The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story 2x03 – A Random Killing
“It was a
robbery. And a random killing”
Para mim, um
dos melhores episódios de “American Crime Story” até aqui. Para
quem não gostou ou não entendeu a proposta do episódio, estamos construindo a
personalidade de Andrew Cunanan e os acontecimentos que culminaram no
assassinato de Gianni Versace, como o título da temporada promete. Não, não foi
um “episódio desnecessário” como há gente dizendo, foi um episódio essencial
para juntarmos peças e chegarmos até Cunanan versus Versace. Acompanhamos o terceiro e o quarto assassinato de
Andrew, com Versace sendo o próximo! E, novamente, Darren Criss arrasa
interpretando o assassino em série. O que mais me fascinou (e angustiou) no episódio foi notar o quanto há muitas
mais vidas interligadas, e o quanto a
ideia de “assassinato aleatório”, que Marilyn Miglin alega em defesa do marido,
se tornou irônica na forma como “American
Crime Story” contou a história.
Vide a morte
de William Reese!
O episódio
começa nos apresentando a “Rainha do Perfume”, Marilyn Miglin chegando em casa,
chamando por seu marido Lee, e percebendo imediatamente que há algo errado. O corpo, que demora a
ser encontrado, aparece na garagem, e a dureza com que Marilyn engole seus
sentimentos e suas lágrimas é forte e de uma atuação extremamente competente
por Judith Light. Uma semana antes, conhecemos o casal em um evento
beneficente, no qual ela faz um belo discurso a respeito de Lee Miglin, sobre
como ele é um ótimo pai e marido, de como é o próprio “American Dream”, e eles
parecem, na frente das pessoas, tão
absolutamente unidos, ainda que em casa eles sejam um pouco mais afastados.
No entanto, a relação é estável, e eles se amam, de uma maneira peculiar – vide
que fofa a cena em que ele se deita para dormir ao seu lado, coloca sua mão
sobre a dela, e ela a segura!
A ligação com
“The Assassination of Gianni Versace”
aparece quando Lee atende um telefonema e, do outro lado da linha, Andrew lhe
diz que “estará em Chicago por alguns dias”. As cenas são perturbadoras, também
graças à atuação precisa de Darren Criss. Dá para sentir os primeiros calafrios
naquele gélido abraço sem emoção: Lee tão aparentemente inocente, e Andrew tão
distante. E, como sempre, a direção de
“American Crime Story” é impecável, essa tomada do espelho foi genial.
Então percebemos que Andrew não demorará muito para matar Lee, a arma já está
apontada para ele, com uma expressão enojada, desde o primeiro momento, quando
Lee começa lhe mostrar o projeto para o “Skyneedle”, o prédio mais alto do
mundo que ele planeja construir. “I understand what you’re doing,
you’re trying to impress me”. Mas Andrew nem sempre mata rapidamente.
Foi assim que
ele matou William Reese, foi assim que ele matou Gianni Versace, mas ele adora brincar e provocar suas vítimas. Quando ele beija Lee Miglin, por exemplo, e
ele responde com olhos fechados, meio tremendo, respiração exasperada… nunca foi beijado daquele jeito antes, e
Andrew gosta disso. Então Andrew o leva para a garagem, onde começa o seu
jogo mais sádico. Ele chama Lee de submisso e patético (“But you like being pathetic, don’t you?”), e a cena escala em desespero até ser terrível de continuar
assistindo. A luva na boca, a fita no
rosto, os pés e mãos amarrados. Andrew o provoca subindo sobre seu corpo,
socando-lhe o rosto até sangrar, e conta que “já matou duas pessoas, duas pessoas de que era bem próximo”, e
então Lee deve saber que não há mais
esperança para ele. Perverso, Cunanan ainda o provoca falando sobre como
seu corpo será encontrado:
“Now, I
know that you're not wearing your hearing aid, so I'm going to speak very
loudly and very clearly so you can understand. I want you to know that when
they find your body, you will be wearing ladies' panties... surrounded by gay
porn. I want the world to see... that the great Lee Miglin is a sissy”
A morte de
Lee Miglin é traumatizante, e a cena ainda é amenizada para não ficar tão “American Horror Story”. Andrew o
mata com um saco de concreto e depois o esfaqueia; quando a polícia o encontra
ele está com todas as costelas quebradas. Andrew, por sua vez, é indiferente,
perturbado – ele age como se nada tivesse acontecido, todo ensanguentado, mas
“fazendo um lanchinho”, rasgando e queimando o projeto de Lee e, segundo a
polícia, o assassino tomou banho e fez a
barba, parece ter passado a noite ali. A polícia não vaza os detalhes de
como o corpo de Lee foi encontrado, e Marilyn diz que ele estava sozinho e
vulnerável, e que esse foi um ataque oportunista. Quando o policial conta das
revistas gays ao redor de seu corpo, Marilyn se recusa a aceitá-las, diz que
elas devem ter pertencido ao assassino.
Marilyn
Miglin é durona, o que não quer dizer que ela não sofra. Quiçá, ela sofra mais ainda. Guardar a dor é mais doloroso do que
expressá-la, e a maneira como ela segura tudo o que está sentindo nos faz ver,
em seu rosto, que a situação é muito grave. Ela até tem uma fala fortíssima no
momento em que finalmente se abre:
“I know
what they're saying. About me. ‘Why hasn't she cried? Where's the grief? The
emotion? She couldn't have loved him. How could a woman who cares so much about
appearance appear not to care?’ […] When you're weak. When you're down. How
dare they say our marriage was a sham? Lee and I... shared our whole lives.
We... shared all kinds of adventures. We rode in hot air balloons. When I was
lost in the desert... he rescued me. How many couples can say they have that
k-kind of romance? I… loved
him. I loved him very much”
Ali ela
desaba, ali ela chora. Enquanto fala, percebemos sua mão tremer, sua voz
embargada, e as lágrimas vêm afinal, e ela se pergunta se “assim está melhor”,
se “agora ela é uma esposa de verdade” perante os demais. Uma cena forte e
brilhantemente interpretada. Com o assassinato de Lee Miglin, Andrew Cunanan
entra para a lista dos 10 MAIS PROCURADOS pelo FBI, graças ao carro vermelho
ligado ao assassinato de Jeff Trail (que será interpretado por Finn Wittrock),
encontrado próximo à casa de Miglin. Uma coisa peculiar em que fiquei pensando
é que a imprensa é quem estragou tudo.
A polícia estava conseguindo rastrear o carro de Lee, que Andrew roubara, e
talvez o pegassem, se a imprensa não tivesse vazado a história… foi só graças à irresponsabilidade da
imprensa que ele largou o carro, matou Reese e, depois, pôde matar Versace.
Mas não
faremos conjecturas.
O final do
episódio, para mim, é o mais brilhante e sarcástico possível. Marilyn Miglin
decide divulgar a morte do marido como “uma morte aleatória”, dizendo que ele
foi morto “por causa de um carro”, e isso é perfeitamente irônico, porque é
justamente o que acontece com William Reese. Não acho que ele estivesse no
perfil das vítimas de Cunanan, ou que ele um dia teria chegado nele para
matá-lo, a não ser pelo motivo de precisar urgentemente abandonar o Lexus de
Lee e conseguir um carro novo. Uma picape
vermelha. William Reese sim foi uma “morte aleatória”, morto por causa de
um carro, e Cunanan o assassina rapidamente, com uma frieza perturbadora. Já
vimos três assassinatos de Cunanan, ainda devemos ver os dois primeiros, além
de um pouco mais da morte do Versace, acredito. Essa série vai entrar para a história!
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