Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018)
“If they
hear you… they hunt you”
Definitivamente,
um dos MELHORES suspenses que eu vi na vida. Com 90 minutos, aproximadamente,
de duração, o filme nos prende do início ao fim e, melhor do que isso, ele nos
deixa angustiado do início ao fim. É tensão pura, real, perversa. O conceito
que move o filme é de “criaturas” que destruíram o planeta e que, por serem
cegas, atacam sons. Por isso, a ideia
é de que “em silêncio você sobrevive”. Por isso, o filme é todo construído em
cima dessa ideia, com longuíssimas sequências em silêncio quase profundo, o que
por si só nos deixa em uma apreensão constante, em que é possível ouvir cada
respiração, cada pessoa segurando o fôlego… a angústia é presente durante todo
o filme, e os momentos de tensão só aumentam quando qualquer som é emitido,
como naquele angustiante momento em que o
lampião é derrubado. Estávamos há tanto tempo sem qualquer tipo de som que
aquilo nos sobressalta…
E ficamos tensos pelos próximos minutos
inteiros.
Uma das
melhores coisas do filme, no entanto, também pode ser uma das suas piores
coisas. A ideia de “Um Lugar Silencioso”
é brilhantemente representada na quase total ausência de trilha sonora em
sequências inteiras, muita linguagem de sinal e cuidado extremo para qualquer
coisa… tudo é delicado, cuidadoso,
qualquer som evoca as criaturas. Vê-lo no cinema, portanto, pode ser um verdadeiro problema. Já mencionei
antes no blog, mas as pessoas tendem a conversar
demais em filmes de terror no cinema (!), e não foi diferente com “Um Lugar Silencioso”, com a diferença de
que, nesse caso, isso realmente
atrapalha a experiência do outro de forma significativa. Portanto, talvez “Um Lugar Silencioso” seja o filme para
ser assistido em casa, então a experiência completa dependerá apenas de você, e
não de gralhas falantes ao seu lado no cinema.
Sério, isso pode ser irritante.
Mas ignorando
isso (ou mudando de lugar na sala de cinema até o lado de pessoas mais
respeitosas com os demais!), o filme é BRILHANTE. A sequência introdutória, praticamente
sem som algum, mostra a família em um mercado abandonado, pegando o que é
necessário, e o pai instrui o mais novo deles a deixar para trás o brinquedo de
uma nave, porque é barulhento demais.
Ele acaba levando o brinquedo embora, no entanto, e pior: com as pilhas. No caminho de casa, então, ele aciona o brinquedo e
o som parece atingir-nos de modo doloroso, até que ele é brutalmente atacado
por uma criatura e morre. Uma forma gráfica e perspicaz de apresentar a trama
do filme, a necessidade do silêncio absoluto e, principalmente, o perigo
iminente caso essas regras não sejam atendidas. Dali em diante, o filme é construído em cima de tensão.
Como disse,
qualquer som te sobressalta, e essa é a grande sacada do filme. O silêncio faz
com que fiquemos mais vidrados ainda no filme, e a apreensão nos acompanha do
início ao fim, especialmente quando sons são ouvidos. Por exemplo, depois de
tanto tempo em silêncio, muito me angustiou ouvir o som do rio e da cachoeira,
mas era a ideia de que ali, ao lado de um som mais alto, era possível “conversar em segurança”. Até gritar. Aqui ganhamos
a concretização de uma das tramas mais legais e dolorosas do filme, quando
Marcus conta ao pai que Regan se sente culpada pela morte do irmão mais novo,
Beau, e por isso não acha mais que ele a ama, e que se ele realmente a ama,
como diz, ele devia dizer isso a ela.
A cena é dolorosa, e apresentada inteligentemente em paralelo com Regan
visitando o memorial a Beau no local de sua morte.
Dali em
diante, no entanto, parece que não há um só mais momento de paz, e por longos
minutos ficamos tensos, com os olhos vidrados, respirando com dificuldade e
sempre esperando algo acontecer. Evelyn,
interpretada por Emily Blunt, pisa num prego enquanto desce as escadas para dar
à luz ao seu filho, e o susto faz com que ela derrube um porta-retratos, cujo
barulho atrai as criaturas perigosamente… as sequências são bem construídas, e
ficamos apreensivos enquanto vemos a ideia de distração, apresentada no
rio/cachoeira, agora usado na forma de um despertador e, por fim, fogos de
artifício, que é o que afasta as criaturas e permite Evelyn a gritar, enfim, e
dar à luz ao seu filho… naturalmente, a família não está mais salva depois de
todos esses acontecimentos recentes que colocaram as criaturas em seu encalço
de forma tão concreta.
Evelyn e Lee
se escondem em um lugar “à prova de som”, mas Regan e Marcus estão do lado de
fora, e as duas tramas nos angustiam. De um lado o bebê que chora e pode atrair
as criaturas. De outro, as crianças quase se afogando no silo (!) e sendo
atacadas por criaturas. Aqui, Evelyn expressa sua preocupação com os filhos
desaparecidos e se pergunta “quem são eles se não podem nem proteger seus
filhos”, o que é doloroso, e fecha brilhantemente com o lado mais emotivo do
filme, que me levou às lágrimas… vendo a criatura tentar invadir a caminhonete
onde Regan e Marcus se escondem, Lee faz a única coisa que poderia fazer: diz a
Regan que a ama, “que sempre a amou”, e então grita para atrair a atenção do monstro,
sacrificando-se para dar tempo aos filhos de fugir e voltar em segurança para
casa, ao lado da mãe.
Aquilo me partiu o coração totalmente.
Gosto muito
do final do filme, que termina aberto, em partes, mas com uma bela noção do que
está para acontecer em seguida. Sinceramente, não sei se Regan e Evelyn
realmente conseguiram acabar com todas as criaturas da região enquanto Marcus
defendia o irmãozinho, mas gostaria de acreditar que sim. Ao menos elas
descobriram o ponto fraco da criatura (que parece o Demogorgon de “Stranger Things”!) e agora podem,
enfim, lutar de volta. E tudo graças
ao aparelho que Lee criou para Regan, então foi o amor dele pela filha (!) que
pode tê-los salvado a todos. Quando os créditos começam, naquele belo
encerramento, soltamos a respiração, finalmente nos dando conta de a quanto tempo ela estava presa. O filme
é um suspense brilhante que faz com você aquilo que o gênero exige: te deixa
vidrado, angustiado e tenso a cada
segundo. Há tempos não sentia tanta TENSÃO de uma só vez!
O filme é
quase um clássico instantâneo do gênero, alcançando a incrível marca de 95% de
aprovação no Rotten Tomatoes, e eu
adorei. Simplesmente adorei. A criatividade, a inovação, a representação do “lugar
silencioso” como a premissa promete. Acontece que o filme não é tão didático e não
se preocupa em explicar o que aconteceu com a Terra, como surgiram essas
criaturas, nem nada assim… mas o que encanta é a sua originalidade e, especialmente,
a competência para colocá-la em prática. Indo na contramão dos filmes de terror
repletos de sustos e gritos, ele trabalha com uma boa parcela de silêncio nos
tensionando, o tempo inteiro. E uma
coisa que muito me chama a atenção, também, é que além de ser um brilhante
suspense/terror, o filme ainda desenvolve os
personagens, faz com que nos importemos com ele, e é uma belíssima e
dolorosa história familiar também.
Tudo muito bem produzido, escrito,
interpretado.
Um filme INCRÍVEL.
Um filme realmente muito original, além de me deixar por 90 minutos sem fôlego, também me fez chorar na cena em que Lee se sacrifica por Regan... aquilo me levou às lágrimas. Jamais imaginei que um filme de terror pudesse me fazer chorar. Incrível! Realmente já é um clássico da atualidade.
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