Vale o Piloto? – Black Mirror 1x01 – The National Anthem
Me pergunto, depois de assistir a esse primeiro
episódio de Black Mirror, do que o
ser humano é capaz? A proposta da série é trazer essas “inovações tecnológicas”
aliadas à natureza humana, para questionar o mundo em que vivemos e a maneira
como nos relacionamos uns com os outros e com as redes sociais, por exemplo. A
trama do episódio é DOENTIA e, infelizmente, ela não está distante da realidade
que conhecemos – por isso Black Mirror
é tão perturbadora, e por isso se classifica como uma “distopia”. Na trama de “The National Anthem”, Michael Callow
(interpretado por Rory Kinnear) é desafiado a fazer sexo com um porco ao vivo
na televisão, em troca da liberação da Duquesa de Beaumont, a Princesa
Susannah, que foi sequestrada na noite anterior… é um caso chocante, que me
deixou sem fôlego.
E com um nó na garganta.
A premissa de Black
Mirror se mantém, a série se apresenta com força e sem freios. Parece
totalmente chocante e sem sentido esse pedido que o sequestrador faz, obrigando
o primeiro-ministro a fazer sexo com um porco na TV, e ninguém sabe o que virá
dali em diante. Ele quer manter o caso escondido, mas a internet já espalhou o
vídeo de tal modo que é inevitável tentar pará-lo… as emissoras de TV mantêm-se
resguardadas a pedido do governo, e tentam não falar sobre o tema, mas a
internet espalha o caso e eles não podem mais ignorá-lo. É DISSO QUE O EPISÓDIO
SE TRATA. O “meio de comunicação” das redes sociais, como o Facebook e o
Twitter, tornou impossível esconder ou tratar com cautela um assunto tão
polêmico e doentio. A televisão se vê “obrigada” a comentar o caso, a falar da
opinião do público, e rapidamente eles não conseguem mais ter sutileza alguma.
Tudo é desconcertante.
O episódio critica a maneira como as pessoas
reagem. A maneira como se comenta até com certa despreocupação o caso nas redes
sociais. O Twitter fica lotado de opiniões de pessoas a favor de Michael Callow
e pessoas que acham que ele deve atender ao “pedido” do sequestrador… quando um
novo vídeo surge, mostrando o sequestrador supostamente arrancando o dedo da
Princesa, como um alerta contra essa tentativa de usar um ator pornô para fazer
a cena com o porco, o público se volta contra Michael, decide que ele precisa
atender às exigências… tudo é perturbador e repleto de tensão. O suspense
aumenta, você se vê envolvido e curioso para saber como eles podem resolver
isso, mas a tensão só se amplia conforme percebemos que não há escapatória. Fiquei abismado e quase à beira das lágrimas.
Foi TERRÍVEL assistir.
Black Mirror
é deveras perturbador.
Porque Michael Callow não tem outra alternativa
que não cumprir, e o estado de horror em que ele se encontra é aterrorizante. A
maneira como as ruas estão VAZIAS porque quase toda a população MUNDIAL está na
frente da televisão, assistindo ao primeiro-ministro da Inglaterra transar com
um porco. Um voyeurismo doentio! E absolutamente real. Porque há quem
esteja amando, há quem esteja achando repugnante, mas a maioria está se divertindo com isso. Uma hora de exibição se
passa, e as TVs continuam ligadas, as pessoas continuam assistindo, porque é
como a esposa de Michael comentou: as
pessoas adoram ver as outras sendo humilhadas, isso faz parte da nossa
sociedade. E infelizmente FAZ MESMO. É perturbador. Tudo nesse episódio
angustia, especialmente por reconhecermos a sociedade em que vivemos AGORA. O
fim do episodio nos traz a Princesa de volta, sedada, no meio da cidade, com os
dedos intactos.
O sequestrador, com um dedo cortado, enforcado no
esconderijo.
E a vida pessoal de Michael Callow destruída.
Sabe o que eu penso, também? Que me lembrou um
pouco Nerve e toda a discussão que eu
fiz na minha review sobre o filme. A
televisão anuncia, no fim do episódio, que “Não
há dúvida que com uma audiência global de 1,3 bilhões, foi um evento do qual
todos nós participamos”, e esse era o intuito. O sequestrador conseguiu o
que queria, tanto que liberou a princesa 30 minutos antes de Michael cumprir
com a exigência. As pessoas se esquivam, mas o fim do episódio chama a atenção
para isso, para não permitir que você se diga inocente: 1,3 bilhões de pessoas
assistiram, e foram todas cúmplices. TODAS CULPADAS. Afinal de contas, se
ninguém assistisse, se ninguém desse ibope no Twitter, o assunto jamais poderia
ser levado adiante. Precisamos começar a assumir responsabilidade pelo que
vemos e fazemos… somos parte dessa
sociedade doentia em que vivemos!
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