Vale o Piloto? – Lost in Space 1x01 – Impact



“This is Will Robinson of the 24th Colonist Group”
Eu amei absolutamente TUDO no primeiro episódio de “Lost in Space”. Com cara de filme (tanto a fotografia quanto o roteiro), a nova série do Netflix, adaptação da série dos anos 1960, traz o gênero de ficção científica a 2018, modernizado, mas mantendo o espírito das produções do gênero nas décadas de 1960 a 1980, e isso é apaixonante. Acompanhamos enquanto a Família Robinson joga cartas na Júpiter 2, pouco antes de um acidente derrubá-los em um planeta desconhecido sem esperanças de fuga, a não ser aguardar por um resgate. Assim, “perdidos no espaço”, eles precisam enfrentar uma variedade de adversidades já num primeiro momento, e o episódio é inteligente ao trazer todo um clima de suspense em sequências eletrizantes que compõem a estreia de pouco mais de 1 hora. Já estamos vidrados, só loucos para voltar por mais.
Talvez seja com certa surpresa que recebamos esse estilo de narrativa em “Lost in Space”. Podemos estar aguardando uma narrativa mais leve, repleta de “aventuras”, quando na verdade temos um caso de exploração e sobrevivência muito sério que nos deixa apreensivos enquanto assistimos ao episódio. Para começar, estamos em um planeta gelado em que a temperatura deve cair para 50 graus negativos assim que o sol se pôr, dentro de algumas horas, e outros problemas acompanham a família: a mãe que está com a perna quebrada, portanto não pode se locomover para longe, e Judy, a irmã mais velha de Will Robinson que se joga na água em busca de suprimentos na nave submersa para impedir que o irmão entre, e é uma corrida contra o tempo que a garota perde, e acaba congelada a meio caminho da superfície, e é um desespero e tanto.
A cena é visualmente encantadora. Desesperadora, naturalmente, mas os efeitos são brilhantes, e naquele momento eu sabia que ADORARIA a série, como o restante do episódio seguiu me mostrando. É toda uma questão de sobrevivência, com uma das filhas cuidando da mãe e de sua perna, enquanto o pai tenta escavar, sem muito sucesso, para resgatar a filha que ficou presa no gelo, e é Will Robinson quem tem a ideia que pode salvar a sua vida: buscar magnésio, cujo efeito de fogo é intensificado em contato com o gelo, então eles podem salvar Judy assim. Eu achei um máximo como ele foi esse agente salvador da irmã, especialmente porque os flashbacks nos mostram sua dificuldade em agir em momentos de grande estresse, e ele sente que não devia estar nessa missão, mas se não fosse por ele a sua irmã nunca teria sido salva.
E não me refiro apenas ao magnésio.
Parece-me que as cenas de Judy congelada são as mais desesperadoras. Ela tem horas de oxigênio restante no traje, e a conversa dela com a irmã, pedindo que ela leia “Moby Dick” para ela, é de partir o coração, especialmente por causa da atuação brilhante de ambas, que intensificam o desespero e o sofrimento da situação alarmante. Em outra cena desesperadora, Judy, mesmo sem poder ver, guia a irmã por uma cirurgia na perna da mãe, salvando-a assim, mas é totalmente angustiante de se ver ou mesmo de se imaginar! A cena depois, quando a mãe acorda, é muito bonita, e ela fala que o que lhe importa são os seus três filhos… a relação com o marido é explorada em flashbacks que nos mostram que a família estava dividida antes de partir para o espaço, e eles estavam mesmo beirando um divórcio, até que as coisas mudem e eles se unam no 24º Grupo de Colonos.
Ainda não chegamos até essa decisão, mas os flashbacks são bem colocados ao longo do episódio. No primeiro deles, vemos o pai voltando para casa no Natal, em uma cena bonita, mas essa cena não se repete nos anos seguintes e é evidente como a família está se afastando, embora entre as crianças a relação seja sempre muito bonita: “The Robinsons stick together”. Então, graças a um acordo que Maureen Robinson fez, Will é aprovado em todos os testes no sistema, embora não tivesse a autorização real para ir ao espaço com a família, mas eles não vão deixá-lo para trás – então ela liga para o marido pedindo que ele assine a autorização para que os filhos possam viajar com ela (“You wanna take my kids away from me?”), e embora o casamento estivesse já desfeito, o que entendemos é que John resolveu fazer parte do grupo de colonização pelos filhos.
Isso deve ainda gerar uma boa dinâmica lá no espaço!
Dá para ver a maneira como John se preocupa com os filhos, embora ele ainda não seja um personagem carismático. Mas na cena com Will, em busca de magnésio, ele tem uma boa dinâmica, e eu adoro como Will Robinson é quem tem as ideias, e me parte o coração vê-lo preocupado com a irmã, achando que a culpa é dele por ela estar congelada, afinal era ele quem devia ter descido até a escotilha pela qual apenas ele conseguiria passar. Se ele tivesse feito isso, teria voltado à superfície mais rápido e teria se salvado da água congelada. De todo modo, o pai diz que a culpa não é dele, e quando eles estão prestes a retornar para salvar a vida de Judy, um novo inconveniente atrasa mais a missão quando Will cai de uma espécie de penhasco interno que o leva a um lugar totalmente novo em que ele fica sozinho por algumas horas, enquanto John volta para salvar Judy.
Ali embaixo, algumas das melhores cenas do episódio. A fotografia, como eu já disse, é LINDÍSSIMA. Cenários perfeitos enquanto Will explora um novo lugar repleto de vegetação verde e colorida, nova vida e novas possibilidades. Fiquei com um pouco de inveja de Will Robinson, porque esse é o meu sonho (visitar outros planetas, descobrir lugares como esse!), e cada lugar é uma nova descoberta. Will caminha, com um pouco menos de receio, descobrindo uma nave destruída e então, pela primeira vez, VIDA ALIENÍGENA. Os passageiros da nave destruída são mecânicos, e não orgânicos, embora aparentem ter inteligência, e é muito bonito como Will começa a interagir com essa vida alienígena, embora a sua primeira reação tenha sido a de correr… ali, os dois igualmente alienígenas em um planeta desconhecido, presenciam uma vida do planeta…
E é de arrepiar.
Will Robinson é muito mais importante do que ele imagina. Ele não foi aprovado para estar no espaço, mas alterar os exames foi o que Maureen fez de melhor, porque nada do que está acontecendo seria possível sem ele. Não só ele teve a ideia de usar magnésio para salvar a irmã, mas ele interagiu com essa vida alienígena que será tão importante para a sua futura sobrevivência. Como um humano BOM e de coração puro, ele se aproxima, ele conversa, e ele se importa de verdade com o “robô”. Tanto que quando a floresta pega fogo (e é desesperador ver o Will chorando e chamando pelo pai, porque não há mais nada que ele possa fazer), o robô volta para salvar a sua vida, e é uma cena lindíssima quando ele pega Will nos braços e rapidamente o tira do meio das chamas e da morte certa. E tudo porque Will Robinson não teve medo do que era diferente.
ISSO mostra que muito mais que conhecimento e poder, o que importa de verdade é a humanidade, o coração puro, a tolerância. Ele não rejeitou o robô como todos estão predispostos a fazer. Ele o abraçou como um amigo e isso é importante porque o magnésio não é mais o suficiente para salvar a vida de Judy. Poderia ser, mas uma inesperada chuva abaixa drasticamente a temperatura, fazendo com que o pouco gelo descongelado para salvá-la volte a se tornar rígido. O desespero é palpável e compreensível, então Will volta para junto da família com o seu novo amigo: “It’s okay. He’s… he’s with me”. Só por Will ter feito amizade com o diferente é que eles têm uma forma de salvar a vida da irmã, e eu acho que isso, por si só, já é uma mensagem e tanto, não? É emocionante ver o robô salvando Judy, e ver os olhinhos de Will Robinson brilhando de lágrimas e emoção.
Agora o robô pode, também, proteger toda a família do frio.
Já estava pensando no quanto o episódio era PERFEITO, e com um roteiro fechadinho e inteligente de um filme completo, e então o cliffhanger nos deixa curiosos por MAIS. Aqui, quando retornamos apenas 12 horas, antes mesmo que os Robinsons saíssem na Júpiter 2, vemos um ataque na Resolute que colocou todos em estado de emergência, e era um ataque brutal empreendido justamente pela mesma raça de robôs que agora salvou os Robinsons e se tornou amigo de Will. Mas vale lembrar os tipos de humanos que temos, também, e alguns são bons, outros não. Eu acho que vai ser interessante entender essa dinâmica toda, sem contar os novos personagens que devem movimentar de verdade a vida dos Robinsons nesse novo planeta: a “Doutora Smith”, em uma nave roubada, junto com dois mecânicos igualmente duvidosos.
Essa série PROMETE.

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