Desventuras em Série 2x01 – Inferno no Colégio Interno: Volume 1
“I feel
like I’ve been sitting in this bench for months!”
E “Desventuras em Série” finalmente está
de volta para um segundo ano de horrores nas miseráveis vidas dos Órfãos
Baudelaire, sempre com esse tom peculiar que fez com que nos apaixonássemos, há
muitos anos, pelos livros de Lemony Snicket, e pela adaptação da Netflix no ano
passado. Esses dois primeiros episódios na temporada, que adaptam o quinto
livro da série, “Inferno no Colégio
Interno”, traz uma mudança gritante nas cores que vemos em tela. Para
seguir representando essa recriação PERFEITA da Escola Preparatória Prufrock,
com todo o seu lado sombrio, os prédios em formas de lápides e o Barraco dos
Órfãos, as cores foram quase extinguidas, com exceção do vestidinho rosa e
repugnante de Carmelita Spats, e tudo parece um pouquinho mais dark, embora desse jeitinho especial e surreal de “Desventuras em Série”, que tem um quê todo artístico e sarcástico.
For Beatrice –
You will always be in my mind, in my
heat and in your grave.
Novamente,
como marcou a primeira temporada, o espírito do livro é brilhantemente
retratado na série, nas contradições em palavras quase idênticas entre o que
Lemony Snicket está dizendo para nós e o Sr. Poe está dizendo ao telefone,
referindo-se ao livro “A Pândega do Pônei”, com
a mesma capa que recebemos como capa falsa de “Autobiografia Não Autorizada”.
Os elementos do livro estão todos ali, e muito bem colocados, com o visual
macabro da Escola Preparatória Prufrock, seu lema em latim, “Momento Mori” (“Lembre-se de que morrerás”),
e o vice-diretor Nero tocando o seu violino… ah, além da irritante Carmelita
Spats que faz um tour pela escola com os Baudelaire e os deixa, depois, na
porta de Nero, atrasados. Ainda os
chama de “bisbórrias”, olha a audácia! Além disso, ainda temos essa DELICIOSA
meta-linguagem, em falas como:
“I feel
like we've been sitting on this bench for months”
“We've been
waiting so long, Sunny's starting to look less like a baby and more like a
toddler”
Como não
amar?
Parece-me que
na versão da Netflix não será sempre a Madame Lulu quem vai contar ao Conde
Olaf sobre o paradeiro dos Órfãos Baudelaire. Nesse episódio, enquanto
Jacquelyn, a secretária do Sr. Poe, manda Larry encontrar as crianças na escola
e entregar-lhes um livro, o Conde Olaf ouve tudo e começa a armar um plano para
invadir, enquanto a Escola Preparatória Prufrock, aparentemente, está com um
“sistema de computador super avançado” que pode reconhecer o Conde Olaf. Embora evidentemente não possa. E o
Conde Olaf precisa de ajuda para entrar na escola e passar pelo “sistema”, e
para isso ele precisará do apoio de algum aluno desprezível o suficiente para
ajudá-lo, e só há uma pessoinha irritante vestida de rosa que seria capaz:
CARMELITA SPATS. E que menininha mais irritante do começo ao fim em uma
infinidade de cenas!
“Oh I’ll tell you what I want. What I really really want”
O som de
Carmelita andando com seus sapatos de sapateado é devastador, mas pior que isso
é o encontro com Nero, no qual Sunny lindamente cobre os ouvidinhos para não
ouvi-lo tocar – ou agredir – aquele violino. Nero é exatamente a pessoa
desprezível de quem nos lembramos, cheio de regras absurdas e fazendo graça das
crianças quando não há necessidade. Também é muito triste quando ele fala do
dormitório perfeito ao qual as crianças não poderão usufruir, porque “não tem a
assinatura de um pai ou tutor legal que possa lhes autorizar o uso”, o que é um
absurdo… mas absurdo é o que mais existe na Prep Prufrock, com as regras e
punições para atrasos com as mãos amarradas para trás nas horas das refeições,
por exemplo, e esse tipo de coisa absurda… fora toda a questão do saco de doces
caso eles percam um recital de violino.
O Barraco dos
Órfãos é desesperador. Super pequeno, ele ainda está infestado de caranguejos e
tem fungos pingando do teto, enquanto O
Pundonor Diário anuncia o quanto os órfãos “estão felizes com educação
exemplar”. Ha. As aulas são ridiculamente absurdas, entediantes e chatas. O Sr.
Ramora com as suas incontáveis histórias sobre a sua vida. Ao menos Violeta ganha um sorriso de Duncan. A Sra. Bass e aquela
sua fixação insana pelo sistema métrico. Ao
menos Klaus ganha um sorriso de Isadora. E a Sunny trabalha como secretária
e é a coisa mais fofa desse mundo! E eles quase ganham uma ajuda de Larry no
refeitório, mas o livro não está mais ali para ser entregue, graças a uma
distração de Carmelita Spats, e ela está ali para transformar a vida deles num
inferno mais e mais a cada segundo. Como
quando os enche o saco no refeitório.
Ao menos foi
fofo o Duncan os defendendo, e assim os Quagmire entram oficialmente para “Desventuras em Série”, e eu GOSTO MUITO
deles! Adorei o Klaus já todo encantado pela maneira como Isadora compõe dísticos, ou os olhares de Duncan e
Violet (e a Sunny naquele “Get a room!”),
e eles são os primeiros amigos que os Baudelaire ganham em muito tempo. Os dois trigêmeos falam sobre Quigley, o irmão que
perderam em um incêndio em sua casa, com os pais, além das partes de luneta que
Klaus e Isadora encontraram nas cinzas da casa, que agora se conectam. “Can't be a coincidence. Two fires, two halves of a spyglass”. Assim, os cinco já se unem
para investigar um MISTÉRIO, que envolve os seus pais, dois incêndios e a
luneta. Quer dizer, eles têm que aturar a chatice de Carmelita, musiquinhas e
números de sapateado, além de comentários como “I smell people who lost their parentes in fires”, mas pelo menos
agora eles têm uns aos outros.
E isso já é muita coisa.
“I'm sure
you already know”
“What?”
“What
friends are for”
Então, nos
corredores da Escola Preparatória Prufrock, o Conde Olaf encontra os trigêmeos
Quagmire e fala com eles como se fossem os Órfãos Baudelaire, e eu confesso que
tive que rir quando ele começou a contar e a se perguntar “onde estava a anã”.
Então Olaf fala do irmão e dos pais, e das safiras que são a fortuna Quagmire,
e então UM MONTE DE COISA ACONTECE, como o Conde Olaf enfrentando o Larry, com
a ajuda de Carmelita Spats, e prendendo-o no congelador, o que gera outro
excelente momento de meta-linguagem: “You
sound cold. Are you in the mountains? We're not due
there until the end of the season”, o que me deixou louco com a piadinha
toda a respeito das Montanhas de Mão-Morta, algo sobre o que ouvimos falar
apenas em “O Carnaval Carnívoro” e
que introduz o tema de “O Escorregador de
Gelo”.
Enfim.
O fim da
primeira parte de “Inferno no Colégio
Interno” é o momento em que os Baudelaire se dão conta de que seus momentos
na Escola Preparatória Prufrock, que já eram péssimos, com a comida horrível, o
Barraco dos Órfãos, os recitais de violino, as aulas insuportáveis e a chata da
Carmelita Spats, estão prestes a se tornarem ainda piores. Porque Isadora e Duncan estavam fazendo de tudo para
contar a eles, sem sucesso, que o Conde Olaf estavam ali, mas não havia essa
necessidade… eles estavam próximos demais
de descobrirem por eles mesmos. O Vice-Diretor Nero anuncia uma
substituição no quadro de professores, e alguém para substituir a antiga
professora de educação física, e é então que o “Instrutor Genghis entra em
cena” pela primeira vez, com tênis brancos de cano alto e um turbante ridículo
na cabeça.
E tudo o que os Baudelaire podem dizer é:
“Count Olaf!”
Que série maravilhosa! A cada episódio queremos ver e sofrer mais juntamente com os Baudelaire. Que coisa, não? A Netflix está de parabéns com essa adaptação.
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