Altered Carbon 1x04 – Force of Evil
“Let him
believe you are weak. Until the moment he discovers you are not”
WOW, que
episódio FORTE! Eu não digo que é o melhor
episódio até aqui porque eu estou amando e aproveitando as peculiaridades de
todos os episódios. Alguns, como o episódio passado, focaram na dicotômica
construção do universo, nos levando até uma festa no Aerium, e aqui nós tivemos
um episódio impactante e repleto de tortura aterrorizante.
Eu mesmo senti como se a dor infligida fosse real, imagine Takeshi Kovacs. Em meio
a cenas desesperadoras e fortes, nós também tivemos a celebração do Día de los Muertos, e Kristin Ortega faz
uma surpresa à família levando a abuelita no corpo de um homem que acaba
de ser detido. O episódio consegue explorar com maestria essas duas facetas de “Altered Carbon”, e ainda nos INSTIGA
com um final que nos mostra que há muito mais do que imaginamos a ser
entendido… a fixação de Kristin por
Kovacs está prestes a ser explicada, por exemplo.
E a série
está crescendo!
Depois de ser
capturado, Takeshi Kovacs é submetido a um “programa de interrogatório virtual”
na Clínica Wei, que é especializada em extrair
informações. Toda a tortura acontece dentro da mente, através do cartucho,
e ela parece milhões de vezes pior do
que a tortura física. Em primeiro lugar, porque não existe isso de “está
acontecendo dentro de sua mente” e “não é real”. O próprio Dumbledore diz isso
a Harry lá na estação de King’s Cross, não diz? Assim como também é a premissa
básica de “O Vingador do Futuro”,
baseado em um excelente conto de Philip K. Dick, meu autor favorito de ficção
científica: basicamente, o cérebro não consegue diferenciar o que é “real” do
que não é quando se recria precisamente as condições. Se dentro do cérebro é
real, então é real. Desse modo, a dor
é, sim, real, e ela é fortíssima, porque pode ser levada a qualquer extremo,
até a morte da pessoa, e então recomeçada.
De novo e de novo e de novo.
Felizmente,
Takeshi tem o treinamento como EMISSÁRIO para tentar suportar essa tortura e esse interrogatório. Duas coisas
devem acontecer durante a tortura: a
pessoa sucumbe, ou ela enlouquece. Chamado de Ryker durante todo o
processo, e sofrendo coisas agonizantes que vão de uma unha brutalmente
arrancada a ser queimado vivo (!), Takeshi é questionado sobre pra quem ele trabalha, e ele diz que não
é Ryker, usando o alias de Ava
Elliot. As cenas são brilhantes, embora traumatizantes. Takeshi morre pela
primeira vez com um tiro na testa, e as cenas são entremeadas por inteligentes flashbacks que têm uma relação perfeita
com a história narrada, quando Takeshi e os demais Emissários entraram em uma
realidade virtual de tortura para treinar
e aprender a escapar da simulação. Ele quase sucumbe no momento da gasolina
e do fogo, mas mantém-se firme, no que chamam de “alta tolerância a dor”.
Mas é muito mais do que isso.
Enquanto essas
cenas doentias se prolongam, também acompanhamos o feriado de Día de los
Muertos, que eu acho um feriado mexicano esplêndido,
e o universo de “Altered Carbon”
exige que ele seja um pouco diferente.
A série, novamente, se preocupa com os detalhes e cria um feriado condizente com
a maneira como ele é hoje e como ele devia
ser, em um universo como esse, de reencapamento e neo-catolicismo. Kristin Ortega
leva a avó morta reencapada para casa (“It’s
abuelita. Feliz Día de los Muertos”), e nós sabemos que isso só pode dar problema, mas as
complexidades observadas são bem interessantes. A mãe de Kristin fica em
choque, horrorizada (“Que Díos te
perdone, mi hija”), mas segundo Kristin isso é normal… em datas especiais,
principalmente essa, as pessoas alugam capas para ressuscitar seus entes
queridos e se divertir com a família reunida. Como eles estão fazendo.
De todo modo,
o clima à mesa é PESADO. A mãe está inconformada, e as discussões causadas
pelas diferenças ideológicas escalam e elevam a qualidade do episódio a outro
nível, porque são verdadeiramente inteligentes… quanto diálogo bem construído! Temos o conservadorismo religioso versus as novas crenças de Kristin, e
ela mantém-se firme em sua defesa e justificativa, e as cenas são repletas de
profundidade. Particularmente, eu achei interessante essa ideia de que “nossa fé evolui junto conosco”, e é
algo no qual eu já parei para pensar, e daria um longo texto de reflexão, mas não vou me dispor a isso nesse
momento. Em outra cena muito bonita, a abuelita conversa com Kristin, depois de
se divertir muito nesse corpo e experimentar drogas (ela era uma fofa!), e pede
que ela não a ressuscite mais. Diz à
neta que ela tem que entender que “a morte também é parte da vida”. Foi emocionante.
E triste.
Mas voltemos
a Takeshi Kovacs. Uma coisa importante dita no treinamento é que “You’re not trapped. You’re waiting”, e
aquilo até me arrepiou! Ele é submetido a um novo programa, e eu pude sentir
toda a angústia e o desespero do momento com aqueles bichos sendo colocados
dentro dele. Ali ele finge que caiu, finge que se entregou, porque é isso o que
ele tem que fazer… fazer seu captor
pensar que você é fraco, até que descubra que não é. Primeiro, ele deve
tomar controle do constructo, como fez em seu treinamento, e então
concentrar-se naquilo que mais ama para que possa abrir um buraco no virtual e
passar para o mundo real… é isso o que
ele faz. Uma vez feito isso, ele ainda tem trabalho. Afinal de contas,
fugir do constructo é apenas o início. Uma
vez no mundo real, ele só terá uma chance. Tak se solta, vê a mulher que
ama, arranca (literalmente) o próprio coração e entrega para ela.
Então seu coração para.
Ele passa para a “próxima tela”.
Quando no mundo
real, Kovacs precisa agir depressa e vou dizer: QUE CENA MARAVILHOSA! Ele consegue
entrar na mente dos caras, consegue convencê-los a soltar, e então não há tempo
nenhum para que eles pensem. Kovacs sai
distribuindo tiros e mortes merecidas, e a cena ficou impactante e perfeita. Quase sinto um alívio quando Tak consegue matar todas aquelas pessoas… era o que ele precisava fazer. Além disso,
ele deixa um “recadinho” para Kristin Ortega na forma de um corpo decapitado,
um dedo do meio levantado e o rastreador na mão. Bem gráfico, não era necessário nada escrito. Furiosa, Kristin
Ortega vai até o hotel atrás de Kovacs, e então entendemos o porquê dessa “fixação”
toda: ela não estava atrás de Kovacs, mas
desse tal de Ryker, seja ele quem for, o homem que habitava essa capa antes de
Tak. Era ele quem ela sempre rastreou, é com ele que ela se preocupa.
E eu estou LOUCO
para saber o que isso significa! \o/
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