The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story 2x04 – House by the Lake


“You can’t do it, can you? Stop”
NOSSA, QUE EPISÓDIO MAIS TRISTE! É impressionante como nos afeiçoamos a David Madson em poucos minutos de episódio, e para mim essa morte foi de partir o coração. Sabia que isso ia acontecer, mas o episódio todo nós queríamos que alguma coisa acontecesse e David pudesse sobreviver a Andrew Cunanan. A série continua fazendo um belíssimo trabalho e é extremamente cuidadosa com os detalhes quando constrói toda a história e personalidades que culminaram na morte de Gianni Versace. Há quem reclame, mas não acho que as pessoas entenderam a proposta dessa temporada de “American Crime Story”: o assassinato de Gianni Versace é apenas a ponta do iceberg, e é essencial, para que a história faça sentido, que conheçamos a fundo a psique distorcida de Cunanan, bem como as vítimas que vieram antes do famoso estilista.
Por que as pessoas só se importam quando alguém famoso é morto?
EU ME IMPORTO com a morte de David Madson!
Assim, acho que “American Crime Story” está fazendo um trabalho INCRÍVEL construindo toda a trajetória e explicitando o quanto as demais mortes causadas por Andrew Cunanan também são traumatizantes e terríveis. No episódio passado, acompanhamos a morte de Lee Miglin e, talvez mais importante, de William Reese, porque foi tão vazia e aleatória que mostrava bem quem era Andrew Cunanan. Agora, voltamos aos dois primeiros assassinatos cometidos pelo personagem, e são duas pessoas muito próximas dele. Os motivos começam a ficar mais claros, e Cunanan se torna muito mais descontrolado conforme o entendemos de forma mais completa. A sua obsessão é assustadora, e a maneira como ele age com frieza e naturalidade frente às mais terríveis situações, como a brutal morte de Jeffrey Trail, sua primeira vítima.
O episódio ainda não é sobre Jeff, no entanto, que tem uma participação curta. É sobre David Madson, a segunda vítima do serial killer. Estamos em 27 de Abril de 1997, uma semana antes do assassinato de Lee Miglin, e parece que “coisas” foram ditas no fim de semana entre Andrew Cunanan e David Madson, coisas das quais eles se arrependem (ou não). Todo o clima inicial, que traz aquele telefonema de David, o banho dele e Andrew acorrentando o cachorro, é de tensão. É EVIDENTE como algo está para acontecer. E acontece quando Jeffrey Trail chega, e Andrew pede que David vá buscá-lo, dando a eles uma “oportunidade para falar sobre ele”, o que eles realmente fazem. “He asked me to marry him. Said I was the man of his dreams. His last chance of happiness”. Aparentemente, Jeff e David estavam juntos, e Andrew Cunanan não estava feliz com isso.
Entre outras coisas que o próximo episódio explica melhor.
Não há humanidade nenhuma na morte de Jeffrey Trail, e a cena quase é digna de “American Horror Story”, quando Andrew Cunanan o mata brutalmente com 27 marteladas. A maneira como o sangue toma conta da casa, como os sons são traumatizantes, e a expressão de David Madson, assistindo àquilo tudo. É TERRÍVEL. Darren Criss segue arrasando na atuação, mas ele ganha um companheiro de peso com Cody Fern, que interpreta David Madson, porque o choque é evidente e compreensivo. A cena do banho, por exemplo, é a representação clara do horror e de como ele não sabia como agir. Mas a maneira como ele estava estático, encolhido, como se retraía ao toque de Cunanan, com medo. O olhar parado, a expressão aterrorizada, a maneira como ele tremia. Aquilo tudo foi de ARREPIAR. “Are you g… are you gonna kill me?”
David não era um cúmplice, nunca foi. Ele estava decidido a ligar para a polícia, mas Andrew sabe entrar na sua cabeça da forma perfeita para impedi-lo. Primeiro ele “se pergunta” sobre o que aconteceria. Afinal de contas, o apartamento era de David, e ele que deixara Jeff entrar, quem abrira a porta… mesmo assim, David faz a ligação, e enquanto a mulher do 911 espera a sua denúncia, Andrew fala, segurando a arma de Jeff na mão, que “não pode permitir isso”. Lentamente, então, David abaixo o telefone e o desliga, e é um TORMENTO terrível. David está preso, e essa tortura prolongada me deixa com a desconfortável sensação de que Jeff sofreu muito menos que David ao ser morto de uma vez. David estava encurralado com uma sensação de que não podia fazer nada. Não podia chamar a polícia, não podia falar com o pai, não podia sair.
Ele só sai para “levar o cachorro para passear”. Ele queria usar isso para escapar, mas não pôde. Teve que assistir a Andrew enrolar o corpo de Jeff em um tapete e “limpar” o chão com papel toalha, e então ouviu perguntas como “You don't want me to come? Do you want to walk him without me?”, que expressam o DESCONTROLE de Andrew. Ele está totalmente obcecado e agindo de forma possessiva (“I promise you... no one else will get hurt, as long as you're by my side”), e ele age como se realmente gostasse de David, e só tivesse feito o que fez para que eles pudessem ficar juntos ou qualquer coisa doentia assim… é totalmente perturbador. Eventualmente, eles precisam fugir, porque têm pessoas tentando entrar no apartamento, e então, enquanto eles caem na estrada, as evidências do assassinato são encontradas.
Outra sequência DESESPERADORA. O cenário quando a porta se abre é terrível. Há sangue por todo lado, o martelo sujo está na pia do banheiro, há revistas gays espalhadas pela cama de David, e um corpo enrolado num tapete no canto da sala. A mulher que trabalha com David, e que foi o motivo de terem ido até ali, faz tudo inocentemente… ela está preocupada. Também é ela quem fala de Andrew Cunanan, mas quando ela cita que o cabelo dele é preto, o detetive pergunta a cor do cabelo de David, loiro, e então as coisas mudam de figura na investigação: eles presumem que Andrew Cunanan é a vítima, e que David o matou, e isso me incomoda profundamente. O David é tão fofo, tão querido, tão amável… ele não seria capaz de fazer nada disso. Vide a sua cena em flashback com o pai, de quando ainda era criança, e ele não quis caçar.
Ainda há muito a acontecer nesse caso, e eu sinto que não vamos explorar isso com profundidade. Passada a morte de David Madson, nós já vimos, na semana passada, a morte de Lee Miglin e William Reese, até a morte de Gianni Versace, sua última vítima. Mesmo assim, David Madson não vai ser suspeito da morte de Jeffrey Trail por muito tempo, não com as novas evidências que Cunanan produz ao fim do episódio. Primeiro, os legistas encontram os documentos da vítima enrolada no tapete (“The victim is not David, and it's not Andrew. It's someone named Jeffrey Trail”), e depois os planos de Andrew Cunanan não saem como o planejado. Ele pensa em ir para Chicago, encontrar Lee Miglin, pedir algum dinheiro para que ele e David possam escapar para o México, começar uma nova vida… mas David sabe que isso não pode acontecer.
Todas as cenas são carregadas emocionalmente, e eu fui particularmente tocado por esse episódio. Aquela cena de David Madson no carro, por exemplo, pensando e falando sobre tudo o que a polícia descobriria sobre ele, se perguntando como seus pais seguiriam morando na cidadezinha, quem compraria na loja de seu pai… e a voz estável, calma, mas as lágrimas escorrendo do rosto. Doeu escutá-lo. Assim como doeu aquele flashback em que ele conta ao pai que é gay, e o pai responde com um “You mind if I take a moment? I don't want to say the wrong thing” impactante e sincero. A fala do pai foi LINDÍSSIMA, bem pensada e totalmente real. Ele não foi estúpido, tampouco ele disse que “tudo bem”, e a expressão do sentimento foi real, mas ele ama o filho, mais do que ama a própria vida, e ele diz isso com todas as letras. ME EMOCIONOU. As lágrimas de David escorrendo. E quando o pai pergunta se ele esperou ganhar aquele prêmio para contar-lhe isso, deixando implícito que ele não devia se preocupar com isso.
Foi tão belo.
Já estava apaixonado por David Madson, e sofrendo por ele.
Ele teve a chance de escapar, mas não o fez. Em muitas ocasiões ele não pôde. Ele tentou ligar para a polícia e Andrew não permitiu, ele tentou sair sozinho com o cachorro e não pôde. A sua chance, no episódio, foi de fugir pela janela do banheiro de um bar, mas ele não teve coragem. Então, quando ele volta, ele confronta Andrew, e aquilo talvez tenha sido o seu erro, ou talvez ele só estivesse cansado disso tudo, talvez ele não tivesse mais perspectiva alguma de um futuro, a não ser fugir para o México com Andrew, e isso não era bem uma “perspectiva”. De todo modo, ele queria respostas. Ele queria saber se o tempo todo Andrew pensou em matar Jeffrey, se o tempo todo ele planejou que David assistisse, quer saber por que ele fez isso tudo. E quando eles conversam sobre “o dia em que se conheceram”, David diz umas verdades arriscadas…

“Except it was all a lie. You've never worked for anything. It was an act. Is that why you killed Jeff? You loved him. It was so obvious. But he figured you out in the end, didn't he? Took him a few years, but he finally saw the real you. And you killed him for it. […] You can’t do it, can you? […] Stop”

Mas que precisavam ser ditas.
A finalização do episódio foi TRISTÍSSIMA, mas aguardada. Não podia ser diferente. Depois de tudo, o próprio Andrew percebeu que eles não tinham um futuro junto. Ele surtou, dizendo que eles tinham um plano, que eles tinham um futuro e que David estragou tudo, e essa foi a morte mais TRISTE das cinco cometidas por Andrew Cunanan, pelo menos na maneira como “American Crime Story” as retratou. Não sofri tanto com a morte de Jeffrey, nem de Miglin, nem do Reese, tampouco com a do Versace… mas a morte de David Madson! A maneira como ele “implorou” pela vida, como ele “imaginou” um futuro com Andrew, mas o assassino já sabia que eram palavras vazias, que ele não sentia que nada daquilo era possível… por isso, ele mata David, e foi doloroso vê-lo cair. Mais doloroso ainda em paralelo com o futuro que David realmente imaginou, chegando em segurança ao trailer e tomando chá com o pai… mas não é isso. Ele é a segunda vítima.
E Andrew Cunanan segue adiante.


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