Jogador Número 1 (Ready Player One, 2018)
“An
adventure too big for the real world”
Um momento da CULTURA POP a ser cultuado.
Um pouquinho distante do livro em vários momentos, o filme traz uma versão simplificada (!) da trama original de
Ernest Cline, tornando “Jogador Número 1”
acessível a todos aqueles que se interessem pela história, mesmo que ainda não tenham
lido o livro. Como experiências independentes, o filme dirigido por Steven
Spielberg é um santuário de referências bacanas, construindo um clima
nostálgico de reconhecimento e descoberta, em uma deliciosa trama aventuresca
que nos envolve e nos faz querer estar lá, experimentando o OASIS ao menos uma
vez e buscando o easter egg de
Halliday ao lado desses personagens carismáticos. Por outro lado, no entanto, o
filme deixa de lado toda a faceta mais crítica, filosófica e repleta de
melancolia no livro de Ernest Cline. O filme é uma celebração do futuro e da
realidade virtual, sem ser em detrimento da realidade.
Afinal de contas, “a realidade ainda é o
único lugar que é real”.
Pode parecer óbvio, mas nem sempre o é.
O filme é um
deleite aos olhos e a qualquer coração nerd apaixonado pela cultura pop dos
anos 1980, 1990 e algumas extensões acrescentadas à história de Ernest Cline. Quando
Wade Watts anuncia o OASIS naquela introdução fantástica do filme, o lugar parece apaixonante, e tudo lá é
possível. A ideia é justamente essa, de que “o limite é sua própria
imaginação”. Você pode escalar o Monte
Evereste com o Batman. Mas ainda mais do que o OASIS, algo que me fascinou
de imediato foi o visual distópico de Columbus, Ohio, nas Pilhas. Exatamente como a edição em inglês do livro traz na
capa ou como eu imaginei ao ler as palavras de Ernest Cline, aquelas Pilhas de
trailers no filme pareciam ter saltado diretamente das páginas, e é uma visão aterradora
e eletrizante… ali começa a jornada de Wade Watts, e nós estamos empolgados por
acompanhar.
Dentro do
OASIS, Wade Watts é Parzival. Como Parzival, ele vive uma vida sendo o que ele quiser, e nos últimos anos,
ele está determinado a encontrar o easter
egg que James Halliday escondeu dentro de seu imenso jogo de imersão. Ao morrer,
Halliday, o criador do OASIS, deixou um vídeo que convidava todos a explorarem
o OASIS em busca de pistas e de algo escondido por ele, e quem o encontrasse,
herdaria todo o OASIS e o seu controle. Em
2045, controlar o OASIS era como “controlar o mundo”. Por isso, tanto
pessoas como Wade Watts quanto grandes corporações, como a IOI queria encontrar
esse easter egg, por motivos bem
distintos. Durante 5 anos de busca, no entanto, ninguém nunca encontrou nada, e o placar seguiu vazio esse tempo
todo. Mas ninguém conhecia James Halliday
melhor do que Wade Watts. E sua
determinação era admirável.
É assim que
ele explora as memórias e a mente de
Halliday até que encontre uma dica que parece ser valiosa. A Primeira Chave, de
Cobre, está escondida na linha de chegada de uma perigosa corrida, na qual
ninguém consegue passar do King Kong. Até
que Parzival siga uma dica de Halliday e, ao invés de ir para a frente, vá para
trás. Ali, no mais lindo DeLorean de “De
Volta Para o Futuro”, ele passa por toda a corrida sem riscos, por baixo do
King Kong e passa a linha de chegada, diretamente até Anorak, o avatar de James
Halliday, que lhe entrega a Primeira Chave, e uma dica para que ele siga em sua
busca… depois dele, outras pessoas também conseguem chegar à Chave e,
consequentemente, ao placar. Art3mis é a segunda, depois os amigos de Parzival:
Aech, Daito e Sho. Juntos, eles tentam decifrar a pista que os leva até a
Segunda Chave.
As cenas são ótimas.
Fico muito
dividido ao assistir ao “Jogador Número 1”
e, ao passo em que quero explorar novos mundos e o OASIS como um todo, também
quero acompanhar a brilhante atuação de Tye Sheridan e dos demais, do lado de cá. É do lado de cá que
algumas coisas acontecem, e é do lado de cá que percebemos o quanto tudo é grandioso. O “jogo” é apenas um
símbolo, mas uma intensa luta por poder
se desenrola nos bastidores, no “mundo real”, abandonado pela maioria das
pessoas. Infelizmente, o filme não tem, aqui, a profundidade emocional que o livro tem. No livro,
esse momento é de muito sofrimento, Parzival perde os amigos, perde Art3mis, se
isola, muda devido à sua nova vida, à fama e ao dinheiro, e se folga em relação
ao Concurso, permitindo que outras pessoas consigam a Segunda Chave antes dele.
O tom sofrido e profundamente melancólico do livro, que nos faz não desejar mais estar no lugar de
Parzival, foi excluído.
No filme, em
contrapartida, tudo o que vemos é a sequência de “uma grande aventura”. Embora eu
tenha AMADO o filme, eu acho que isso o qualifica para o tom de aventura e nos enche de referências e
nostalgia, mas não torna a trama tão real
e dolorosa quanto a escrita de Ernest
Cline prova que pode ser. Subitamente, o OASIS não é mais tão colorido, tão
convidativo, e queríamos não estar mais lá dentro. Não no filme. Ali, ele segue
sendo um único refúgio. A IOI busca por Parzival incessantemente desde que ele
chega ao topo do placar, e então as coisas saem de controle de forma séria
quando Parzival se une a Art3mis, no OASIS, enquanto tentam desvendar o segredo
da Segunda Chave, através de Kira, e ele comete um erro gravíssimo: diz que o seu nome verdadeiro é Wade. Não
demora muito, então, para que a IOI o encontre, também no mundo real.
Muitas coisas
são interessantes nessa sequência. Uma delas é o “Zemeckis Cube”, um artefato
que tem o poder de fazer o tempo voltar 60 segundos, o que é uma referência e
tanto, uma vez que Robert Zemeckis foi o responsável pela direção e um dos
escritores do roteiro de “De Volta Para o
Futuro”! De todo modo, agora que as coisas ficam mais sérias, a IOI destrói
a pilha de trailers em que Wade Watts morava com a tia e seu desprezível
marido, e então ele é capturado por ninguém menos que Samantha Cook, a pessoa
real por trás do avatar de Art3mis. É estranho estar no mundo real, assim como é para eles: ali eles podem sentir o vento
no rosto, ali as coisas são mais lentas,
e os personagens compartilham um momento muito bonito de quase beijo, até que Samantha
se dê conta de algo que pode ser a resposta do enigma que os leva até a Chave
de Jade.
O beijo que Halliday não deu em Kira.
Ali, somos
levados a uma sessão especial de “O
Iluminado”, que é tanto assustadora quanto eletrizante. Temos os High Five,
formado por Parzival e seus amigos, explorando o hotel em busca da Chave de
Jade, e embora não tenhamos tido um flicksync
de Jogos de Guerra, que eu queria
muito ver, tivemos uma referência estrondosa a “O Iluminado” quando entramos em todo esse cenário e o exploramos
até chegarmos ao salão de baile em que Kira dança com uma série de zumbis, e eles precisam convidá-la para dançar. Em posse da
Segunda Chave, as coisas ficam ainda mais tensas no mundo real, porque a IOI percebe que Wade Watts ainda está vivo,
e vai atrás dele, destruindo também o refúgio em que Samantha Cook morava. Como o OASIS precisa ser salvo por Wade, que
conhece Halliday como ninguém, Sam se sacrifica e se deixa levar pela IOI.
Então, Wade
Watts se une aos seus outros amigos do OASIS, mas do lado de fora: Aech, que é
Helen, Daito que é Toshiro Yoshiaki e Sho, que é um garotinha de 11 anos
chamado Akihide Karatsu. Pela Chave de Cristal, a última até o easter egg, uma guerra se forma no
OASIS, enquanto a IOI toma conta do Castelo de Anorak, onde algum jogo do Atari
2600 revelará a última chave – é um clímax eletrizante enquanto Wade Watts,
como Parzival, convoca todo um exército para lutar contra a IOI e salvar o
OASIS da grande corporação que o destruirá e o desviará da visão de James
Halliday, e a grande sorte de todos eles é que a IOI não sabe bem o que está fazendo. Eles jogam e jogam no Atari
2600, mas o grande segredo não era ganhar.
Mas jogar. A guerra é repleta de
batalhas bacanas, muitas referências, e a dinâmica perfeita de Parzival e
Art3mis.
Então o cataclisma destrói todos os
personagens no planeta.
Toda essa
sequência, como de todas as Chaves, foi simplificada
no livro e repleta de ação, mas foi emocionante como Parzival jogou a “Adventure” com PAIXÃO, sabendo o que
estava fazendo e onde devia ir… ao
primeiro easter egg já escondido em um jogo, o nome do criador de “Adventure”,
escondido no código, em uma sala escura. Ali, com o mundo todo assistindo, e a
IOI indo atrás dele no mundo real,
Parzival jogou a partida de sua vida e herdou o OASIS, passando por um último
teste comandado por Anorak, até aquela emocionante cena no quarto de infância
de James Halliday, com pôsteres como de “2112”,
do Rush, que é algo tão forte no
livro de Ernest Cline. Ali, ele conversa com Halliday antes que ele siga
adiante e deixe o OASIS nas mãos de alguém em quem confia, e então recebe o easter egg, o seu grande prêmio… e todo o OASIS.
Que ele divide com seu clã.
O final do
filme é emocionante, e é muito menos melancólico
do que o livro. Adorei a trilha sonora, aqui apenas instrumental, um pouco
divertidinha, mostrando tudo como uma grande aventura que chega a um final feliz.
A trilha sonora também foi marcada por brilhantes momentos como a introdução ao
som de “Jump” e a dança na discoteca
ao som de “Staying Alive”. Agora, a
IOI não tem mais propósito algum, e o “clã” de Wade Watts divide e administra o
OASIS seguindo aquilo em que James Halliday acreditava, que também combina com
o que eles acreditam. É um final
extremamente fofo e delicioso, com uma decisão bacana para o OASIS: fechá-lo às terças e quintas, para que as
pessoas possam se desconectar um pouco e aproveitar o mundo real. Afinal de
contas, talvez fosse isso o que Ernest Cline queria dizer o tempo todo… além das referências apaixonantes.
Uma ode
deliciosa àquilo que todos nós, nerds, amamos.
Um filme memorável.
Bom artigo! Em 2018 houve filmes excelentes, Jogador Nº 1 é ótimo! Eu recomendo, é um de os melhores filmes de ação, acho que o ator principal fez um trabalho excepcional e demonstrou suas capacidades, adoro assistir filmes de ficção! É um filme que vale muito a pena ver. Adorei a participação de Tye Sheridan. Espero poder seguir de pertos seus próximos projetos para a evolução do seu trabalho. Realmente recomendo!
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