Desventuras em Série 2x08 – O Hospital Hostil: Volume 2



“What choice do we have?”
A segunda parte de “O Hospital Hostil” encerra com maestria o que, até então, foi a MELHOR história de “Desventuras em Série”. Mantendo o estilo macabro e um quê desesperador do episódio anterior, aqui os irmãos estão separados e Sunny e Klaus precisam fazer todo o possível para encontrar Violet Baudelaire e salvá-la das garras do Conde Olaf e de uma possível craniectomia. Toda vez, como um leitor ávido e apaixonado dos livros há mais de 10 anos, me fascina a maneira como a série da Netflix é fiel à sua base, e como nos apresenta cenas como essa brilhante narração de Lemony Snicket sobre a expressão “borboletas no estômago”, algo que foi divertido e angustiante de ler, e agora podemos ver acontecer de fato. Enquanto Sunny e Klaus também sentem “borboletas no estômago”, de uma maneira diferente do cientista na história, vemos o Conde Olaf e sua trupe andar pelo hospital com Violet!
Diferente do livro, Klaus e Sunny não passam a noite sozinhos na parte inacabada do Hospital Heimlich, pensando na irmã e em onde ela poderia estar, e se unem depressa aos Combatentes pela Saúde do Cidadão em sua cantoria macabra diária, escondidos atrás de balões de coração, enquanto andam de paciente a paciente com aquela música ridícula, se recusando a dar analgésicos e água a pacientes à beira da morte, representando, talvez, o descaso com pessoas nessas situações, e essa “ilusão” de que “estamos ajudando” ao passar ali cantando e “alegrando” os pacientes. Quantas pessoas fazem coisas pequeníssimas quando poderiam fazer muito mais e sentem que “estão fazendo toda a diferença”? Os voluntários C.S.C. no Hospital Heimlich são um exemplo disso, e pessoas assim, por mais macabras que sejam, são muito mais recorrentes do que pensamos.
Creepy.
É de Sunny Baudelaire que vem a ideia de disfarçar-se de médicos, e Klaus pensa que se isso repetidamente funciona com o Conde Olaf, por que não poderia funcionar com eles? Assim, com uma barba postiça e um jaleco de médico, Klaus esconde Sunny sob o jaleco e se torna um médico velho e “barrigudo”, enquanto a garota fica ali dentro, quiçá um pouco claustrofóbica, mas bem. Agora, o Dr. Faustus (!) precisa encontrar uma maneira de colocar as mãos na lista de pacientes (ponto pra Sunny!) e descobrir qual daqueles nomes inventados pode ser Violet Baudelaire. Adorei a Sunny conseguindo a lista, sugerindo o “pseudônimo” e chamando a atenção de Klaus para a letra “V”, enquanto eles tentam descobrir qual anagrama forma “Violet Baudelaire” através de uma sopa de letrinhas menos nojenta que a do livro… nessa cena, também vemos o açucareiro pela primeira vez!
Quando Sunny e Klaus descobrem que Violet está presa no quarto 922, no entanto, já é tarde demais. O Conde Olaf já a amarrou à maca e a anestesiou, e agora está se preparando para levá-la para a cirurgia, e é com desespero que os Irmãos Baudelaire chegam ao quarto vazio! Então Esmé Squalor os encaminha para o anfiteatro cirúrgico do Hospital Heimlich, onde, dentro de 5 minutos, a primeira craniectomia do mundo será realizada em uma garota. É bizarro, um tanto surreal e totalmente revoltante como Lemony Snicket foca a espetacularização do horror, e como as pessoas adoram ver outras pessoas sofrer – é o mundo em que vivemos. Ali, os capangas do Conde Olaf distribuem programas (!) para um público ávido por ver uma cabeça serrada para fora de um corpo, e tudo é absurdamente doentio, especialmente com as explicações fajutas do Conde Olaf, ou Dr. Mattathias, para justificar a necessidade da operação.
Really?
Sunny, então, tem a ideia que pode salvar a vida de sua irmã: eles precisam enrolar a multidão. Klaus é corajoso desafiando o Conde Olaf, que está visivelmente irritado e impaciente, mas seu plano não tem lá muito sucesso, embora ele consiga desligar a anestesia. Enquanto ele espera Violet acordar e a multidão enfurecida grita “Do it! Do it! Do it!”, ele tem o melhor plano de todos e anuncia que não pode começar a cirurgia, porque ainda tem algo que não foi feito: A PAPELADA. E todos sabemos que a “papelada” é o que há de mais importante no Hospital Heimlich. Isso lhes dá tempo o suficiente para que Violet desperte, mas Lemony Snicket ainda guarda uma série de horrores e injustiças para essa trecho, começando pelo fato de Klaus ter que abrir mão da fita de Jacques Snicket para salvar a vida da irmã, embora não possa confiar em Olaf e Esmé, e ele não devia ter cometido esse erro.
As coisas no anfiteatro cirúrgico saem de controle, os Baudelaire são desmascarados, chamados de “assassinos”, e Hal aparece para confirmar tudo o que está sendo dito e acusá-los de invadir a Biblioteca de Registros para destruir os arquivos a respeito de “todos os seus crimes”. Enquanto isso acontece, o incêndio no Hospital Heimlich começa através da fita de Jacques Snicket que o Conde Olaf assiste, enlouquecendo depois de ouvir sobre a possibilidade de “um sobrevivente no incêndio”, e então o aparelho antigo começa o fogo que destruirá todo o lugar. Pelos alto-falantes, o “Dr. Mattathias” anuncia o incêndio e coloca a culpa também nos Baudelaire, e então começa aquela terrível perseguição dentro do Hospital em chamas, em que não sabemos qual será o destino das crianças nem como elas podem sobreviver a esse terrível incêndio.
Um novo incêndio em suas vidas.
A fuga na maca foi lindíssima de se assistir, tanto quanto foi de ler, embora bem mais rápida. Os Baudelaire correm pelos corredores sujos e apinhados, com uma trilha sonora agonizante, enquanto o fogo toma conta do lugar, e acabam em um beco sem saída onde a única chance que eles têm é pular da janela, com uma invenção que Violet fez sob algum efeito de anestesia ainda e uma faixa de cabelo improvisada. Antes de pular com a corda elástico, Klaus comenta que está com “borboletas no estômago”, e então eles pulam para o que poderia ter sido a morte certa, mas a invenção de Violet funciona, com um quêzinho de sorte que eles não estão habituados a ter… e essa pequena sorte está mesmo fadada a durar pouquíssimo, porque agora só existe uma maneira de sair daquele lugar, e é o que mais tarde o autor chamará de “na barriga da fera”.
Os Baudelaire estão cercados de pessoas que querem pegá-los. Uma multidão enfurecida, polícia que acha que eles são assassinos e incendiários, e um incêndio que ameaça suas vidas. Portanto, parece que só há um lugar a ir: o porta-malas do carro do Conde Olaf. É arriscado, e tenebroso, e eles hesitam por um tempo, mas percebem que não têm outra escolha. Assim, enquanto Olaf faz a contagem e decide ir ao Parque Caligari, para encontrar a Madame Lulu, eles pulam dentro do porta-malas em uma das cenas mais desesperadoras de “Desventuras em Série”. Eles estão com o destino incerto, escondidos dentro do porta-malas do vilão, olhando as estrelas no céu por um buraco de bala… melancólico ao extremo, ao menos eles estão juntos e têm um ao outro, embora seja um sofrimento vê-los ali. Agora, nos preparamos para a última história da temporada…
“O Espetáculo Carnívoro”.
E um final ainda mais desesperador.


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P.S.: Destaque para um dos comentários de Lemony Snicket: “I do not know where the Baudelaire children are now, if they are safe, or if they’re even alive”. Acho isso um pouco desesperador, mas é bem o estilo de coisa que eu ADORO em “Desventuras em Série”. Não dá para esperar um “final feliz” para essas crianças, dá? Amo essas “meio-informações” do autor! Leve isso em consideração, será importante para a finalização da terceira temporada…

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