Altered Carbon 1x07 – Nora Inu
“The danger
of living too many times: you forget to fear death. We dismiss the Grim Reaper as
a quaint metaphor. But fearing death... it's good for you”
O episódio
que eu ESTAVA ESPERANDO em “Altered
Carbon”. Fiquei um pouco surpreso com o tamanho dele (pouco mais de 1
hora!), mas ele flui de uma maneira tão envolvente que eu nem senti o tempo
passar de fato… aqui, várias coisas são esclarecidas. Desde o início da
temporada vemos uma série de pequenos flashbacks
da história de Takeshi Kovacs antes
de ele ser reencapado no corpo de Eliar Ryker, e embora pudéssemos ter uma
visão geral de sua história, aqui podemos vê-la linearmente, da infância
conturbada à vida adulta na CCAT e com os Emissários. Além disso, o episódio
tem tempo de desenvolver a história de Kovacs com Quell, por exemplo, e nos
surpreende ao revelar algumas coisas que nunca sonhamos, como a identidade de
Nadia Makita. Toda a narrativa também perpassa por pequenos momentos de
reflexão interessantíssimos.
No episódio
passado, Takeshi Kovacs desmentiu toda a história de que Isaacs podia ter sido
o assassinato de Laurens Bancroft, e ele o fez por uma razão muito clara: ele sabia do que estava falando. Em sua
infância, ao lado de Rei, lá quando ele a instruiu a “nunca enfrentar os
monstros sozinha”, ELE MATOU O PAI. São cenas fortes, e as crianças acabam
capturadas e, mesmo que apenas um garoto, ele é interrogado no virtual e diz
coisas topetudas como “He deserved it” e “Cops are stupid”. Notando o seu imenso potencial, Takeshi é
recrutado para a CCAT, mas a única coisa com que ele se preocupava era com a
segurança de sua irmã. Ele não se opôs a “ir para outro planeta, treinar em
mundos e capas diferentes”, desde que Rei estivesse
em segurança. Segundo os caras que o levaram, ele nunca mais poderia ver sua irmã, para a segurança dela.
Desde o
começo do episódio, em cenas entre Tak e Rei no presente, eu não podia deixar de sentir que não confiava nela. Em nenhum momento. As cenas do passado constroem
toda essa narrativa – uma vez recrutado pela CCAT, Takeshi é “colocado no corpo
de um homem”, e parece altamente desesperador para uma criança acordar
subitamente em um corpo como o de Takeshi, interpretado por Will Yun Lee. A sua
infância foi roubada, e ele passou anos treinando e matando e lutando pelos
homens que lhe levaram embora… até que
ele e sua irmã se reencontrem por acaso, muitos anos depois, quando ela também
já é uma adulta. É eletrizante vê-los lutando poderosamente lado a lado, e
destruindo os homens para quem ambos trabalham, mas agora tanto o Protetorado
como Jaeger estão atrás deles, e eles
precisam escapar.
As cenas na
Floresta são EMOCIONANTES, e é uma complexidade de sentimentos quando ela fica brava com o irmão, mas na verdade está feliz por tê-lo reencontrado, e frases
como “I missed you so much!”, ditas
entre lágrimas, expressam toda a profundidade confusa dos sentimentos
envolvidos. “I’m sorry, Rei!” Ali na
floresta é que eles são encontrados pelos Emissários, e embora Takeshi Kovacs
seja bem cínico e cético, Quell sabe que há
algo mais que isso, afinal ele lutou contra o Protetorado, sua irmã lutou
contra Jaeger… e se os inimigos deles são
os mesmos… assim, Quell o convida
a se juntar aos Emissários: “Tell me
something, Takeshi Kovacs, What did the Protectorate take from you? […] What
would you do for revenge?” Parece uma oportunidade e tanto o que Quell está
lhe oferecendo, um “plano melhor” como eles queriam.
Por isso ele
topa ficar.
“You’re only pretending to be one of the monsters”
Na primeira
vez que vimos a sociedade dos Emissários, eu não pude conter um sentimento de utopia, de alguma maneira. Eles não são 100%
felizes, porque ninguém é, mas eles parecem levar uma vida muito bacana lá em
cima, com um lugar só deles, família e amigos… assim, Takeshi e Rei moram com
eles, treinam com eles, e cena após cena acompanhamos um passar de tempo que
nos convence de que Tak é cada vez mais parte dessa família. O treinamento na Floresta, que já vimos em partes, é
INTENSO e muito bom. Quell, maravilhosa, sabe o que está fazendo quando pede
que Tak e Rei “a matem”, e consegue antever cada movimento, cada arma que é apontada
em sua direção, cada faca que é lançada, e enfatiza a fraqueza em que caímos ao
confiar demasiado na capa ou nas armas… a
verdadeira arma somos nós.
“You have
two weapons, yourselves and each other. […] The true strength of the wolf isn't
fangs, speed, and skill. It's the pack. Whatever world you needlecast into, build
a pack. Find ways to inspire loyalty in a few capable locals, even if many of
them will ultimately be expendable. We are Envoys. And we take what is offered”
Aos poucos,
Tak se tornou, mesmo, um EMISSÁRIO.
“She gave me the life I’ve never had”
Como um
Emissário, a missão deles é muito mais complicada do que se pensa:
“We cannot
win a conventional war against this enemy, because it's not the Protectorate we're
fighting. It's immortality itself. The creation of stacks was a miracle and the
beginning of the destruction of our species. A hundred years from now, a
thousand, I can see what we will become. And it's not human. A new class of
people so wealthy and powerful, they answer to no one and cannot die. Death
was the ultimate safeguard against the darkest angels of our nature. Now the
monsters among us will own everything, consume everything, control everything. They
will make themselves gods and us slaves... […] If we do not stop the curse of
eternal life in our realm... our children will inherit despair. The ebb and
flow of life is what makes us all equal in the end. The Uprising must end
immortality”
QUE DISCURSO ARREPIANTE! <3
A série
suscita uma variedade de temas e DISCUSSÕES, e eu gosto de como “Altered Carbon”, em última instância,
nos faz pensar. Já passei alguns parágrafos, em outros textos, avaliando as possibilidades
de reflexões que a série propõe, mas depois desse discurso inspirado de Quell, não
sinto que haja muito mais a ser dito. A Revolta
deve acabar com a IMORTALIDADE, porque a imortalidade da raça humana nos priva
da humanidade. Isso faz todo sentido, por mais doloroso que seja. É real. Assim, o plano de Quell é o de
lançar uma espécie de bomba que deixe
os cartuchos com os anos contados. 100
anos para cada pessoa, e então é o fim… a morte não é mais opcional. É um
plano arriscado e sem esperança de volta, ela
está decidida a morrer, mas é como ela diz: “We aren't meant to live forever. It corrupts even the
best of us”. WOW. Verdade,
infelizmente.
O plano de
Quell, como vemos no mundo dominado pelos Matusas 250 anos depois, com Laurens
Bancroft acima da lei e fazendo o que
quer, não deu certo. Mas ela tentou. Em
uma missão arriscada rumo ao Núcleo Central, Takeshi acabou pego e os
Emissários voltaram por ele, porque Quell mandou… e Quell não se importava apenas com o plano ser escancarado. Ela se
importava com ele. De todo modo, Rei tenta usar isso tudo para colocar mais
dúvidas na cabeça de Takeshi Kovacs – ela não quer morrer, ela quer se tornar
uma Matusa (embora ela ainda não diga isso com essas palavras), e ela quer
viver ao lado dele, agora que eles finalmente se reencontraram… ela coloca em cheque o plano de Quell. E
conversando com Quell, Kovacs descobre algo surpreendente: ELA É NADIA MAKITA,
a mulher que criou os cartuchos, e essa é
uma reviravolta e tanto. Por isso a Guerra, por isso o plano e a
determinação em arriscar a própria vida para colocá-lo em prática.
Ela quer colocar um fim nisso tudo porque
sente que foi ela quem iniciou.
E foi.
Mas ela fez
pelos motivos certos…
“I wanted
to be an explorer. See other worlds with my own eyes, but... one life wasn't
enough time to see the stars, so... I found a way to transfer the human
consciousness between bodies and, in that creation, soar. Suddenly, anyone could
travel distances beyond imagination faster than light, and no one would ever be
limited by one lifetime again. […] I thought I was freeing the human spirit, but
I was building the roads for Rome. Eternal
life for those who can afford it means eternal control over those who can't.
That is the gift I gave humanity”
Dolorosamente,
isso é algo que vemos acontecer naturalmente.
Me partiu o coração quando Quell fala de suas intenções ao criar os cartuchos,
mas a humanidade é perversa e converte isso em algo deplorável que se resume a exploração e desumanidade. Não é a única
invenção que foi criada para o mal… doeu
em Santos Dummont ver a sua invenção ser usada para lançar bombas durante a
guerra, por exemplo. É tristíssimo como o ser humano perverte algo bom que
foi criado com uma boa intenção e transforma isso em mais um meio de dominação,
em mais um meio de segregação, em mais um
meio de DESTRUIÇÃO. A cena de Kovacs e Quell, na floresta, é MUITO BONITA,
e expressa a profunda admiração que ele sente por ela, e acaba com uma conexão
real e um sexo bonito entre os dois, com
amor. Mas quando Rei os vê juntos, as coisas desandam…
Ela desaparece,
e enquanto isso vemos os Emissários sentindo
a aproximação da morte. A sequência é dolorosa e o final é revoltante. O lar
deles completamente DESTRUÍDO, coberto em cinzas, a morte espalhada por todos
os lados em um massacre inimaginável. Tudo
é tão triste. Os poucos que sobraram, e dizem coisas como “O inimigo éramos nós” e “Eu fiz isso comigo mesmo, não lembro o
porquê”, aos poucos também são brutalmente assassinados por eles mesmos, e
a cena de Tak obrigado a atirar no cartucho de De Soto foi de partir o coração. Então ele corre, pela floresta em chamas,
tentando contatar Quell e Rei, as únicas outras duas sobreviventes, e manda que
elas fujam sem ele, pois não vai ter tempo de chegar… então, com as cinzas
caindo ao seu redor, Tak assiste à nave decolar e logo em seguida, ser atingida
e EXPLODIR.
A morte das pessoas que ele amava.
Camuflado entre
as cinzas, ele segue a ordem de Quell e sobrevive,
por mais que lhe doa. E só agora, 250 anos depois, algumas coisas começam a fazer sentido. Começa quando
Kovacs pergunta a Rei sobre a morte de Quell, como foi, e ela diz que “não se
lembra”. Então, em uma sequência repleta de TENSÃO, Kovacs encontra outras três
capas no apartamento de Rei, de pessoas que ele encontrou anteriormente, como
aquela Matusa que colocou o estuprador em uma cobra, e então ele percebe o que
aconteceu de verdade… Rei fez backup
antes da explosão do avião e atacou Quell, e como não consegue matá-la com a
faca, ela a mata com a explosão do avião. Ela, A TRAIDORA, matou todos os
Emissários em um massacre terrível e depois matou Quell… é a última
sobrevivente ao lado de Kovacs, e eu
realmente mal posso esperar para que ela também não seja mais uma “sobrevivente”.
Queremos seu
cartucho destruído!
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