e o quinto Harry Potter tem tudo a ver com isso,
com Umbridge e o Ministério… também foi um dos filmes mais difíceis de
roteirizar, tão grande e complicado, mas eu acho que é uma das melhores
transposições das páginas para as telas, sinceramente. O roteirista, Michael
Goldenberg, resolveu seguir o lado emocional, e isso foi bastante inteligente,
culminando na épica batalha de Voldemort e Dumbledore. No lado mais técnico,
temos a Sala das Profecias, o primeiro set inteiramente digital da franquia.
Para Harry
Potter e o Enigma do Príncipe, o que é bem questionável, ganhamos um tom de
comédia, que divide opiniões… eu devo dizer que eu GOSTO de Enigma do Príncipe, mas ele também me
DECEPCIONA. É uma relação paradoxal. Eu acho que tem tudo a ver com a história,
e o negócio da adolescência, das ansiedades e frustrações da época, do romance
de Rony e Hermione que tem todos aqueles problemas… isso só não era o FOCO do
livro, o livro não era SÓ sobre isso. Se Cálice
de Fogo conseguiu mesclar o humor com o que há de mais sombrio na saga, Enigma do Príncipe se ateve a apenas uma
parte da história, e eu acho que essa é a sua principal falha. Mas ela marca
uma transição dupla para Harry… de menino a homem, como todos os demais, e de
aluno de Hogwarts a um guerreiro… agora ele sai de Hogwarts para LUTAR.
Os últimos 4 filmes têm mais continuidade que o
resto da saga.
“Não é mais uma série de batalhas… é a GUERRA!”
Harry
Potter e as Relíquias da Morte foi quando eles arriscaram em dividir a
história em dois filmes, e eu acho que foi uma decisão muito boa, que foi
desnecessariamente copiada por uma série de franquias DEPOIS de Harry Potter. No caso de Harry Potter, o livro era grande, e tudo
era tão importante e cheio de detalhes, que o risco de cortar partes podia
fazer com que o filme não fizesse sentido,
e não fosse uma conclusão digna como os livros e os filmes pediam. Então o
filme se divide em duas partes, e a primeira não está em Hogwarts. Isso muda o
tom do filme, porque é muito mais difícil vê-los como “estudantes” quando eles não
estão na escola, e isso dá ao filme um tom mais adulto e mais sério… também há
MUITA LOCAÇÃO, o filme sendo gravado em diversos lugares… e essa é realmente
uma mudança que Relíquias da Morte exigia.
Um exemplo do quanto o filme mudou, é esse momento
de Ron na lanchonete, se perguntando se deve ou não matar um Comensal da Morte,
e isso mostra o quanto tudo é mais adulto e mais obscuro. E a atuação de Rupert
Grint é de ARREPIAR! Hogwarts também ficou mais escura, com a silhueta mais
pontuda e ameaçadora, e é bom estarmos de volta ali para terminarmos a saga,
num local nostálgico e conhecido, mas é chocante ver o castelo ser destruído,
sets de ANOS sendo quebrados e queimados… isso
é evidente no filme em si! Harry Potter tem uma história magnífica! A história
não subestima as crianças, os assuntos tratados são sérios, e tudo é comovente
e significativo. Por isso mesmo é tão ATEMPORAL e será relido e reassistido
PARA SEMPRE. Imaginem o quanto Harry
Potter foi um crescimento para todos os envolvidos… assim como foi para
nós!
“Why do you live?”
“Because I have something worth
living for”
<3
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