The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story 2x08 – Creator/Destroyer



“There is no money, is there?”
Eu não sou (e meus textos ao longo dessa temporada não me deixam mentir!) daquele que reclamam o foco dado em “The Assassination of Gianni Versace”. Sempre achei que uma boa construção do personagem de Andrew Cunanan era essencial para que entendêssemos como chegamos até o assassinato de Versace, como vimos no primeiro episódio – e eu acho que esse episódio, que puxa lá da infância do Andrew, foi talvez um dos mais importantes para que víssemos como Andrew virou Andrew Cunanan. No entanto, eu acho que aqui teria sido legal, em paralelo, explorar mais da infância e juventude de Gianni Versace, uma vez que eles quase se dispuseram a fazê-lo como a introdução do episódio, de aproximadamente 5 minutos, mostrou. Se eles tinham 60 minutos para o episódio (o que eu acho exagerado!), dava para ter dedicado um pouco mais a Versace.
Porque aqui fazia sentido, e muito sentido. O título do episódio, inteligente, traz talvez um paralelo entre a criação de Gianni Versace e Andrew Cunanan, absurdamente diferentes uma da outra. Se a mãe de Gianni era uma “criadora”, uma mãe amorosa, compreensiva e admirável, o pai de Andrew era o “destruidor”, aquele que acabou com a vida do filho, talvez sem nem ao menos saber que o estava fazendo. No entanto, nessa divisão desparelha de 5/55 minutos, talvez o opositivo de criador vs destruidor fosse do próprio Modesto Cunanan, que foi tanto o criador quando o destruidor de Andrew Cunanan. Assim, vemos Versace crescendo incentivado para seguir o seu sonho e ser quem é, de forma carinhosa e humana, enquanto Cunanan foi criado para ser “especial”, de uma forma muito mais doentia do que natural. E nós sabemos aonde isso o levou.
Voltamos à Itália, 1957, Versace ainda criança e desenhando vestidos.
Ali, fofa, sua mãe lhe fala:

“I wanted to be a doctor when I was your age. My father told me ‘That's no job for a woman’. So I became a dressmaker. At the same time, I vowed I would never tell my children what job they should do. You must do what you love, Gianni. What you feel inside here. But it takes hard work and practice. You must learn how to sew, how to understand the fabrics. I'll teach you, if you want”

Eu achei extremamente bonito como a mãe era querida e amorosa com ele. Não conheço a história de Gianni Versace, e juro que temi quando ela pede para ver os desenhos, mas então o meu amor por ela só CRESCEU a cada cena. Na escola, o garoto não encontra o mesmo apoio que em casa, com os amigos o zoando e chamando-o de nomes, enquanto a professora o chama de “pervertido” e rasga o seu desenho… a mãe, por sua vez, é totalmente compreensiva, e uma cena lindíssima acontece quando ele chega em casa, cabisbaixo, com os pedaços rasgados do desenho em mãos, e a mãe lhe pergunta o que aconteceu. Ao se inteirar de tudo, ela diz que o seu desenho é lindo, e que eles podem fazê-lo de verdade… é esse tipo de atitude que criou Gianni Versace para ser uma pessoa muito melhor do que Andrew Cunanan, com o pai que teve.
A infância de Andrew está na California, em 1980, e percebemos de cara que Andrew é mimado. A casa para que mudam é bonita, eles têm dinheiro, mas o problema é como tratam o garoto. Ele não ajuda na mudança, senta no banco da frente do caminhão, ganha um tour pela casa nova e, o mais absurdo de tudo, O MAIOR QUARTO. Como isso é possível? Por isso cresceu daquele jeito! Vemos Modesto, o pai, e Andrew, o filho, em entrevistas paralelas. Um para conseguir um emprego na bolsa de valores, outro para entrar em um colégio renomado. “Andrew, if you could have one wish, just one wish, what would it be?” Após a entrevista, percebemos o desequilíbrio do pai como observaremos mais tarde em Andrew: enfurecido porque a mulher acredita em sua mentira de que “não conseguiu o emprego”, e a agredindo. A violência e a loucura vieram de família.
Foi profundamente perturbador perceber o quanto o Andrew crescido é parecido com o pai, como quando Modesto Cunanan fica ao telefone, mesmo depois que o cliente já desligou, fingindo que está fechando um super negócio! Em uma das cenas mais revoltantes do episódio, ele tira o pequeno Andrew da mãe enquanto ela o ajuda a fazer a lição de casa e lhe dá um carro, mas ele É SÓ UMA CRIANÇA. É revoltante e absurdo, e não faz o mínimo sentido, por inúmeras razões que não valem a pena ser mencionadas. E ali, com a mãe sendo muito sensata, Modesto a agride, e Andrew acha que ele estava com a razão. É perturbador. Foi o pai que o treinou para ser o monstro que ele virou, foi o pai que frustrou seus sonhos, como de escrever um livro (“Somebody offers you a million dollars to write a book... sure, take it. Why not? Otherwise... no”), e isso é angustiante.
Então vamos para 1987, Andrew Cunanan já é jovem e interpretado por Darren Criss. “If being a fag means being different… sign me up!” Ali, ele tem ações pseudo-revolucionárias que só são revoltinhas ridículas de garotinhos mimados (a foto do anuário!), enquanto o pai está muito mais decaído que antes, em um escritoriozinho terrível, enganando velhinhas de 90 anos para roubar-lhes seu dinheiro. Nessa época, Andrew Cunanan estava experimentando, estava saindo com homens mais velhos, estava tentando fazer de tudo para expô-los quando eles não queriam, e fazendo o que sempre fez de melhor: afastando as pessoas dele. Depois disso, ele “surta” em uma festa, chamando toda a atenção para si, fazendo um espetáculo de si mesmo. Enquanto isso, o cerco se fecha em torno do pai, ele passa a ser investigado por roubos e enganações…
E as coisas ficam sérias.
Ali, o pai ENLOUQUECE. Corre ao cubículo, começa a destruir provas, foge do escritório pela porta dos fundos enquanto a polícia entra, com um mandato de prisão, e corre até em casa, onde tem dinheiro e passaporte escondido. Em casa, depois de empurrar a esposa, ele foge pelos fundos enquanto o FBI bate à porta, e ele encontra Andrew do lado de fora, chegando da escola depois da felicidade de ter recebido o título de “Most Likely to be Remembered” no anuário. O pai pega as chaves de seu carro, pede que ele não acredite em nada que a polícia lhe disser, e foge. A situação de Andrew e sua mãe, depois disso, é DEPLORÁVEL. O pai sabia do que estava para acontecer, vendeu a casa e os deixou sem nenhum dinheiro nem lugar para morar… mesmo assim, Andrew quer acreditar que o pai não é uma fraude total, enquanto a mãe surta, mais próxima do que o que conhecemos dela nos últimos episódios.
Ainda acreditando no pai, Andrew vai desesperadamente atrás dele até onde for preciso, mas ali nós percebemos que algo se quebrou entre eles. Andrew já pode ver através de suas mentiras, e está frustrado. Ele se volta contra o pai, o chama de mentiroso, e diz que não pode ser como ele, mas é exatamente o que ele vai virar dentro de pouco tempo. Um mentiroso. O pai, por sua vez, diz umas verdades dolorosas, que provavelmente doeram muito mais do que os dois tapas que deu na cara do filho, mas a cena foi forte, com Modesto o xingando e o provocando de forma brutal, enquanto Andrew segura uma faca, quem sabe pronto para matar o próprio pai… ou quem sabe não. Ainda não. Sem fazê-lo, ele volta para casa, consegue um emprego na farmácia, e o ciclo se fecha com o início do episódio passado, e o início de todas as mentiras de Cunanan…
“He owns multiple pineapple plantations”
Ouch.

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