Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince, 2009)
“Once again, I must ask too much of you, Harry”
Vai ser a primeira vez, nesse grupo de postagens
dos filmes de Harry Potter, que vocês
me verão, de fato, reclamar de potencial desperdiçado – acontece que Enigma do Príncipe, mais do que sobre o
Príncipe Mestiço, é sobre o passado e as memórias sobre Lord Voldemort, ainda
como Tom Riddle, muitas vezes, e nós gostaríamos de ter visto muito mais disso,
e o filme foca pouco nisso. O início do filme é ótimo, traz notícias de jornal
e flashes que são do fim de A Ordem da Fênix, como Dumbledore
levando Harry embora do Ministério. Um Harry distante, de olhar perdido,
realmente acabado, com novas cicatrizes no rosto. E enquanto os trouxas são
atacados com a ascensão de Voldemort, todo o clima do Mundo Bruxo e do filme,
consequentemente, são alterados. As cores ficam apagadas, temos muitas cenas
escuras – tudo tá muito pesado, carregado, evidenciando o espírito de todo mundo.
Todo mundo está preocupado porque Lord Voldemort
VOLTOU.
E agora é oficial.
Assim como a própria figura de Dumbledore, que ao
buscar Harry para recrutar Horácio Slughorn de volta a Hogwarts, parece mais
cansado do que nunca, e isso nos entristece. Harry Potter e o Enigma do Príncipe foi lançado em 2009, baseado no
livro homônimo de J. K. Rowling, de 2005, e traz o sexto ano de Harry Potter em
Hogwarts – é a última vez que veremos o trio principal frequentar aulas na Escola
de Magia e Bruxaria, porque as coisas mudam drasticamente ao fim de Enigma do Príncipe e Harry decide que
vai partir para terminar o que Dumbledore começou, e seus amigos dizem que vão
com ele… não haverá Hogwarts, como escola, em Relíquias da Morte, e é bem triste esse tom soturno de despedida,
dos próprios uniformes por exemplo. Parece que já é o momento de começar a se
despedir da franquia.
E isso dói.
Um dos focos do filme é a intensa explosão de
HORMÔNIOS. Tem clima adolescente para todo lado e para todo gosto. Hermione e
Ron estão visivelmente apaixonados, mas não dizem nada. Ele limpa pasta de
dentes de seu rosto, que depois faz parte do cheio que a poção do amor tem para
ela, e ela o ajuda a entrar no time da Grifinória confundindo Cormac com um feitiço,
mas depois de ele virar uma “celebridade” depois do jogo, Lilá Brown o beija e
ele passa meses beijando-a, para desgosto e mágoa completo de Hermione, que tem
uma cena fofa conversando com Harry, perguntando como é, para ele, ver Gina
beijando Dino. Antes disso temos Hermione meio alta, temos um comentário sensacional (“E se ela olhasse pra cá e visse nós dois nos beijando?”), e Ron
come doces com a Poção do Amor de Romilda e, depois, quase morre envenenado…
pelo menos serve para ele chamar por HERMIONE no hospital!
E que gosto ver a Lilá saindo destruída do evento!
As coisas em Hogwarts estão mudando. Snape não é,
pela primeira vez, o professor de Poções, e Harry entra para a turma de
Slughorn com um livro velho que pertenceu ao “Príncipe Mestiço”, que lhe dá
dicas EXTRAS das receitas do livro, tornando-o o melhor aluno da sala. E embora
Hermione esteja incomodada por não ser a melhor, como sempre, acho que ela e
Gina têm razão em ficarem incomodadas com o fato de o Harry estar “seguindo
ordens” de um livro novamente, depois de tudo o que aconteceu em A Câmara Secreta. Por outro lado, temos
tentativas de morte ao Dumbledore, com o colar amaldiçoado e o hidromel
envenenado, enquanto Draco está distante, desinteressado de tudo, visitando a
Sala Precisa e o Armário Sumidouro continuamente, clamando que “I was chosen. This is my moment!”,
enquanto Snape se oferece a ajudá-lo, por causa do Voto Perpétuo que fez com
Narcissa.
Harry e Draco até tem um duelo no banheiro e é TÃO
MAIS MADURO que em Câmara Secreta.
Quer dizer, Harry usa o “Sectumsempra” do livro e deixa Draco sangrando no
chão, antes de desfazer-se do livro do Príncipe Mestiço, de uma vez por todas.
Mas mais importante que isso tudo é a abundância de Dumbledore que temos nesse
filme, e eu acho que a maneira como ele fala, em Enigma do Príncipe, é uma das maneiras escolhidas para tornar o
filme tão triste, porque ele fala baixo, calmo, mas não é mais acalentador como
já fora. Dumbledore está visivelmente velho, morrendo, cansado. Ele parece
estar se arrastando, e ele sempre foi a expressão de força nesse lugar e nesses
filmes. É muito deprimente vê-lo dessa maneira agora. Mas há bastante
Dumbledore porque estamos de volta com a Penseira, dessa vez explorando a vida
de Tom Riddle.
Memórias de Tom Riddle era TUDO o que queríamos
ver no filme de Enigma do Príncipe, e
infelizmente eles se limitam a duas – duas muito boas, mas apenas duas. A
primeira delas é quando Dumbledore conhece Tom Riddle, uma criança (um tanto
macabra) que lhe diz: “I can make things
move without touching them. I can make animals do what I want
without training them. I can make bad things happen to people who are mean to
me. I can make them hurt, if I want… who are you?” É uma das melhores falas e das melhores
interpretações do FILME! E o “I can speak
to snakes, too. They find me… whisper things”, que finalmente parece um
pouco alarmante para Dumbledore… a segunda memória fala de um tipo raro de
magia, com Horácio Slughorn, Tom Riddle já é um adolescente em Hogwarts, mas a
memória foi visivelmente alterada.
Portanto Dumbledore quer que Harry consiga a
memória verdadeira.
Por isso o diretor trouxe Slughorn de volta a
Hogwarts e quis que Harry se aproximasse dele. Mas Harry é sutil como uma mula,
em mais de uma ocasião citando diretamente Tom Riddle, e então o professor o
afasta, porque não quer compartilhar a memória verdadeira. Isso o destruiria. A construção e a fase final do plano de Harry
são GENIAIS. Ele toma a “Felix Felicis”, uma poção de sorte líquida que
conseguiu como prêmio em uma aula graças à ajuda do Príncipe Mestiço. E isso
deixa Harry agitado, ágil, um tanto empolgado demais (e Daniel Radcliffe faz o
papel brilhantemente, em uma de minhas cenas FAVORITAS), e conduz Slughorn a um
clima de confiança e emoção que o leva a falar de Lily, afinal. De um aquário,
um peixinho e uma bela magia. A cena é emocionante, e Harry clama por sua mãe,
diz que Slughorn não pode deixar que ela tenha “morrido em vão”.
E com Harry ajudando a segurar a sua mão para
mantê-la firme, ele entrega a memória.
A memória verdadeira é angustiante de se ver. Tom
Riddle pergunta a Horácio Slughorn sobre HORCRUXES. E a ideia é assustadora,
mas faz todo o sentido, o que nos faz aplaudir J. K. Rowling mais uma vez. O
conceito de Horcrux é o de esconder parte de sua alma em um objeto, para que
caso você seja atacado e seu corpo destruído, você ainda vive, porque aquela
parte de alma guardada ainda vive. E para “dividir uma alma”, você precisa
matar alguém. É o que Tom Riddle fez, sugerindo que gostaria de criar 7
HORCRUXES, o que mutilou sua alma quase a ponto de não se reconhecê-la mais… e
é isso o que Dumbledore vem fazendo ao longo do ano, enquanto sai da escola: buscando Horcruxes. Harry destruiu a
primeira em A Câmara Secreta, o
Diário de Tom Riddle. Dumbledore destruiu o segundo, o Anel, que lhe custou a
mão agora preta.
Morta.
E, agora, chegou a hora de ir atrás de uma mais… a
cena da caverna, lembro-me, foi uma das coisas que mais gostei de ler na saga
toda de Harry Potter. Tudo é bem
escuro, muito macabro e assustador. Silencioso e repleto de suspense. O filme
faz isso muito bem. Nos coloca em um lugar fechado, sombrio, e força Harry a
fazer Dumbledore beber uma poção que o está enfraquecendo e deixando-o louco,
implorando que Harry o mate, dizendo que não quer mais beber… Dumbledore parece
um bebê indefeso, e ver aquele homem tão imponente e poderoso NESSA situação é
destruidor. E quando tudo parece ter chegado ao fim, e Dumbledore pede por
água, fracamente, os dois são atacados por Inferi quando Harry toca o lago, e
esse é um dos maiores sustos da franquia… sem contar que é um dos melhores
momentos de Dumbledore, fraco, mas capaz de conjurar todo aquele fogo para
salvar Harry Potter!
Infelizmente, tudo por uma Horcrux falsa.
O filme tem dois clímaces. Depois do primeiro, na
caverna, Draco Malfoy consegue trazer Comensais da Morte para dentro de
Hogwarts, e então desarma Dumbledore na Torre de Astronomia, para cumprir a
missão que lhe foi passada pelo Lorde das Trevas: MATAR O DIRETOR. As cenas são
tristes, em todos os sentidos. Draco não quer, realmente, fazer aquilo. E
Dumbledore não quer que ele faça, não para sobreviver, mas porque se importa
com a alma de Draco. E ele pede que Harry busque Snape, que é quem é obrigado,
tanto pelo Voto Perpétuo quanto pelo acordo que fizera com Dumbledore (tivemos
uma cena ÓTIMA em que uma dica importante é dada, porque Snape pergunta a
Dumbledore se ele não acha que está “lhe
exigindo demais”), a matar Dumbledore. Suas últimas palavras? “Severus… please”. E então ele cai, como
um boneco mole e derrotado.
Uma das mortes mais cruéis da franquia.
Porque eu acho completamente diferente da morte de
Sirius Black em A Ordem da Fênix, por
exemplo. Aquela foi no meio de uma batalha. Aqui, embora nós saibamos que
Dumbledore morreria de todo modo, e que ele queria que Snape fizesse isso,
pareceu covardia. Dumbledore estava fraco, desarmado, e parecia implorar ao
homem em quem confiava… que o matou. Não me surpreende e eu não julgo Harry por
perseguir Snape acusando-o de ser um covarde, e a cena é forte, embora Harry
não consiga lutar contra ele. Mas como Harry está indefeso, jogado ao chão
incapaz de lutar, isso só intensifica o desespero do momento e de seu
sentimento. ELE QUER FAZER ALGO. Por isso ele decide que ele precisa terminar o
trabalho de Dumbledore: encontrar as
Horcruxes finais. Por isso ele não voltará a Hogwarts. Nem Ron e Hermione,
que irão com ele…
…afinal de contas, eles são AMIGOS DE VERDADE!
Comentários
Postar um comentário