Harry Potter e a Ordem da Fênix (Harry Potter and the Order of the Phoenix, 2007)


“There’s a storm coming, Harry”
Harry Potter entra na última fase da franquia quando David Yates assume a direção para os próximos filmes todos, e eu acredito que Ordem da Fênix é um dos seus melhores trabalhos, se não o final – a adaptação de um livro de 702 páginas (na versão brasileira) não é nada fácil, mas eu acho que o quinto filme na franquia de Harry Potter foi capaz de captar a essência do livro e trazê-la ao filme, sem dar, necessariamente, a impressão de que estava tudo corrido e/ou cortado… e eu sempre achei que Harry Potter e o Cálice de Fogo era muito mais COMPLEXO. Esse filme não é tão sombrio quanto o anterior (do labirinto e do cemitério), mas a sua escuridão se apresenta de modo diferente, soturno, em cenas melancólicas e pesadas. Harry Potter está nervoso, sentindo-se BRAVO o tempo todo, e isso confere ao filme um estilo carregado.
Como já foi dito: parece que passamos um ano ao lado de Snape, não de Harry.
A introdução do filme é perfeita. Traz Little Whinging e um súbito ataque de dementadores depois que Duda estava provocando Harry porque ele chamava por Cedrico e pedia que não o matassem durante o seu sono – “Is he your boyfriend?” A ideia do “Duda dementado” foi algo que muito nos marcou e chamou a atenção na época do livro, e os dementadores, aqui, estão mais assustadores do que nunca… e isso ajuda a expressar todo o sentimento conflituoso de Harry Potter, cujo pescoço se mexe como o de Voldemort motivado por sonhos assustadores de memórias traumáticas ou não. O suor e a raiva de Harry o tornam muito mais atraente do que nunca (amo a cena em que ele soca um armário no quarto), e é apavorante ver Lord Voldemort em lugares “comuns” como King’s Cross Station, mas isso também afasta o Harry de todo mundo.
Harry Potter e a Ordem da Fênix foi lançado em 2007, e é baseado no livro homônimo de J. K. Rowling, de 2003, o mais longo da saga. Aqui, o clima pesa de uma vez por todas, quando Harry e Dumbledore falam sobre o retorno de Voldemort, mas o Ministério empreende uma verdadeira caçada na tentativa de desmenti-los, e parece que pouca gente no mundo bruxo acredita, ou quer acreditar, em Harry Potter. The boy who lies. Assim, Harry está no limite. Ele discute com Rony e Hermione no primeiro momento em que os vê, ele briga na escola a qualquer momento, ele diz coisas como “I SAID I’M FINE, RON!” que parecem muito dolorosas, porque o Ron só estava tentando ajudar… e isso tudo o faz dizer que ele se sente mais sozinho do que nunca, e é só com Luna que ele se abre e ela consegue fazê-lo melhorar um pouco… afinal de contas, se ela fosse o Lord das Trevas, ela ia querer que ele estivesse sozinho.
Garota esperta!
Eu gosto bastante de Harry Potter e a Ordem da Fênix porque parece o filme em que eles mais se LEMBRAM de que outros filmes vieram antes dele. É a primeira vez que vemos retornar personagens como o Lupin, o Sirius Black e o Olho-Tonto Moody. Temos flashes da morte de Cedrico Diggory e o retorno de Lord Voldemort. E quando Harry está estudando Oclumência com Severus Snape, naquelas pavorosas aulas, Snape constantemente invade a sua mente, tendo acesso a memórias como o Espelho de Ojesed, em Harry Potter e a Pedra Filosofal, e é um pouco chocante vermos aquela versão pequenina de Harry novamente, agora que ele está mais velho e mais bonito do que nunca. Nas aulas com Snape, inclusive, Harry tem acesso a uma memória de seu tempo de escola que mostra que o seu pai pode não ser tudo o que ele acredita que era.
O que também é angustiante.
A Ordem da Fênix é construída assim. Em cima de decepções e muita raiva. Assim como o Harry se sente irritado o tempo todo, todos nós nos sentimos, o filme nos guia a isso. Sentimos gana do começo ao fim. De como tentam expulsar Harry de Hogwarts por ter usado o Feitiço do Patrono na frente de um Trouxa, sendo que era em legítima defesa, ou como conhecemos Dolores Umbridge, possivelmente a personagem mais DETESTÁVEL de todos os Harry Potter. Esperamos MAIS por sua morte do que pela de Voldemort, essa é a verdade. Uma bruxa velha desprezível, nojenta e CRUEL. Ela representa a face do Ministério, agora que eles vão interferir em Hogwarts, porque Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, está com medo de que Dumbledore esteja treinando jovens para montar um exército contra ele em um golpe de estado.
Ah, faça-me o favor.


Por isso, temos as piores cenas possíveis com Umbridge, e a raiva que sentimos é pura e genuína. Dá raiva o tempo todo. Nunca ninguém interrompeu Dumbledore antes no discurso de início de ano. O “I MUST NOT TELL LIES” escrito por Harry com o próprio sangue é bárbaro e desumano. A maneira como expulsa Sibila Trelawney. Como consegue tirar o Dumbledore do caminho. Como desmantela organizações estudantis. É uma ação vil atrás da outra em inúmeros Decretos Educacionais absurdos que ditam uma nova era terrível em Hogwarts, e por isso é um alívio ver os Gêmeos Weasley atrapalhando os NOMs e dando uma lição na bruxa rosa de cara de sapo – embora nada, NADA (talvez na franquia toda), seja tão recompensador quanto ver os centauros levando Dolores Umbridge, que implora que Harry diga-lhes que ela não fez por mal.
“I’m sorry, professor. But I must not tell lies”
Wow.
Em paralelo à Ordem da Fênix, uma organização secreta que lutou contra Voldemort da última vez, e que agora ameaça retornar, surge também a Armada de Dumbledore, idealizada por Hermione Granger, que acredita que eles precisam de um professor de verdade de Defesa Contra as Artes das Trevas. Alguém que entenda sobre como é correr esses perigos e que possa ensiná-los… e como Umbridge não vai fazê-lo, Hermione faz com que Harry o faça. As cenas da AD treinando na Sala Precisa (“It’s like Hogwarts wants us to fight back”) são algumas das poucas cenas que são mais tranquilas e esperançosas do filme, especialmente quando Harry os ensina a conjurar um Patrono (o Patrono de Luna é uma graça!), mas tudo se esvai com a ajuda de Brigada Inquisitorial e de um chazinho com Veritaserum dado a Cho Chang.
Um dos motivos pelos quais o filme é bem-sucedido em deixar-nos com RAIVA o tempo todo é o afastamento de Dumbledore – o diretor sempre esteve muito presente, sempre foi um guia bacana para Harry, e agora ele está misteriosamente distante, por causa da estranha conexão de Harry e Voldemort. Cada vez que Dumbledore sai sem falar com Harry, SEM OLHAR PARA ELE, nós nos enervamos um pouco mais. E não era de se espantar que, quando Harry salvou a vida do Sr. Weasley, mas Dumbledore “conversou” com ele de costas, sem se virar para o garoto, Harry suado, respirando pesado após o “pesadelo”, mexesse o pescoço como o Voldemort, ao sentir sua raiva, e gritasse: “LOOK AT ME!” Essa é uma das minhas cenas favoritas da franquia toda, e ainda me recordo do choque que foi lê-la no livro sem entender de fato a dita conexão.
Que fica mais evidente depois.
A sequência final do filme leva Harry Potter, Hermione Granger, Ron e Gina Weasley, Neville Longbottom e Luna Lovegood a Londres, voando em testrálios, para invadir o Ministério da Magia e salvar a vida de Sirius Black, supostamente sendo torturado por Lord Voldemort na Sala das Profecias, tudo para que Harry pudesse estar lá e pegá-la para o Lorde das Trevas. Depois de uma batalha da Armada de Dumbledore, a Ordem da Fênix também aparece para lutar contra os Comensais da Morte, em uma luta angustiante que culmina em Belatriz Lestrange matando Sirius Black, que passa pelo véu… o grito doloroso e silencioso de Harry enquanto Lupin o segura para que ele não siga o padrinho e não morra também foi um dos momentos mais traumatizantes do filme. A dor era palpável. E o Harry perseguiu Belatriz pelo Ministério com a Crucio.
Ele não conseguiu, mas ele tentou.
É aí que Lord Voldemort entra na trama em A Ordem da Fênix, e QUE CENAS FINAIS! A batalha de Voldemort versus Dumbledore é genial e com efeitos brilhantes. Coisa de mestres. Mas nada é tão forte quanto a possessão. Quanto Voldemort usa o corpo de Harry para dizer a Dumbledore e a ele que eles são fracos e jamais poderão vencer. Aquilo me arrepia até hoje! “Harry, it isn’t how you are alike. It’s how you are not”, diz Dumbledore, lembrando talvez o que ele já disse antes, em A Câmara Secreta. Mas é só quando Harry vê seus amigos aparecendo que ele toma força o suficiente para revidar – cada sorriso, cada abraço, cada momento bonito de amor e amizade. Aquilo é tão FORTE que expulsa o Voldemort, e Harry diz que ELE sim é o fraco. Porque nunca vai conhecer amor de verdade, e por isso ele não tem chance alguma.
Que mensagem mais LINDA!
Assim, com essa mensagem incrível, terminamos A Ordem da Fênix. No fim, Lord Voldemort precisa ir embora, e nós precisamos gritar de raiva contra o Ministro que, com uma cara de tacho, comenta: “He’s back”. A raiva toda pela qual passamos num dos filmes mais carregados e, possivelmente, tristes de Harry Potter, é mais ou menos compensada pelo compêndio bonito de cenas de Harry ao lado de seus amigos e da renovação do valor dado ao amor e à amizade na franquia. Foi isso que salvou a vida de Harry quando ele era um bebê, e é isso o que “eles têm agora e Voldemort não tem”, aquilo pelo o que Harry diz que vale a pena lutar. Um pelo outro. Pelo sentimento que os une. E isso, e os adolescente entrando no trem, de volta para casa, torna esse um dos meus FINAIS favoritos em filmes de Harry Potter. Nunca falha em me comover.
Revendo agora, gostei mais de A Ordem da Fênix do que NA MINHA VIDA INTEIRA!

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