Chico Bento Moço, Edição #21 – O último dia da Rosinha
“A senhorita Rosa Maria da Silva
Rodrigues faleceu!”
Uma edição forte, corajosa e, quiçá, controversa.
Ela mescla algumas das coisas que eu mais gosto na revista com um tema que
realmente me encanta: o time loop.
Chico fica preso em um ciclo de reviver o mesmo dia, e esse dia traumático é,
justamente, O DIA DA MORTE DA ROSINHA. É bastante intenso e, na primeira vez
que a garota morre, no Mirante do Poente, eu
fiquei sem fôlego. Depois as mortes se repetem, como se o Universo não
quisesse que Rosinha sobrevivesse, e me fez pensar em filmes de viagem no tempo em que, não importa o
que se faça para salvar uma pessoa, se aquele for o momento dela, ela vai
morrer de inúmeras maneiras diferentes.
É o que acontece para Rosinha, e o Chico sofre sempre e sempre, e é de partir o
coração. Até que ele tem uma ideia, e novamente ANOS SE PASSAM enquanto o Chico
fica preso nesse ciclo.
O Chico está se tornando uma alma velha em um
corpo jovem!
Tudo começa com o Zé Lelé acordando o Chico pra
pescar e os pais dele o chamando pra tomar café-da-manhã, e o Chico, dormindo
só de shorts é uma delícia, vamos
dizer! Que corpo é aquele?! Então,
depois de uma longa pescaria de sábado com o amigo, Chico se dá conta de que
tinha combinado de encontrar a Rosinha no Mirante do Longo Poente, onde, dizem,
“o pôr-do-sol dura mais” e namorados apaixonados gostam de se encontrar. Ao
chegar lá, muito atrasado, eles brigam. Rosinha o chama por seu nome completo,
e está furiosa, e isso faz com que o momento seja ainda mais pesado. Porque não basta que Rosinha vá MORRER naquele
lugar, mas os seus últimos momentos com o
Chico são em uma dolorosa briga. Rosinha cai do Mirante em um penhasco, e
embora o Chico a procure, ele não consegue encontrá-la.
Então o bombeiro vem com a notícia:
“Esta é a pior parte do meu trabalho. Sinto muito por
trazer esta notícia, mas eu achei a Rosinha. Bem longe daqui. Rio abaixo. Ela
não sobreviveu. A senhorita Rosa Maria da Silva Rodrigues faleceu!”
Em uma página inteira de fundo preto. Eu achei doloroso.
Quando o Chico acorda “no dia seguinte”, como
acordo no “sábado”, e ainda não sabe como tudo está se repetindo, ele está no limite. O seu sofrimento expresso em
lágrimas que correm do seu rosto, a briga com o Zé Lelé, que ele considera
insensível por agir naturalmente, como se nada tivesse acontecido com a
Rosinha, e ele sai sozinho, para caminhar com sua dor, pensando no funeral
daquele dia, e como ele não sabe com que cara olhará para os amigos e explicará
o que aconteceu. E quando ele chega novamente ao Mirante, ELE ENCONTRA A
ROSINHA. E tudo é muito parecido com o dia anterior, até a queda da Rosinha: “De novo, não! DE NOVO, NÃO!” Chico está
inconformado em casa, e ele sabe a notícia que o Seu Edimário vai trazer quando
aparecer: a notícia da morte da Rosinha, como ele fez no “dia anterior”, ou em
seu sonho.
A terceira morte da Rosinha foi CRUEL. O Chico, ao
acordar e perceber que está, novamente, no mesmo dia de antes, ainda é SÁBADO,
corre até o Mirante para esperar a Rosinha, e não a deixa subir nele… mas ela morre de todo modo, e é cruel ao
nível “Premonição”. No quarto dia, quando o Chico já está ENFURECIDO, ele
sai cedo, queima o Mirante, e diz que, dessa vez, ele não vai permitir que ele
leve a Rosinha… mas o Seu Edimário o encontra com a notícia de que a Rosinha
foi picada por uma cobra no caminho para lá, e faleceu. É trágico e doloroso.
E, assim, inúmeras mortes da Rosinha se seguem, das mais improváveis às mais
comuns, e o Chico está sempre presente, sempre por perto, sempre recebendo a
dolorosa notícia da morte da mulher que ama… foi realmente bastante cruel com ele!
Quanto
sofrimento!
“Estou ficando louco! Não sei quantas vezes o dia se
repetiu. Dez? vinte? Cem? E não importa o que eu tente, não importa o que eu
faça… a Rosinha sempre acaba morta! Mesmo quando consigo evitar que ela chegue
perto do Mirante, algum acidente acontece onde ela está! Parece até que o
próprio universo não deixa ser diferente. E eu sou o único que percebe o lapso
de tempo. Ninguém mais se lembra das repetições! Deve ter algum jeito de fazer
o tempo voltar a correr. Algum jeito de salvar a Rosinha! Mas como?”
Então o Chico foca em SALVAR A ROSINHA e ESCAPAR
DO CICLO. E, para isso, “ele tem todo o tempo do mundo” e começa a estudar. 18
dias repetidos depois, ele leu tudo o que tinha para ler sobre o Mirante do
Longo Poente, que o chamava de um “Fenômeno Temporal Cósmico”, e saber por onde
começar. Era hora de estudar física. 240 dias repetidos depois, ele tinha
estudado tudo o que tinha na escola da Diretora Marocas. 206 dias repetidos
depois, muito estudo na internet. É bonito ver o empenho do Chico, ele sempre é
muito dedicado e muito apaixonado, mas esse processo exige uma força e tanto!
Porque cada vez que ele se esquece e atende o celular, ele ouve a notícia de
alguma morte trágica da Rosinha que ele não estava lá para evitar… e que não teria conseguido evitar, ainda que
estivesse, na verdade. O Chico sofreu MUITO.
Mas começou a chegar a respostas…
“Posso deduzir que o mirante é foco de uma anomalia
temporal. Um fenômeno quântico. Um efeito ligado à Teoria dos Universos
Paralelos! Estive este tempo todo presumindo que um único dia está se
repetindo! Não é o caso! Na verdade, é o mesmo dia em mundos diferentes! Aquele local é um ponto de encontro entre realidades infinitas. Infinitos mundos!
Onde os eventos acontecem de todas as formas possíveis!”
A trama é muito boa, digna de um bom filme de
ficção científica, eu só queria que a edição fosse mais longa, embora tenha
sido tão dolorosa que eu acabei com um nó na garganta. Em 48 dias repetidos,
ele leu os trabalhos de Shotaro Ishinomori sobre isso, um cientista japonês. Em
382 dias repetidos, ele aprendeu japonês para falar com ele. E a teoria de que
“o tempo é moldado pela mente e pelas memórias humanas” é muito bacana! Faz sentido. Por isso o Mirante é tão poderoso. Construído em um ponto de
encontro entre infinitos universos e intensificado pelas memórias dos namorados
ao longo dos anos, como quebrar o ciclo? “A
única maneira que posso imaginar seria criando emoção e memória ainda mais
potentes! Um evento tão chocante que consiga abalar o espaço-tempo!” Assim,
é hora do Chico agir.
O final da edição foi igualmente dolorosa, mas muito bonita. O Chico já tinha
cansado de ver a Rosinha morrer na sua frente inúmeras vezes. Passou anos
estudando uma maneira de quebrar o ciclo e salvar a sua vida, e o que ele
precisava fazer, agora, era surpreender o
espaço-tempo. Assim, ele está lá com a Rosinha no mirante, naquele fatídico
“sábado” pela milionésima vez, e ele é carinhoso e romântico, E A PEDE EM
CASAMENTO. É fofo, e ela fica toda boba, dizendo
que “é o dia mais feliz de sua vida”. Então entendemos o plano do Chico:
ele diz que precisa de mais do que isso, de toda a ALEGRIA e de toda a TRISTEZA
da Rosinha, e pula ele mesmo no barranco… quando ele acorda, no dia seguinte,
com o braço quebrado, é DOMINGO. Rosinha está viva… infelizmente, ele não se lembra de tudo, mas acho que é o melhor para
ele.
Era
sofrimento demais para uma pessoa só.
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