Coração Valente (Braveheart, 1995)


“FREEDOM!”
QUE FILME FORTE. “Coração Valente” é um filme de guerra medieval, que se passa nos fins do Século XIII, e trata sobre a luta da Escócia por liberdade contra a Inglaterra – eu sou bastante emocional, e esse tipo de filme mexe bastante comigo. Saí da sala de cinema (ah, eu amo a Cinemark por reexibir esses clássicos!) com um nó na garganta. Fazia muito tempo que não via o filme, não me lembrava do quão forte ele era. E eu não falo apenas das cenas de batalha sanguinárias e brutais (abundantes, por sinal), mas de toda a força que o seu roteiro contém. O filme conta a história de William Wallace, de forma romanceada e, possivelmente, um tanto quanto distante da realidade, mas acredito que a brutalidade seja real, e a maneira como algumas pessoas são desprezíveis. A luta e a mensagem são reais. O que Wallace gritava era “FREEDOM!”, e o seu grito de liberdade foi ouvido, eventualmente.
“Eu não quero ser um mártir. Eu quero viver”
Desde o começo do filme, percebemos a sua intensa emoção. Conhecemos Wallace ainda como um garotinho que perde os pais nas mãos dos ingleses, e então é levado para morar com o seu tio, que o tira de sua vila e o leva para conhecer o mundo e educá-lo. Antes disso, no entanto, ele recebe uma flor de Murron, uma garotinha que vê o sofrimento de Wallace olhando para o túmulo dos pais e se comove por ele. Anos mais tarde, ele retorna ao lugar, muito descontraído, como uma criança sapeca que só cresceu. Gosto da “leveza” dessa primeira parte do filme, tão distante do que veremos mais tarde. Porque Wallace reencontra amigos, joga pedras, e fala com Murron… o meu coração se desmanchou quando ele lhe entrega um pedaço de pano com a flor seca. A flor que ela lhe deu no dia da morte de seus pais.
Assim, eles começam a se relacionar, e o romance é belo. Parece quase abrupto, mas são tempos de intensidade, em que tudo se vive ao máximo – e o filme, já longo, precisa seguir adiante. Da diversão dos dois juntos e do casamento escondido, vemos o horror que se instala quando soldados ingleses tentam estuprar Murron, e Wallace a defende. Dali em diante, o filme se torna visceral. Sem conseguir escapar dos “nobres”, Murron acaba morta por “agredir a um soldado do rei”, e Wallace vem em seu cavalo, em câmera lenta, como se fosse se entregar, e lidera a primeira batalha. E QUE CENA INTENSA! Eu não esperava que as cenas fossem tão gráficas, mas o momento exigia veracidade, e é eletrizante ver a vila se juntar a Wallace em sua batalha contra os abusados soldados ingleses, por Murron e por TUDO o que eles já os fizeram passar.
Começamos a LUTA.
Talvez se eles nunca tivessem tentado estuprar Murron e a matado, Wallace jamais tivesse se juntado à luta daquela maneira. Talvez sim. Não sei. O fato é que, a partir daquilo, William Wallace dedicou a sua vida a lutar contra a Inglaterra, disseminando a ideia de LIBERDADE À ESCÓCIA, e juntando cada vez mais bravos guerreiros à sua batalha. Numa das cenas mais clássicas do cinema, quando Wallace está de cara pintada de branco e azul, ele faz um discurso emocional e motivante, que leva todos a uma batalha, ora debochada, ora sanguinária. O filme mescla, em grande parte do tempo, essas duas facetas que são as facetas do próprio Wallace. Aquela cena em que eles levantam seus kilts, para mostrar o pinto e a bunda, é um deboche descarado, mas o horror gráfico da morte dos cavalos e soldados, logo em seguida, quebra qualquer “humor” da cena.
Mas Wallace era um bom estrategista.
E um lutador sedento por sangue, que o filme lhe entrega.
As batalhas se seguem assim, e o filme faz um belo trabalho em nos envolver nisso tudo. Estamos o tempo todo angustiados, estamos torcendo por Wallace, especialmente depois daquela primeira grande vitória, e desprezamos os reis moribundos que fazem de tudo um inferno. Wallace consegue uma segunda vitória, invadindo a Inglaterra, e uma derrota alarmante por causa da inesperada traição de Robert Bruce, que tira tudo dos eixos. Talvez, dali em diante, o filme tenha ficado mais intenso do que nunca, porque ele parecia menos fantasioso. Era bom ver Wallace vencer, e era brutal e cheio de sangue, mas a veracidade dos eventos só nos atingiu, de fato, quando percebemos que ele podia ser vulnerável. Que ele não era uma figura invencível. E então tudo mudou para nós, devorei todas minhas unhas, e a angústia tomou conta de mim.
Não julgo Bruce, não totalmente. Ele não teve força para fazer o que queria, e tentou se redimir, mas acabou piorando a situação. Os seus próprios soldados, sob ordens do pai, prenderam e entregaram Wallace ao Rei Eduardo I, e então ele se tornou exatamente o que não queria se tornar. Wallace já tivera, no início do filme, uma faceta mais brincalhona e despreocupada, antes de assumir o manto de guerreiro vingativo, e agora o seu grito de liberdade era tudo o que seria lembrado. Ele já não poderia seguir a sua batalha, mas se tornaria um mártir. Não foi com essa intenção que ele morreu, mas ele se manteve firme durante todo o tempo, durante todo o seu angustiante final, tortura após tortura. Ele estava forte e irredutível, jamais se curvando perante o Rei Eduardo, e seu último grito foi, como era de se esperar, “FREEDOM!”
E então ele foi decapitado.
Doloroso. Profundamente DOLOROSO. Assistir à morte de Wallace foi muito mais angustiante do que qualquer sequência de batalha, luta e decapitação ao longo do filme, e sabemos que “Coração Valente” é bastante gráfico em sua guerra. Mas a brutalidade de ver Wallace decapitado é muito mais simbólico, e nos machuca. Felizmente ele deixou um herdeiro, e o Rei Eduardo morreu sabendo que seu sangue acabava por ali, e Robert Bruce assumiu a liderança que pertencera a Wallace, como ele desejava fazer. O Rei não conseguiu o resultado esperado com a morte de Wallace, não “o tornou um exemplo” para aqueles que pensavam em traição, mas sim um MÁRTIR. E muitos mais se juntaram à luta ao lado da Escócia, para conseguir a sua independência no início do Século XIV. Certamente Wallace deixou um legado.
Um filme perfeitamente emocionante.
E de nos deixar com um nó profundo.

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