Rise 1x06 – Bring Me Stanton



“Mama who bore me…”
Lou Mazzu tem uma visão inovadora para “Spring Awakening”, que estreou na Broadway em 2006 praticamente sem cenário, mas colocá-la em prática promete ser bem complicado. O emocionante episódio traz a construção do cenário da peça da forma mais significativa possível, enquanto os personagens estão tentando lidar com as consequências de suas ações recentes, como é o caso de Lilette e Robbie, e Simon continua naquela dolorosa jornada de negação, enquanto Jeremy está ali, tentando fazê-lo acordar e aceitar que o que ele está sentindo é real. É um episódio de força significativa, que mexe conosco em vários momentos, e temos algumas apresentações arrepiantes de “Spring Awakening”, com destaque para a apresentação final de Lilette como Wendla, em uma versão completa de “Mama Who Bore Me”.
Tudo nessa série me arrepia.
Uma coisa que me interessou nesse episódio foi os paralelos feitos com “Spring Awakening”, especialmente em dois momentos: 1) quando Tracey conhece Sasha, uma garota que acabou de descobrir que está grávida e não pode contar isso aos pais, por isso está procurando a ajuda de Tracey em busca de uma clínica que não precise da autorização deles para que ela possa se consultar, em um caso que me lembra vagamente Wendla; e 2) naquela conversa de Gwen e Gordy do lado de fora da escola, em que ela está sofrendo e o convida para “fugir da escola” com ela, e embora ele diga que queira, ele também diz que não pode, e o diálogo me fez pensar DEMAIS no diálogo que Ilse e Moritz têm durante “Don’t Do Sadness” e “Blue Wind”, antes do momento em que Moritz se mata na peça… felizmente, o final deles não é tão trágico.
Ainda.
Falando em “trágico”, Anton, depois de apanhar da mãe de Lilette, diz que não vai demiti-la, mas é irredutível a respeito de sua nova escala e a coloca para trabalhar à tarde, nos mesmos horários em que ela tem ensaios de “Spring Awakening”, e é muito triste como ela vai conversar com Tracey e Lou, contar o que está acontecendo, explicando que precisará trabalhar turnos extra para poder pagar o aluguel, e a lágrima escorre de seu rosto enquanto ela diz que vai entender se eles a substituírem… me partiu o coração. No entanto, eles escolhem não substituí-la, e mudam os horários dos ensaios, para a noite, o que vira uma confusão que joga uns contra os outros, os pais contra a escola e contra Lou… uma verdadeira confusão que não nos deixa pensar que “Spring Awakening” sobreviverá depois disso tudo. E a mãe de Lilette ainda não ajuda em nada!
Sam, o treinador, enquanto tem todos seus problemas com o divórcio e com Gwen, parece também descontar em Robbie em campo, e diz que não vai deixá-lo jogar enquanto ele não estiver 100% comprometido com o time, e deixa muito claro que ele só volta ao campo quando tiver desistido do espetáculo. Confesso que fiquei apreensivo, e por um momento achei que Robbie Thorne deixaria Melchior Gabor, mas ele não consegue, e a cena que ele tem com Lou sobre isso é muito bonita. Senti toda a dor em seu discurso, entendi a sua possível necessidade de deixar “Spring Awakening”, porque o futebol também era importante para ele, mas não era a única coisa que importava… então, ele vai até Sam, se mostra disponível para seu time, mas é corajoso e determinado tomando uma posição e dizendo que não vai deixar o espetáculo.
E é isso.
Uma coisa que eu ADOREI no episódio foi Simon e Jeremy, e me desculpem o espaço que vou ocupar abaixo sobre isso, mas é que o diálogo deles do lado de fora do carro é significativo demais para ser parafraseado… ele precisa ser transcrito:

“Simon. Wait up”
“Hey, uh, look, I got to get home”
“Yeah, I know, but... am I crazy? I mean tell me if I'm crazy, but I thought you and I had something”
“I don't know what you're talking about”
“You sure? I mean it's fine if we don't. We can be friends”
“Yeah, we're friends. What else would we be?”
“Look, but right now you're acting kind of creepy. […] Okay. Good night, Simon”

“That's not what I... It's just lately you... you've been... You're trying to get me to run lines with you and... and hang out with you and talk to you. And I can't. You know, I... I just can't”
“Look, this is hard for me, too. Okay, it's not like I do this...”
“I don't know what you want”
“I want you to be honest. Do you feel something when you're with me? Do you feel this right now?”

Então Jeremy beija Simon.
O JEREMY BEIJA O SIMON!
E olha só, não é qualquer beijo. O diálogo é intenso, é verdadeiro, e eu sofro por Simon e pela maneira como ele ainda não se assumiu. Nem para o mundo, nem para ele mesmo. Ele nega seus sentimentos, mas seu discurso já mostra seu sofrimento, como quando ele diz a Jeremy que “não pode”, e não que “não quer”. Isso significa algo. Jeremy é bem Hänschen quando se aproxima dele e pergunta se “ele sente algo”, e especialmente se ele sente algo agora, antes de beijá-lo. Não é um beijo qualquer, é um beijo sincero, forte, bonito. Um beijo gostoso, e que Simon não rejeita. Se você prestar atenção, foi um beijo contido e respeitoso, breve inicialmente, com uma pequena pausa no meio. Jeremy deu a Simon a oportunidade de se afastar, de recusar o beijo. Ele não quis. Ele o beijou de volta, e foi como se fossem dois beijos. Dois beijos sinceros, belos, românticos.
A cena que eu mais esperava ver em “Rise”.
Não vejo a hora de ver Simon se aceitar, de ver Simon SER FELIZ. Porque ele merece isso!
Mas o sofrimento de depois existe, e infelizmente é uma dura realidade essa que o Simon representa do gay que quer se manter no armário, e não é para as pessoas ao seu redor, é mais para ele mesmo. Para que ele mesmo possa negar sua sexualidade, ele convida Annabelle para sair, ele diz a ela que “talvez eles devessem avançar fisicamente”. É VERGONHOSO quando Simon age tão “naturalmente” tentando forçar uma vontade de fazer sexo que não existe, e é mais triste ainda como ele olha discretamente para Jeremy, lá no fundo do corredor, enquanto chama Annabelle para sair… a cena dele indo comprar coisas, como camisinhas, com Lilette foi quase angustiante, e Lilette tentou aconselhá-lo e dizer que não seria justo nem com Annabelle nem com ele mesmo, fazer algo assim apenas para “provar algo”, mas ele não quer ouvir, e vai até o fim.
Ou quase.
Para mim não ficou claro se eles chegaram a transar ou não.
Falando sobre “Spring Awakening”, a visão de Lou Mazzu para a peça não é ruim. Ele planeja mesclar a Alemanha do Século XIX com a Stanton de hoje em dia, e Maashous cria uma maquete toda fofa, mas sinceramente? Para mim “Spring Awakening” não tem cenário. Então, mesmo que não seja contra a produção com cenário, eu achei desnecessária essa trama que dramatizou o problema do “cenário ideal” quando a peça estreou na Broadway com nada mais que algumas cadeiras como cenário principal… de todo modo, quando Lou percebe que não vai conseguir o que pensou primeiro, ele e Maashous destroem o set e pensam em algo novo, e eu achei uma ideia bem bacana, inovadora e incrivelmente pessoal. Ele manda os jovens pela cidade em busca de coisas que represente a cidade e, mais do que isso, que represente a eles mesmos. E isso é algo significativo!
Então o cenário começa a nascer.
Gwen sugere a placa que diz “STANTON STEEL”, da fábrica em que seu pai trabalhou, e leva os amigos lá para uma invasão que se mostra inútil quando percebem que não vão conseguir levar o letreiro, mas não é nada inútil, no final. Não é, porque ali Gwen e Gordy podem se conectar de uma maneira impressionante, e quando a polícia chega e Gwen é a única que é pega, ela e Sam têm uma cena fortíssima em que ela enfrenta o pai como deveria ter feito há muito tempo: “Rules and discipline, are you kidding me?! Where was that discipline when you screwed Vanessa Suarez? I have been blaming Mom this entire time, but you did this. You broke us. And I just wanted the stupid sign for the stupid show. It's all meaningless junk anyway”. Essa cena já teria sido INCRÍVEL, mas me arrepiou quando o cenário começou a nascer com as coisas que eles trouxeram, e quando Sam entra no teatro trazendo o letreiro para “Spring Awakening”.
Aquilo me arrepiou!
E o cenário fica lindo.
A música do episódio é “Mama Who Bore Me” em uma sequência emocionante que já conta com o cenário como veremos na produção de “Spring Awakening”, e Lilette com o figurino de Wendla Bergmann pela primeira vez. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença, e a sequência é emocionante, como as sequências finais de “Rise” costumam ser. Ali, enquanto Lilette cantava sozinha no palco, víamos outras cenas como o Robbie sentado no banco no importantíssimo jogo de sexta-feira, o Gordy indo até a mãe dizendo que “precisa de ajuda”, e algo que fecha a bonita e pesada trama de Lilette com sua mãe, que é ela entrando no teatro e assistindo à filha interpretando e cantando, e deixando que uma lágrima escorra de seus olhos… então, ao fim do episódio, ela novamente faz algo pela filha, e aceita um emprego, seja ela qual for.
Para que Lilette não precisa abandonar seus sonhos.

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Comentários

  1. Esse texto é uma forma tocante e intensa de descrever essa série, pois é isso que Rise é; algo tocante, intenso e cheio de sensibilidade, que com detalhes, nos faz rever nossos conceitos e olhar para dentro de nós mesmos. Amando essa série!

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    1. "Uma forma tocante e intensa de descrever essa série", muito obrigado! <3 Que bom que gostou! E sim, a série é mesmo capaz de nos fazer pensar em muitas coisas, cada semana é um sentimento novo, lágrimas novas haha Série maravilhosa, esperando ansiosamente pela renovação. Já tá na hora, não? \o/

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